quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Líbia e Chile, sede transcontinental de liberdade e justiça

Algo devo dizer sobre as efervescentes conturbações políticas pelo mundo. Sem querer forçar a barra, mas considerando que em tudo que envolve sociedades e seres humanos há traços afins, considero que entre o as ações violentas dos rebeldes na Líbia e as manifestações dos estudantes chilenos, por melhor educação e outros direitos, se aproximam em alguns pontos. Se lá a questão é de raízes mais profundas e condições de direitos humanos básicas, e aqui no País andino as reivindicações se focam por uma diferente orientação política e econômica, é também fato que entre esses dois Países há uma base comum de histórias marcada por ditaduras sangrentas. Assim o direito, o desejo e o movimento pela livre expressão – seja por melhores condições de trabalho e educação (Chile) ou por distribuição do poder (Líbia) – marca ambos cenários. Entre as diferenças substanciais, porém, está o fato de que o Chile vive uma democracia liberal, a despeito dos longos anos ditatoriais que passou e o que representa de retrocesso o atual retorno de um presidente conservador. Já na Líbia – país de maior IDH da África - houve, até então, um regime ditatorial de mais de 40 anos. Trata-se, portanto, de uma situação concreta de restrição de liberdades, diferença que não anula em outro ponto comum: em ambos Países há contingentes inconformados pelas condições de vida, e que tem em seu ‘DNA’ a sede pela livre expressão. Indo mais além, em termos de contextos internacionais, o quadro se complexifica, mas não deixa de expor afinidades. No oriente, há uma contaminação das manifestações por mais liberdades entre os países árabes, em efeito cascata – Egito, Yêmem, Síria (...) – que foram cruciais no cenário atual. No Chile, ainda que de modo institucionalizado, há também um cenário de transformações recentes, em que antigas lideranças carismáticas e identificadas com os movimentos sociais, assumiram o governo de seus Países (Equador, Bolívia, Brasil, e mais recentemente, Peru). Há também, portanto, um quadro de influências determinante na América Latina. Para finalizar, todavia, destaco outro ponto central, que não há como ignorar: são os movimentos da geopolítica internacional a partir dos países “Centrais” – Onu, Otan, Eua, Países europeus e seus respectivos braços locais. Aí temos, sim, a questão nevrálgica que move a ação no oriente de modo bem específico, e uma palavra é reveladora nisso: Petróleo. As “razões” de a Otan e a Onu legitimar atropeladamente as ações dos rebeldes e a deslegitimação de Khadafi, tem um sentido definido que se esconde no batido argumento da “defesa da democracia, dos direitos humanos ou dos civis”. Há, por certo, interesses gigantes que orientam cada passo desses governos que por lá agem. No caso do Chile, onde sequer há intervenções internacionais diretas, essa influência se deu lentamente, e em termos de políticas. A prerrogativa de ser a estrela pioneira e exemplar do Neoliberalismo na América Latina, tão aplaudido pelo poder financeiro internacional, concedeu ao Chile essa herança da privatização de setores essenciais de sua economia, entre eles, a educação. Nesse enfraquecimento do estado em áreas estratégicas para o desenvolvimento  a ditatura Pinochetista teve papel central. Foi nela que se planejou e implementou o "El ladrillo", plano econômico gestado pelos Chicago Boys, opositores do ex governo democrático Allende, seputaldo por Pinochet. Pois bem, sem querer me alongar nessa atrevida analogia entre duas nações de tão distintas culturas e conjunturas, procurei apenas pincelar que a questão da liberdade, dos anseios pela qualidade de vida e a indignação contra a ditatura política, cultural, econômica ou religiosa está presente em todo o mundo. E quando a questão é poder, há correlções de forças que se afinam na mesma língua, acima de territórios. Assim é há milênios.

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