22 de abril
de 2017 às 17h54
Jeferson
Miola, no Facebook
Reproduzido de Viomundo
É difícil
aceitar a dolorosa realidade, mas o Brasil está, efetivamente, sob um regime
ditatorial.
O golpe de
2016 e o regime de exceção evoluíram para a ditadura jurídico-midiática da Rede
Globo com a Lava Jato e setores da PF, judiciário e STF.
Assim como
na ditadura instalada com o golpe de 1964, a engrenagem desta ditadura também
contou com a participação decisiva da Rede Globo.
O editorial
do jornal O Globo deste 22 de abril, por ironia o dia que marca 517 anos da
descoberta do Brasil pelos dominadores portugueses, revela a simbiose
estratégica entre a Globo e a força-tarefa da Lava Jato.
Ambos, a
serviço de interesses estrangeiros, adotam idêntica linguagem, empregam os
mesmos métodos, e partilham do mesmo ódio fascista aos seus inimigos.
No editorial
“Cerco de depoimentos confirma Lula como o chefe”, o Globo conclui existir
“estridente evidência de que Lula não poderia desconhecer aquilo tudo”.
No
dicionário do regime de exceção, “estridente evidência” é sinônimo de “não
temos provas, mas temos muita convicção”.
A imputação
da Globo – “Lula como o chefe” – é variante daquela acusação leviana,
apresentada no power-point do fanático procurador Deltan Dallagnol: “Lula é o
comandante máximo do esquema de corrupção”.
Num tom
inquisitorial, medieval, O Globo sentencia: “O desnudamento de Lula em carne e
osso, em praça pública, com os pecados da baixa política brasileira, parece
apenas começar”.
Por outra
ironia da história, esta frase dantesca foi escrita no dia seguinte ao feriado
nacional de 21 de abril, data em que se homenageia o revolucionário Tiradentes,
Joaquim José da Silva Xavier, líder da Inconfidência Mineira na luta de
libertação do Brasil da Coroa Portuguesa que em 21/4/1792 foi enforcado,
esquartejado e as partes do seu corpo expostas “em carne e osso, em praça
pública” — como preconiza a Globo — para desencorajar os revoltosos pela
liberdade e pela independência.
O sistema
político foi estrategicamente destroçado.
Os sem-voto
hoje deliberam sobre a política e os destinos do país, num contexto de
flagrante ilegitimidade e desordem institucional.
O Brasil
não se movimenta para nenhum lado antes de assistir, todas as noites, as
edições maniqueístas do Jornal Nacional – verdadeiras ogivas nucleares lançadas
para dizimar a imagem do maior líder popular do país.
O que seria
inconcebível numa democracia saudável é naturalizado no regime de exceção —
como, por exemplo, o vídeo dos obscurantistas procuradores Dalagnoll e Carlos
Fernando insuflando a população contra o Congresso para impedir a aprovação do
projeto de lei que pune o abuso de autoridade deles próprios, posto que se
consideram soberanos, acima das Leis e da Constituição.
O
Congresso, dominado por uma maioria de parlamentares corruptos e ilegítimos que
perpetrou o golpe de Estado com o impeachment fraudulento da Presidente Dilma,
promove a destruição dos direitos econômicos e sociais e entrega a soberania
nacional esperando, em troca, ser retribuído pela ditadura jurídico-midiática.
Os
empreiteiros já condenados na Lava Jato agora mudam o conteúdo dos depoimentos
prestados no início da Operação e passam a fabricar mentiras [como a invenção
de que Lula teria mandado destruir provas] para que o justiceiro Sérgio Moro
consiga inventar, na audiência judicial de 3 de maio, um crime que caiba no
Lula.
A prisão
dos empreiteiros é usada como barganha e moeda de troca para fazer com que
estes mesmos grupos capitalistas que corrompem o sistema político há décadas,
ajudem a ditadura Globo-Lava Jato na missão doentia de liquidar Lula e o PT.
Em novembro
de 2016, o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, mentiu e prestou
falso testemunho no TSE com o objetivo de dar causa à cassação do registro do
PT pelo tribunal presidido pelo tucano Gilmar Mendes, no que foi desmascarado
pelas provas apresentadas pela defesa da Dilma.
Apesar do
dolo comprovado, o safado empresário ficou impune, não foi punido.
A mudança
das delações da Odebrecht e da OAS, forçada para incriminar o ex-presidente
Lula, é um atentado ao Estado de Direito e à democracia.
Esta
prática corrente, de arbítrio da Lava Jato, só é possível porque a Operação foi
concebida como um organismo monolítico dos militantes tucanos incrustrados na
PF, no MP e no judiciário — todos eles [delegados da PF, procuradores e
juízes], sem exceção, com manifestações odiosas nas redes sociais — anti-PT, anti-Lula
e pró-PSDB.
Não existe
na força-tarefa um único funcionário público com perspectiva jurídica
dissonante, o que asseguraria equilíbrio, isenção e imparcialidade da Lava
Jato.
O controle
ideológico da Operação por aqueles agentes partidarizados é absoluto; e, por
isso, a Lava Jato se converteu neste campo livre e desimpedido para o arbítrio
que se conhece.
A Lava Jato
se afastou definitivamente do escopo investigativo e criminal e adentrou no
território perigoso do nazi-fascismo; naquilo que Hannah Arendt conceituou como
“a banalidade do mal” — um ambiente institucional propício às escolhas
autoritárias, ditatoriais, fascistas.
A situação
do Brasil no pós-golpe se encaminha para um regime ditatorial de novo tipo,
diferente dos regimes ditatoriais do passado. A ditadura de hoje não é
civil-militar; porque é jurídico-midiática.
O padrão da
resistência democrática, por isso, tem de mudar, não pode seguir o mesmo curso.
A Lava Jato
espezinhou totalmente o sistema político [a sobrevivência do Temer e da
cleptocracia golpista se deve a isso]; a Operação vergou a resistência do
grande capital, que é uma espécie de Estado paralelo dentro do Estado de
Direito, fazendo com que os grandes capitalistas se insurjam
[contraditoriamente] contra Lula, o governante que mais expandiu o capitalismo
brasileiro.
Agora, com
a ditadura jurídico-midiática, a Globo e a Lava Jato assumem a dominância
absoluta do projeto transnacional de dominação anti-popular e anti-nacional.
A luta em
defesa da Constituição e pela restauração do Estado de Direito no Brasil tem de
subir de patamar — a desobediência civil é um direito humano inalienável; um
direito legítimo e uma forma de luta eficiente contra as ameaças totalitárias e
contra as formas de dominação baseadas na tirania e na opressão