segunda-feira, 2 de novembro de 2015

PADRE JOÃO E A BRUXA DE GARUVA




Era década de 1940. Se chamava Filomena e, como a maioria das famílias do local, sobrevivia da roça. Vivia em Garuva, no interior do interior onde hoje é Sombrio, naquele tempo, distrito de Araranguá (SC).
Filomena gostava de ajudar as pessoas, e fazia isso benzendo gratuitamente quem precisasse. Em um lugar onde não havia médicos, diziam que suas benzeduras tinham efeito de cura, e por isso, era conhecida e respeitada pela maioria. Até mesmo pelo professor José Modesto, que não vacilou em levar seus filhos para Filomena quando estes precisaram.
Como não poderia deixar de ser em uma Comunidade pequena, certa ocasião, essa atuação de Filomena como benzedeira chegou aos ouvidos do Padre João. Foi durante a missa do padroeiro da vila.
A pequena capela de madeira estava lotada, com gente até pelo lado de fora. O padre, em um impulso purificador, lembrou que pessoas como Filomena eram queimadas vivas antigamente. Mas muitos dos seguidores de Filomena, para quem esta era querida, estavam presentes na ocasião. E o marido, que também estava lá, não se segurou: "O Sr. termina a missa que teremos uma conversinha depois".
O padre, como não era bobo, declarou, quase no final da missa: "Quem for a favor do Padre, me acompanhe na saída". Terminada a missa, foi aquela confusão. No lado de fora da igreja, uma turma de revoltados, parentes, amigos e benzidos por Filomena, com porrete e outras armas preparados para pegar o Padre. Mas este, com o apoio de alguns beatos e beatas, conseguiu sair quietinho no meio de seus apoiadores, e refugiar-se no salão.
Trancado, ali ficou até tudo acalmar, curtindo a mesa surtida para o seu almoço preparado dias antes. Foi o dia em que Padre João se salvou. Essa história é contada por Edelci Rosária Martins Botelho, católica fervorosa, mas também de família amiga de Filomena.