quarta-feira, 25 de abril de 2012

O blogueiro Décio de Sá e a distância tênue entre o desejo da verdade e a morte

Foto: http://www.moreiraneto.com/
O assassinato do blogueiro maranhense Décio de Sá na segunda-feira é fator sintomático e ilustrativo das deficiências de nossa democracia, hora em construção, mas também da liberdade de imprensa brasileira, que é livre plenamente ainda apenas para o poder ou o silêncio. Quanto mais, pelo fato que se sabe que o jornalista teve esse fim por ter escrito sob e fatos graves, a partir de um canal não convencional. Muito possivelmente, nos jornais tradicionais locais / regionais seu espaço seria muito mais reduzido para fazer o nível das investigações, relações e denúncias que fez. No caso de Décio de Sá, a restrição definitiva e fatal da liberdade de imprensa veio pela via criminosa. Quantas ameaças devem ter antecipado o ato que consumou sua vida, e quantos outros jornalistas por esse País engolem fatos, ou vivem sob-riscos, pelo cercamento do poder local à palavra livre. Não bastasse a repressão criminosa, há outros exemplos de restrição de liberdade, existentes a partir da própria justiça e de meios explicitamente agressivos do poder local, seja dentro da imprensa grande (nosso Primeiro Poder), fora dela ou a partir dela. É o caso do jornalista Lúcio Flávio Pinto, no Pará - que tem peleado há décadas, com seu espaço de expressão modesto e restrito, ao desagradar setores grandes, notoriamente vinculados a imprensa grande; de Elmar Bones, em Porto Alegre, que foi sufocado veemente por um processo judicial na vara cível, a partir de uma reportagem de fundo que sua publicação fez, denunciando relações comprometedoras na gestão do ex-governador Germano Riogotto; e de Wladimir Ungaretti, que também teve restrições, via justiça, de sua análise diária do jornal Zero Hora, a partir do momento em que passou a focar e denunciar o enquadramento policialesco de um fotografo de 40 anos de atividade naquele periódico. Estou longe dos acreditam que jornalistas estão acima do bem e do mal; mas não tenho como deixar de enxergar que o peso que cai sobre esses profissionais, ao realizarem denúncias de peso sobre fatos e pessoas relacionadas ao poder institucional, é gritantemente superior quando se encontro em uma condição de desvinculados das grandes empresas de comunicação do País. Será isso tão casual? Enfim, fato é que entre restrições, ameaças e perdas vivem ou deixam de viver dezenas, quiçá centenas, de jornalista em todo o mundo. Dentro de uma guerra, ou fora dela, nunca esses militantes da palavra vão deixar de ser correspondentes de dias melhores, a partir para uma sociedade transparente.

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