segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Veneno em campo, safra impedida


Sebastião Pinheiro*

Um dia na comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul apareceu um professor da Universidade Estadual de Londrina com seu titulo de doutor e disse a maior asneira que eu ouvi na minha vida. Que o 2,4-D (Ácido Diclorofenoxiacético) era uma hormona natural. Obviamente que tomou uma boa mijada minha, mas um outro com mestrado contrapôs que a palestra do mesmo era muito boa excelente e que concordava que era um produto natural.

Isso era na década de noventa. O pilantra eu já havia chamado de corrupto em uma reunião do Grupo Estadual de Defensivos Agrícolas - GEDA, onde ambos éramos membros. O tempo passa e agente envelhece, mas não fica desatualizado, pelo convívio com o povo.

Ontem tomei conhecimento que os vinhedos do Galvão Buenos foram atingidos por 2,4 -D lançado para matar ervas mutantes resistentes à herbicida Glyphosate, (Glifosato). Fui estudar os velhos livros alemães.


A notícia triste para o grande investidor em vinhedos e vinhos é que a qualidade de seus vinhos produzidos a partir das safras futuras, mesmo sem a aplicação daquele herbicida tóxico, jamais serão da mesma qualidade anterior à intoxicação.

Houve uma alteração no metabolismo das plantas e agora a síntese da rota metabólica do tanino que engloba aldeídos e ácidos cafeico, cinâmico, ferúlico, clorogenico, gálico e uma dezena de outros, além de importantes substâncias fitoalexinas, citosinas, responsáveis pelo sistema imunológico das plantas ficará tolhido de funcionar e a qualidade do vinho ficará péssima, pois as sínteses dos taninos não chegarão ao ponto de equilíbrio e oxidação que a variedade produz e os microganismos requerem.


Este é um dos problemas sérios por razões

climáticas no Vale do São Francisco e São Paulo. No Trierer UntersuchungsAmt nos anos 80 havia um Aminosaüreanalizer, que dava a qualidade e quantidade de cada um dos aminoácidos presentes e garantia a qualidade da fermentação dos taninos e do produto final.

Eu ousaria recomendar que o nobre e respeitável jornalista recorresse aos alemães, pois seus laboratórios assustam até mesmo os melhores especialistas para uma avaliação do que estou dizendo, pois ele vai precisar, para manter a qualidade dos seus vinhos, de substituir totalmente seus vinhedos por espécies novas, a partir de uma desintoxicação do solo com carvão vegetal e tratamento com caldos microbiológicos especiais (a base de paú), como os que estão sendo feito pelos técnicos agrícolas da ASPROC, Valdayr e Coquinho com os indígenas Apurinãs em Lábrea ao largo do médio Purus e nas agroflorestas ao longo do Juruá águas acima de Carauari.

Uma indenização pela saúde desses vinhedo é algo de valor inimaginável. Como o refrão do nobre Galvão durante suas narrações: Pode isso, Arnaldo?. Desafio os professores de metagenômica, metaproteômica, bonômica e especialistas em transcriptase a dizer que estou errado.

Não foi necessário abordar a contaminação em femtogramos por Dioxinas e Furanos clorados que somados são mais de 200, nem ressaltar que o 2,4-D se sinegiza com resíduos de Glyphosate (Roundup - Glifosato) usado sob o parrreiral inibindo a síntese do ácido shikimico e toda a produção de aminoácidos aromáticos que dão qualidade extra ao corpo do vinho.

É por isso que com tristeza não posso desejar a ninguém um feliz ano novo, pois não há como brindar, nem com água.


Peço desculpa aos ingênuos, esperançosos com o novo ano.

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*Engenheiro Agrônomo e Florestal, ambientalista e escritor

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Da universidade aos "Prostíbulos de serviço completo"

Sebastião Pinheiro

O intempestivo posfácio ao livro "Genes Alterados, Verdade Adulterada" respeita o autor e grupo de assessores, mas posfácio significa agregado, explicação ou aviso colocado no final de um livro, então é bem mais do que seu epílogo, tem intenção explícita, implícita ou diversionista, pois nos dias atuais que programas de computador modificam comportamentos e fazem Julius Streicher do Völkischer Beobachten parecer um bebê, é necessária as atitudes de lucidez ou loucura.

Ações de inteligência induzem uma dissertação, tese, parecer que têm objetivos que os autores nem mesmo desconfiam. Este é o fulcro das denúncias do yankee Snowden, exilado em Moscou. O livro explicita o que estava oculto no uso mafioso dos aparelhos estatais, em uma "análise conjuntural da entrega aos menos ingênuos", do que aconteceu com a nova tecnologia dos transgênicos em um prazo de mais de três décadas e agora precisa ser conjurado, porque a missão foi cumprida e com ela o agronegócio da Argentina, Brasil e todos os outros equilibraram e prolongaram a agonia da decadência norte-americana. 

Geógrafos e Sociólogos e economistas ignoram os sequestros das agriculturas (ultrassocialidade, território, questão agrária e espiritualidade). E atenção que também as políticas nacionais estão sendo subordinadas como violências estruturadas no autoritarismo.


Isto não é novo e pode ser visto no patenteamento do tabaco Y2 (com alto índice de nicotina para viciar mais o usuário) na Embaixada Brasileira em Washington e o embaixador posteriormente ser guindado ao cargo de Ministro da Economia.

Na América Britânica não ha casualidades, sin causalidades. Na APTA (Agrishow) em Ribeirão Preto foi o primeiro local clandestino onde foi plantada a soja transgênica Roundup Ready. Embora a CTNBIO fosse um mero cartório de consagração de interesses das empresas.



A análise é diferente da leitura. Ler um livro, em qualquer circunstância, é enriquecedor e traz satisfação. As análises têm outros objetivos. No final da segunda leitura, senti-me como você, porque também fiquei impressionado com suas denúncias extraídas de documentos oficiais dos EUA.

Execução ilegal, imoral e criminal contra a FDA, a EPA e outros aparelhos estatais dessa federação. Ali o Estado tem poder, mas a justiça está subordinada muito mais ao mercado, do que a interesses pessoais, diferente da "republiquetas" de bananas, couros e pigmento de P. echinata. 

Pelo que merece uma análise profunda: em 1988 recebi uma cópia eletrostática do livro "Além da Revolução Verde do holandês Henk Hobbelink ativista na Espanha, por que será que o publicou no país ibérico e não em sua terra natal? Sua primeira tradução foi para o português, onde sua edição foi de 20 mil livros quase todos distribuídos gratuitamente.


No Brasil, em uma universidade do nordeste, um doutorando em biotecnologia disse:

- Foi o melhor livro que li em meu doutorado; em uma universidade do Sul, na virada do século, algumas colocações do livro fizeram com que um jovem doutora em biotecnologia retornada recentemente da Basiléia, em lágrimas me dissesse: “Você está destruindo meu sonho”.


Ela sabia como fazer, mas não sabia o que estava fazendo (Paul. Virilio, em “Guerra Pura”). Nietzsche explica como é triste perder a inocência. Ao ver os descalabros em 2001 escrevemos o livro "Transgênicos: O fim do Gênesis", com a segunda edição pelo pelo CREA/RJ em 2003, registrando todos os ultrajes que ocorreram no Brasil e nos vizinhos. 

Peço permissão para trazer elementos para discutir coisas que não podem ser tratadas como "faits accomplis", nem podemos aceitar que três presidentes dos EUA resolvam ignorar ou violar as leis em vigor nas estruturas mais eficientes e de qualidade do planeta, por mera vontade autoritária que não tem apoio diante da sociedade. A questão era tão grave que o Conselho de Relações Exteriores (CFR) e os banqueiros gringos exigiram, eles que não são afetados por improvisações, onde tudo é planejado e meticulosamente proposto.


Quais ou quais os objetivos do livro, tendo em vista o fato consumado: Atenuar ou prevenir futuras reações e impactos retomando a moral do Estado? 

O que acontece é que no mundo das opiniões construídas através de algoritmos e inteligência militar financeira é necessário dissecar. O ditado espanhol é rude, mas tem significado total: «Para outro cão com esse osso». Procura ir além do conteúdo do livro.


A situação hoje é tão complexa que muitas vezes as universidades são conectadas e/ou contratadas para atividades sem saber que ela opera os interesses de inteligência do complexo industrial militar e financeiro. Como disse um grande cientista: “São prostíbulos de serviços completos”.

Trazer isso para a frente do espelho é capacitar o cidadão removendo-o da alienação e comodidade diante de um governo que é forçado a fazer coisas que nós, o povo, não imaginamos que poderiam existir.

Na Sociedade Moderna, principalmente nos Estados de Bem-Estar Social, é muito difícil contradizer o governo, já que o poder faz a lei para todos os seus cidadãos, mas atinge esses bens através do sacrifício dos internos e dos periféricos dominados, onde há império, vale a máxima de Mussolini: "Il Duce ha sempre ragioni"; o que em Platão procuramos: «Sicut bonum ordinis statum», ou «o ser ideal do Estado e não o estado ideal do Ser». 

É lembrado em 1957, quando a cachorrinha Laika dentro de uma cápsula em órbita da Terra acordou o mundo com seus latidos. Foi um desespero nos EUA, pois começou a ideológica corrida espacial e, em seguida, Gagarin cristalizou a disputa, que transformou o prisioneiro de guerra nazista Werner von Braun em herói nacional ao chegar à lua.

O relatório da CIA no final do governo Carter (1976-79) relatando que na China havia quase 1 milhão de hectares de tabaco transgênico em cultivo. Os EUA foram novamente surpreendidos em disputa (corrida biotecnológica) sem o material humano anterior ou folego na economia, atenção que houve filmes de TV que trouxeram cenas sobre isso. 

As grandes corporações, através do CFR exigiram dos governos Reagan & Bush (1980-91) a «Luz Verde» para a retomada do primado. “Luz verde” significa desregulamentação Global a partir da FDA, a EPA e todo e qualquer aparato estatal nos EUA e também em todo o Império. O que continuou em quatro mandatos dos democratas de Clinton e Obama com a mesma intensidade. 

No entanto, cometeram um erro grave: não prepararam o programa e algoritmo para que os meios de comunicação parassem os movimentos sociais na periferia, onde não existiam leis de Estado de Bem Estar e as minorias, indígenas ou mestiças, que eram a maiorias netas das populações estavam reordenando o fim do Estado caricato através de sua assunção ao governo, jamais ao poder.

E eles deixaram nas mãos da Monsanto a força do conluio com os governos submetidos. Houve um momento na Rodada Uruguai na consolidação da Organização Mundial do Comércio, onde todos os membros da delegação dos EUA eram do staff daquela empresa.

Não estranho que o livro não traga uma palavra sobre os crimes contra a biodiversidade mexicana pela contaminação criminosa do milho em seu berço evolutivo; nem quanto a borboleta monarca, o que levou ao Dr. Ignacio Chapela, professor de Berkeley, a lutar com veemência contra sua renúncia no país por corruptas pressões de inteligência. 




O livro não traz nenhuma referência ao Starlink presente em 5 milhões de pacotes de tacos em Los Angeles, nem sobre a borboleta monarca. Mas, o mais estranho não é registrar o crime mais hediondo contra a saúde pública mundial, relatado no livro sobre a importação de mosquitos contaminados com o vírus Zika da Indonésia, contrabandeado para o Brasil e lançado no governo (Dilma) através da Oxitec. (Bill Gates) para produzir mosquitos machos estéreis para prevenir a fecundação de fêmeas de Aedes e controlar a dengue que há muito é endêmica no país, embora tenha sido erradicada no inicio do Século XX, com menores recursos e tecnologia. 

Mas a tecnologia serve ao mercado e não à Sociedade nas republiquetas de bananas, couros e pigmentos vegetais.. 

No Brasil, a Oxitec do Brasil nada mais é do que um grupo de professores universitários paulistas trocando favores por migalhas do grande financista da Microsoft. Eles crêem que isso é ciência. 

Esta é a origem do Zika, um vírus já patenteado em 1948 pela Fundação Rockefeller. Mais de 1500 crianças nasceram com microcefalia, porque as larvas foram criadas com ração de coelho, com resíduo autorizado de tetraciclina que liberou a fertilidade dos mosquitos e propagação da nova epidemia, que rapidamente desapareceu.


O leitor não imagina que um trabalho científico internacional foi indexado, mas não diz qual foi o país e oculta a marca da ração usada no mesmo dentro do enfoque do Green Light. Ao longo do livro é citada a alemã Ricarda Steinbrecher, mas não há referência ao escândalo que ela evitou na Malásia e Panamá, mas aconteceu no Brasil. 

Na sede do império, agora é necessário limpar a casa, por isso é necessário formatar a ação de inteligência do CFR, pois o mundo está pronto para a eugenia comercial, sem traumas e o agronegócio tem alimentos ecológico-agrecológicos caros pelos serviços das economias internacionais para as elites comerciais e a indústria alimentícia tem as commodities transgênicas que a periferia precisa, sem risco de perder a corrida para os chineses, que plantaram primeiro o tabaco transgênico em mais de 2,1 milhões de hectares, embora em laboratório o primeiro criado foi nos EUA. 

A estratégia (luz verde) de inteligência do CFR alcançou seus objetivos ocultos, agora é necessário outra cortina de fumaça para a restauração no caos e aceitação por todos. 

Na América Latina, se com os governos autoproclamados populares, que levantaram a bandeira contra os OGMs por meio de sua militância leiga e jogo para a plateia, os telefonemas de Clinton e as quantias de propinas destruíram a resistência dos movimentos sociais autênticos.

Imagine a onda fascista conservadora que agora destrói a periferia do mundo à medida que a nova ordem seja implantada. 

O maior trabalho da inteligência é fazer com que pessoas, grupos de pessoas, instituições façam o que lhes interessa sem perceber o que estão fazendo.

Na solenidade de formatura dos biotecnólogos da UFRGS algo interessante aconteceu: O palestrante da turma pediu ao público presente que levantassem aqueles que trabalham com ciência. Levantaram umas duas dúzias em 4 mil presentes. Mas todos 40 colegas formandos saltaram instantaneamente. Pobres jovens em uma confusão gigantesca, porque foram preparados pela Inteligência para acreditar que fazem ciência, quando são meros tecnólogos. 

É o último dia do ano, dia de reflexão: “Holocausto”, “Massacre dos Mujiques, (Stálin)”; o massacre na Armênia. As cobaias humanas em Harbin, China; As explosões em Hiroshima e Nagasaki ou pulverização com Orange Agent; Uganda Burundi e o uso de Glifosato na secagem de alimentos ou a deriva do 2,4-D nos frutais. 

A diferença entre o "realismo fantástico" de Gárcia Márquez e a "engenhosidade literária da inteligência ianque" é que o primeiro transforma a realidade em fantasia, enquanto o segundo faz o inverso.

Erasmus de Rotterdam disse “A minha loucura é a sua razão”. Sem alienação ou medo, “a otro hueso con ese perro” no novo ano que chega.






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*Postfacio respetuoso al libro “Genes Alterados, Verdad Adulterada”.
**Engenheiro Agrônomo e Florestal, ambientalista e escritor.


domingo, 16 de dezembro de 2018

Pascuala y Fauna in fuego em Porto Alegre


Foto: Divulgação/Unimusica-UFRGS
O show de Pascuala y Fauna, realizado no Salão de Atos da U, niversidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs)na noite desta quinta-feira (13), já seria marcante pelas qualidades versáteis da vocalista e o estilo irreverente dessa banda chilena (....) mas o show conseguiu superar as expectativas pela força das circunstancias, isto é, da forma criativa e empática com que os músicos exploraram o ambiente  e interagiram com a platéia e no drible às formalidades,  convocando o público e superando obstáculos de linguagem e de tecnologia.

Já na abertura do show com os 1.200 lugares do amplo salão já quase lotados, Pascuala foi surpreendida pela falha do microfone, que prejudicaria o início de sua primeira música. Isso poderia ser o começo do fim de um concerto desse nível para qualquer vocalista de primeira viagem. Mas não foi o caso de Pascuala. Sem se avexar, acionou sua versatilidade artística e prosseguiu cantando e dançando, mesmo no silêncio do som. Avançou mais próximo dos limites do palco, encenando uns passos de dança. A recompensa veio com a resposta com palmas ritmadas, em uma sintonia que se estabeleceria uma parceria envolvente, que começaria a ruir as fronteiras invisíveis, geralmente rígidas, entre os artistas e seu público; segundos suficientes que a musicista precisava para a equipe técnica solucionar o problema.

Normalizado esse ruído inicial, seria o idioma como outra barreira comum ainda existente entre a maioria dos brasileiros e os outros povos latino-americanos. Seria - senão fosse a performance interativa do grupo e o ritmo informal e contagiante com que Pascuala se expressava, combinando dosadamente as melodia do acordeon, do teclado, da dança, sempre temperados com um castelhano simpático e diversos recursos cênicos - que, se não substituem, pelo menos compensam as limitações do domínio do espanhol pelos portoalegrenses presentes.

O mais impactante e ousada quebra de barreiras, que determinou de vez uma ligação energética entre a Pascuala e sua banda com os presentes, todavia, foi o destaque dado pela vocalista para que um pequeno grupo de jovens, que ensaiavam uns passos entre o palco e a primeira fileira de cadeiras. Ao perceber a empolgação dessa turma, Pascuale convidou toda a platéia a dançar, conforme desejassem, em seu lugar, ou mesmo subindo ao palco, na medida que desse; e ante  à um certo acanhamento da maioria do público, a cantora voltou-se para o pequeno grupo e convocou: “Chicas, vengam!”.

Foi a senha que bastava para cerca de 15 pessoas, já de ambos os sexos, subirem e estenderem pelo palco. O grupo acompanhava as performances de Pascuale, cada um sob os seus limites de mobilidade e de conhecimento dos vários ritmos em cena, dançava entre si e interagia com a cantora, reconfigurando plasticamente a apresentação, a partir de uma nova dinâmica e energia, em um misto de espetáculo e experimentação e celebração. Assim foi, mais ou menos a noite de Pascuale Ilabada y fauna em Porto Alegre, encerrando esta última edição de 2018 do Unimúsica.