O açúcar, especiaria digna de atenção do colonizadores desde de o começo da apropriação comercial e religiosa nesse solo, se apresenta hoje no centro de um dilema interessante: o redimensionamento da exploração dos recursos naturais - particularmente a Terra - para servir a modelos energéticos, em geral, insustentáveis sem o devido amparo tecnológico. A produção agrícola nacional, que era em tempos remotos focalizada no abastecimento alimentar (privado ou coletivo), divide cada vez mais o solo com outros ramos do agribusiness. Tratam-se de segmentos que tem muito a ver com negócio, mas pouco contempla uma perspectiva ambientalmente social, para além do discurso (eucalipto, soja, pastagem). Vide, a respeito disso, o exemplo da reação articulada da classe ruralista contra as cláusulas ambientais no Novo Código Ambiental Brasileiro. O açúcar, nesse contexto, é uma cultura de duplo uso e significado estratégico. Tanto é energia, como é alimento. Mas é e foi muito mais que isso, pois confunde-com a própria história dos ciclos econômicos do Brasil e as culturas dos diversos povos neles inseridos.
Em 'Açúcar', o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre reúne, com uma erudição leve e saborosa, preciosas receitas de bolos e doces guardadas por tradicionais famílias nordestinas. Enfocando o açúcar como o elemento responsável pela liga entre diversos paladares e culturas, o autor demonstra a existência de uma arte do doce no país criada à sombra da escravidão. (Cia das Letras)
Nenhum comentário:
Postar um comentário