Era década de 1940. Se chamava Filomena e, como a maioria
das famílias do local, sobrevivia da roça. Vivia em Garuva, no interior do
interior onde hoje é Sombrio, naquele tempo, distrito de Araranguá (SC).
Filomena gostava de ajudar as pessoas, e fazia isso benzendo gratuitamente quem
precisasse. Em um lugar onde não havia médicos, diziam que suas benzeduras
tinham efeito de cura, e por isso, era conhecida e respeitada pela maioria. Até
mesmo pelo professor José Modesto, que não vacilou em levar seus filhos para
Filomena quando estes precisaram.
Como não poderia deixar de ser em uma
Comunidade pequena, certa ocasião, essa atuação de Filomena como benzedeira
chegou aos ouvidos do Padre João. Foi durante a missa do padroeiro da vila.
A
pequena capela de madeira estava lotada, com gente até pelo lado de fora. O
padre, em um impulso purificador, lembrou que pessoas como Filomena eram
queimadas vivas antigamente. Mas muitos dos seguidores de Filomena, para quem
esta era querida, estavam presentes na ocasião. E o marido, que também estava
lá, não se segurou: "O Sr. termina a missa que teremos uma conversinha
depois".
O padre, como não era bobo, declarou, quase no final da missa:
"Quem for a favor do Padre, me acompanhe na saída". Terminada a
missa, foi aquela confusão. No lado de fora da igreja, uma turma de revoltados,
parentes, amigos e benzidos por Filomena, com porrete e outras armas preparados
para pegar o Padre. Mas este, com o apoio de alguns beatos e beatas, conseguiu
sair quietinho no meio de seus apoiadores, e refugiar-se no salão.
Trancado,
ali ficou até tudo acalmar, curtindo a mesa surtida para o seu almoço preparado
dias antes. Foi o dia em que Padre João se salvou. Essa história é contada por
Edelci Rosária Martins Botelho, católica fervorosa, mas também de família amiga
de Filomena.