É ambiciosa a meta anunciada esta semana pela Organização Mundial da Saúde, de querer controlar as doenças tropicais até 2015, revertendo décadas de abandono na pesquisa de problemas que matam 534 mil pessoas por ano. No entanto, a estratégia adotada para esse objetivo precisa ir bem além da doação de medicamentos pelas multinacionais, ou mesmo a ampliação de diagnósticos. Políticas eficazes, sobretudo, é que são essenciais, como também aponta a ONU. Mas isso não pode ficar em palavras. No Brasil, as doenças tropicais, como a malária e a hepatite, são as mais difíceis de controlar e um dos motivos principais são as características específicas das comunidades centenárias que as contraem.
Em agosto de 2005, a reportagem Ribeirinhos do Tapajós ainda esperam pelo SUS, pulicada pela revista Radis (Fiocruz), dava alguns subsídios importantes sobre essa realidade. Em uma expedição de três dias pelas cidades onde vivem os caboclos ribeirinhos do Tapajós – GO, PA, AM – a equipe da Radis conheceu o modo de vida desses moradores, ao longo dos 1.992 quilômetros de comprimento daquele rio, onde o Estado ainda é frágil ou inexistente. E onde o Estado inexiste é campo fértil para o assistencialismo e outras formas de dominação ou comercialização dos problemas locais. As ONGs estrangeiras, freqüentemente - e com certa fundamentação – acusadas de interesses estranhos na Amazônia – têm, em alguns desses cenários, atuações sérias e importantes. A respeito disso, o trabalho do projeto Saúde e Alegria, financiado com o apoio de várias instituições estrangeiras naquela Região, é exemplar
Outro aspecto importante na formação cultural para o enfrentamento das doenças tropicais é a situação das sociedades indígenas. As 55 aldeias Xavantes que vivem no MT e GO, em especial no Cerrado, estão entre os casos dos povos indígenas que, além das doenças tropicais, já convivem também com doenças típicas da cidade, como é o caso da obesidade. Soma-se a isso a questão das extensas fronteiras brasileiras, que é outra questão estratégica para o enfrentamento na área da saúde coletiva.
Nota-se, portanto, que muito além de apoios estrangeiros o enfrentamento das doenças tropicais no País exige um diagnóstico profundo que dê conta das amplas dimensões continentais de nosso território, considerando nisso a rica diversidade social dos povos nativos. Ao lado disso, porém, se faz necessário, sobretudo, a abertura de financiamentos para pesquisas nacionais de ponta nesse campo. Esses investimentos, aliados à projetos viaveis, e sob orientação de políticas sérias, é que vão, de fato, consolidar avanços significativos para a erradicação das doenças tropicas no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário