quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Utopia, Paciência e Perseverança – o necessário

A aparência de liberdade expressada no desespero pela visibilidade, o vazio no excesso internalizado na ânsia de consumir e o individualismo como norma de conduta, prazer e orientação política têm sido, observo, alguns padrões predominantes nesses tempos de transição paradigmática (em que a razão, outrora roubada da religião pela ciência, também desta escapa). E nesse entremeio, a juventude  - entendida como espírito de um tempo, muito mais que uma questão etária – facilmente tende a substituir as bandeiras coletivas pelas individuais, ou confundi-las. Essa perplexidade geral sobre o futuro não é, evidentemente, exclusividade de nosso tempo. Mas nesse século, e nessa década de modo claro, ela se inflama. A sobrevivência, que é e sempre foi um projeto imprescindível, não deveria ser dissociada ou distante de um projeto de utopia. Pois se assim se faz, temos a rotina como condenação de morte em vida. A utopia precisa ser, portanto, o norte maior, para a própria afirmação de um caráter saudável e uma saúde mental assegurada. Ela é o foco. A paciência, por sua vez, é a segurança que, aconteça o que acontecer, esse caminho está sendo trilhado. Dar tempo ao tempo é indispensável. Mas, todavia, combinar ambas diretrizes com a perseverança para trilhar um caminho, também é necessário. Porque nada se conquista sem luta. E justamente porque esse caminho é inesgotável, lutar sempre, é o que se impõe nesses dias turvos. Utopia, Paciência e Perseverança são, assim, o que precisamos cultivar diariamente, acima de todas dúvidas, medos e desilusões que ofuscam nossos olhos nesses tempos plásticos.

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Baseando-se na "identidade" assumida pelos indivíduos, tais movimentos assumem formas repressivas das quais é quase impossível escapar. Antes de ser um cidadão, o sujeito pertenceria à sua "comunidade", cujas causas importam mais do que as coletivas. A primeira vítima da corrosão do caráter é a vida pública. Movimentos como os descritos por Sennett conduzem milhões às ruas para exercer pressão sobre a sociedade e o Estado. Mas pouco ou nada fazem diante de descalabros ocorridos na economia, no Judiciário, no Executivo, nos Parlamentos. A identidade maior deixa de ser a cidadania e se transfere para instâncias que defendem particularidades. Sennett respeita os referidos modelos intimistas, mas também mostra o quanto sua pauta é unilateral e autoritária, tiranizando seus adeptos. A corrosão do caráter é potencializada quando os grupos e indivíduos assumem o perfil da militância. O militante padrão, por mimetismo, sacrifica normas éticas, sociais e políticas em proveito de seu movimento, visto por ele como a fonte última dos valores. Todos os demais âmbitos seriam movidos por interesses escusos. A maior parte do material histórico e sociológico usado por Sennett vem dos EUA e da Europa.

(Resenha de Roberto Romando, A Usp e a Corrosão do caráter, na Agestado)

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