sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Emiliano José disseca o triste papel da mídia na imposição do projeto neoliberal


O jornalista, escritor, professor de comunicação e agora deputado federal Emiliano José (PT) lança, no próximo dia 28 de janeiro, às 18h, na Livraria Cultura (Shopping Salvador), seu novo livro intitulado “Jornalismo de campanha e a Constituição de 1988”.

A obra é baseada em sua tese de doutorado defendida na Faculdade de Comunicação da UFBA. O autor pesquisou o discurso da mídia por dez anos – 1988 a 1998 – e descreve criticamente como a imprensa mergulhou de cabeça na desconstrução da Constituição de 1988 e na implantação do projeto neoliberal no Brasil.

O “jornalismo de campanha” criticado por Emiliano José começa na Era Collor, assume a ideologia neoliberal, faz lobby por reformas antissociais, demoniza as empresas estatais, santifica as privatizações, constrói um contexto-catástrofe, defende o desmantelamento da Previdência, a extinção de direitos trabalhistas, o enterro do nacional-desenvolvimentismo, o primado do deus-mercado, o estado mínimo – a tal ponto que prevalece o pensamento único, inclusive com perversão da linguagem: antirreforma passa a ser reforma, privatizar é modernizar, estatizar é atraso, demitir é enxugar, Previdência é “terrível monstro”.
“Jornalismo de campanha e a Constituição de 1988”, editado pela Edufba em parceria com a Assembleia Legislativa da Bahia, tem prefácio do professor doutor Albino Rubim. Segundo ele, “Emiliano resgata criticamente a atuação perversa da imprensa, como agente de primeira hora e linha, no embate que fez prevalecer a ideologia neoliberal do Brasil, tomada como ideário imprescindível para a modernização e inserção do país no novo mundo globalizado”.

LIGAÇÕES PERIGOSAS
A obra de Emiliano José guarda total coerência com outro estudo anterior, publicado em 1996 e fruto de sua tese de Mestrado, com o título “Imprensa e Poder – Ligações perigosas”, em que analisa a CPI do PC Farias, do Collor e do Orçamento.

Neste mesmo dia (28), Emiliano José lança também a 2ª edição de “Imprensa e Poder”. Nesta obra ele critica a complacência do jornalismo brasileiro e celebra o episódio de jornalismo investigativo que redundou no impeachment de Collor, com depoimentos de protagonistas como Clóvis Rossi, Bob Fernandes, Gilberto Dimenstein e do jornalista e marqueteiro João Santana.

Com relação ao jornalismo Emiliano José é pessimista: “Não carrego ilusões (…) estamos em tempos de monopólio (…) na era dos Murdoch, Marinho, Berlusconi. São eles que dão o tom”. Isso dito em 1995. Agora, em 2011, ele reafirma: “A imprensa tem escolhas, tem lado, programa político. Apoiou FHC e combateu Lula. As oligarquias midiáticas não aceitam redistribuição de renda”.

Sem perder a esperança, Emiliano mantém a expectativa de mudanças no jornalismo, “que deve ter a ética do cidadão, não mentir, não inventar, não produzir matérias à base do “teste de hipóteses”.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ministra Maria do Rosário quer aprovar a Comissão da Verdade

Rachel Duarte, publicado no Sul 21

A deputada federal gaúcha Maria do Rosário tomou posse como ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), nesta segunda-feira (3). Ela recebeu o cargo do ministro Paulo Vannuchi, em cerimônia realizada na sede da SDH, em Brasília (DF). As palavras de ordem da ministra são “integração” e “diálogo”.
Na presença de ministros, deputados e funcionários, Maria do Rosário fez um discurso emocionado, de cerca de 40 minutos, em que registrou a importância do governo Lula e da eleição de Dilma Rousseff para a consolidação da democracia brasileira.
Maria do Rosário pediu união para superar os desafios, reafirmou a importância da implementação da terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos e falou detidamente sobre cada segmento de responsabilidade da SDH, como Crianças e Adolescentes; Pessoas com Deficiência; Direitos dos Idosos e de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros; Direito à Memória e à Verdade; e Combate à Tortura.
“O mais importante é que estejamos unidos, governo, sociedade e movimentos sociais. Não vamos descansar enquanto não assegurarmos os Direitos Humanos para todos os brasileiros e brasileiras”, afirmou a ministra.
O ministro Paulo Vannuchi deixou o cargo após cinco anos à frente da SDH. Vannuchi sublinhou os avanços conquistados na área dos Direitos Humanos desde o governo Fernando Henrique Cardoso e reforçou a confiança na ministra Maria do Rosário. “Quero agradecer à minha equipe e ressaltar a confiança na equipe que chega para superar o que foi feito até agora. Porque é assim na caminhada democrática”, disse Vannuchi.
No final da tarde, a ministra conversou com o Sul21 e defendeu um trabalho integrado com as áreas da Defesa e Justiça, além de salientar a luta incansável que pretende desenvolver nos próximos anos pela garantia dos direitos humanos para a maioria dos brasileiros.

Sul21 – Como a senhora pretende trabalhar para que, neste novo governo do PT, não haja o embate que teve no governo Lula entre as áreas da Defesa e dos Direitos Humanos?
Maria do Rosário (MR)
- Tenho conversado com os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, e partiremos de uma visão integrada. Será um trabalho plural para dar conta dos temas variados que envolvem os Direitos Humanos. O ministro Vannuchi criou uma base para um sistema nacional nesta área, que precisa ser uma cultura dentro da sociedade. Ele contribuiu para isso com a criação da própria Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que não existia.

Sul21 – Qual a diferença prática na gestão em ter uma Secretaria com status de ministério?
MR
– Dá mais autonomia para definição das políticas públicas. É uma área de primeiro escalão, ou seja, participa das instâncias de discussão e decisão junto aos demais ministérios. Há diferenças significativas no trabalho, desde a questão de possibilidades orçamentárias até a responsabilidade com políticas transversais. Na área dos Direitos Humanos, trabalhamos em diversos setores, com crianças e adolescentes, população de rua e idosa, combate ao trabalho escravo e até com pessoas com sofrimento psíquico.

Sul21 – A senhora fez um apelo ao Congresso para aprovar a formação da Comissão da Verdade, que deverá divulgar relatórios anuais com a apuração e o esclarecimento público das violações de direitos humanos praticadas durante o regime militar (1964-1985)?
MR
- Sim este é um tema que já vem sendo discutido há tempo e já falei com o Jobim (Defesa) e o Cardozo (Justiça) sobre isso. Meu argumento vem ao encontro do que disse a presidenta Dilma Rousseff no seu discurso: “não se trata de revanchismo”. Estamos movidos pelo entendimento e até pelo reconhecimento de que hoje no Brasil, no Estado brasileiro, não há qualquer instituição contra a democracia. As Forças Armadas são parte da consolidação democrática deste Brasil e nas Forças Armadas há o desejo de trabalharmos de forma conjunta neste processo de consolidação da democracia.

Sul21 – De que modo as Forças Armadas vem contribuindo, como a senhora disse em seu discurso de posse, e pode vir a contribuir com a consolidação do processo democrático?
MR
– Este é um processo que já está em curso. Nós devemos atuar reconhecendo o papel das Forças Armadas para a conquista da soberania nacional. É uma constituição que garante a tranquilidade. Hoje, no governo, não temos qualquer contradição entre setores dos Direitos Humanos e das Forças Armadas. Somos parte de um mesmo projeto nacional de democracia. As Forças Armadas contribuem para a consolidação do processo democrático.

Sul21 – Como está o seu cronograma de trabalho à frente do ministério? Fará algum anúncio de prioridades nos próximos dias?
MR
- Nesta semana iniciarei um diagnóstico de prioridades e um planejamento estratégico que deverá durar o mês de janeiro e projetará o trabalho nos primeiros anos de governo. A primeira medida pontual será reunir todas as instâncias colegiadas, como os conselhos de Direitos da Pessoa Humana, dos Direitos da Criança e do Adolescente, da Pessoa com Deficiência, da Pessoa Idosa e a Comissão de Combate ao Trabalho Escravo. No restante, precisamos primeiro nos organizar para depois fazer qualquer anúncio.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Crise Neoliberal e sofrimento humano

Relançou-se a frase de 1968 que rezava: “metrô, trabalho, cama”, atualizando-a agora como “metrô, trabalho, túmulo”. Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração capitalista
*Leonardo Boff

Reproduzido do Fato Expresso

O balanço que faço de 2010 vai ser diferente. Enfatizo um dado pouco referido nas análises: o imenso sofrimento humano, a desestruturação subjetiva especialmente dos assalariados, devido à reorganização econômico-financeira mundial.

Há muito que se operou a “grande transformação” (Polaniy), colocando a economia como o eixo articulador de toda a vida social, subordinando a política e anulando a ética. Quando a economia entra em crise, como sucede atualmente, tudo é sacrificado para salvá-la. Penaliza-se toda a sociedade como na Grécia, na Irlanda, em Portugal, na Espanha e mesmo dos USA em nome do saneamento da economia. O que deveria ser meio transforma-se num fim em si mesmo.

Colocado em situação de crise, o sistema neoliberal tende a radicalizar sua lógica e a explorar mais ainda a força de trabalho. Ao invés de mudar de rumo, faz mais do mesmo, colocando pesada cruz sobre as costas dos trabalhadores. Não se trata daquilo relativamente já estudado do “assédio moral”, vale dizer, das humilhações persistentes e prolongadas de trabalhadores e trabalhadoras para subordiná-los, amedrontá-los e, por fim, levá-los a deixar o trabalho. O sofrimento agora é mais generalizado e difuso afetando, ora mais ora menos, o conjunto dos países centrais. Trata-se de uma espécie de “mal-estar da globalização” em processo de erosão humanística.
Ele se expressa por grave depressão coletiva, destruição do horizonte da esperança, perda da alegria de viver, vontade de sumir do mapa e até, em muitos, de tirar a própria vida. Por causa da crise, as empresas e seus gestores levam a competitividade até a um limite extremo, estipulam metas quase inalcançáveis, infundindo nos trabalhadores, angústias, medo e, não raro, síndrome de pânico. Cobra-se tudo deles: entrega incondicional e plena disponibilidade, dilacerando sua subjetividade e destruindo as relações familiares. Estima-se que no Brasil cerca de 15 milhões de pessoas sofram este tipo de depressão, ligada às sobrecargas do trabalho.

A pesquisadora Margarida Barreto, médica especialista em saúde do trabalho, observou que no ano passado, numa pesquisa ouvindo 400 pessoas, que cerca de um quarto delas teve idéias suicidas por causa da excessiva cobrança no trabalho. Continua ela: “é preciso ver a tentativa de tirar a própria vida como uma grande denúncia às condições de trabalho impostas pelo neoliberalismo nas últimas décadas”.
Especialmente são afetados os bancários do setor financeiro, altamente especulativo e orientado para a maximalização dos lucros. Uma pesquisa de 2009 feita pelo professor Marcelo Augusto Finazzi Santos, da Universidade de Brasília, apurou que entre 1996 a 2005, a cada 20 dias, um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, excesso de tarefas e pavor do desemprego. Os gestores atuais mostram-se insensíveis ao sofrimento de seus funcionários, acrescentando-lhes ainda mais sofrimento.

A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de três mil pessoas suicidam-se diariamente, muitas delas por causa da abusiva pressão do trabalho. O Le Monde Diplomatique de novembro do corrente ano denunciou que entre os motivos das greves de outubro na França, se achava também o protesto contra o acelerado ritmo de trabalho imposto pelas fábricas causando nervosismo, irritabilidade e ansiedade. Relançou-se a frase de 1968 que rezava: “metrô, trabalho, cama”, atualizando-a agora como “metrô, trabalho, túmulo”. Quer dizer, doenças letais ou o suicídio como efeito da superexploração capitalista.
Nas análises que se fazem da atual crise, importa incorporar este dado perverso que é o oceano de sofrimento que está sendo imposto à população, sobretudo, aos pobres, no propósito de salvar o sistema econômico, controlado por poucas forças, extremamente fortes, mas desumanas e sem piedade. Uma razão a mais para superá-lo historicamente, além de condená-lo moralmente. Nessa direção caminha a consciência ética da humanidade, bem representada nas várias realizações do Fórum Social Mundial entre outras.
(*Leonardo Boff, Teólogo, filósofo e escritor – Autor de Proteger a Terra-Cuidar da vida: como evitar o fim do mundo, Record 2010)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

“É preciso furar o bloqueio da imprensa brasileira”

Frequentes ações judiciais contra blogueiros e a mídia alternativa nos fazem relfetir sobre os limites da liberdade de expressão na internet - paradoxalmente, um meio marcado pela diversidade de pensamento. O caso do professor Wladimyr Ungaretti, que está com o seu blog sobre restrição para a análise das matérias do Zero Hora, se somam a outros casos nos quatro cantos do País. O episódio do Falha de São Paulo é um dos mais recentes, e que tem gerado amplas manifestações de solidariedade. Confira abaixo.

(Por: Leticia Cruz, Rede Brasil Atual, reproduzido para o Fato Expresso)
Entenda todo o caso aqui.
Criador do Blog ‘Falha de S. Paulo’, censurado e processado pelo jornal Folha de S. Paulo diz que a liberdade de expressão está em jogo, no momento em que a grande imprensa tenta frear o crescimento da mídia alternativa

São Paulo – Um dos irmãos criadores do blog “Falha de S.Paulo”, Lino Bocchini, declarou em entrevista à Rede Brasil Atual que textos em cinco idiomas – inglês, francês, italiano, espanhol e alemão – estão sendo preparados para reforçar o conteúdo e chamar atenção da mídia internacional. “É preciso furar o bloqueio da imprensa brasileira”, afirmou, justificando a novidade que entra no ar próxima semana no site “Desculpe a Nossa Falha”.

Há pouco mais de dois meses, ele e o irmão, Mario Bocchini, foram processados pela Folha de S. Paulo por terem criado um blog satirizando o diário. Por decisão da Justiça, eles tiveram de retirar o conteúdo do ar e foram condenados a pagar indenização por uso indevido da marca. Bocchini acredita que a melhor resposta para o processo sofrido é mobilizar entidades e a imprensa do exterior. “Nossa única chance é divulgar o caso cada vez mais de forma a tentar criar um constrangimento para a Folha e perceberem que a maioria acha que não é uma ação correta”, declarou, citando que a causa tem o apoio de figuras públicas, como o cantor e ex-ministro Gilberto Gil e o apresentador Marcelo Tas.

O jornalista pontuou que conta fundamentalmente com o apoio da mídia alternativa para comover a opinião pública. “Por interesses instituicionais, a mídia convencional não dá atenção ao caso. Já trabalhei nestes locais e tenho vários amigos por lá e, ironicamente, comentam que isso está sendo muito discutido nas redações”, contou, agradecendo aos que divulgam a história.

Lino e seu irmão, Mario Bocchini, estão sendo convidados a participar de fóruns internacionais sobre liberdade de expressão na internet. Segundo ele, é uma preocupação que se estende a todos os que atuam na área. “Uma vez a Folha ganha o processo, é passada uma mensagem para outras empresas de que essa censura poderá ser aplicada também em outros casos, ou seja, abre-se um precedente grave.”

‘Falha de S.Paulo’ ganha nova versão

Fora do ar desde outubro, o gerador de manchetes do blog “Falha de S.Paulo” foi republicado em um domínio gratuito. O Falha.co.cc usa um serviço de registro gratuito, hospedado por um portal registrado nas Ilhas Coco, na América Central (ver em http://falha.co.cc/). Os criadores do “Falha de S.Paulo”, Lino e Mário Bocchini, em meio a um processo judicial movido pelo jornal Folha de S.Paulo por uso indevido de imagem, negam qualquer participação na nova versão.

Um outro blog (http://falhadespaulo.tumblr.com/), criado por outros usuários em solidariedade aos criadores do original, divulgou a nova versão da ferramenta. Um formulário permite que o usuário crie um título que é exibido como manchete de uma capa fictícia do jornal. Não há menção à autoria na página da nova versão do gerador.

“Nós tínhamos algo parecido, mas não temos nada com isso. Não sabemos quem criou. Há um monte de sites parecidos”, explicou Lino. Os autores da página original já apresentaram defesa no processo, alegando liberdade de expressão e repelindo a possibilidade de os internautas confundirem as publicações.
O gerador de manchetes foi criado pelo “Falha” para satirizar a cobertura promovida pelo jornal, considerada antigovernista e alinhada aos partidos de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A logomarca do site fazia uma variação da do jornal, motivo por que a empresa conseguiu liminar que retirava o conteúdo do ar. O jornal pede ainda indenização pelo que considera ser uso indevido de imagem.
Apesar de ter sido retirado do ar em 4 de outubro, outras versões do blog foram criadas por outras pessoas.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Terráqueos - quem são eles?

Uma outra dica de filme. Um documentário para uma profunda reflexão sobre o que fazemos com as outras espécies e o que isso tem a ver com as nossas relações, enquanto seres humanos. O filme está todo no youtube, em várias partes. Cenas fortes, quem acha que não pode ver muita dor, esqueça.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Cinco dias e noites de amor e de guerra

Cinco formas diferentes de falar sobre flores, em meio aos espinhos, sob um lirismo que vai muito além da estética da tragédia, do rótulo ou do bairrismo que é tendência nesse tipo de tema nos telões. Caca Diegues e Renata Almeida Magalhães conseguiram unir tudo isso nesse filme. Minha dica para o início de ano.