Mais umas Palavas Insurgentes de Elaine Tavares.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
O Tiririca
O tempo passa, o tempo voa, mas os
preconceitos seguem firmes enraizados na alma das gentes. Hoje, lendo
as mídias sociais e os órgãos de comunicação on-line, pude
observar os comentários maldosos acerca do fato de o deputado
Tiririca ter sido considerado um dos 25 melhores parlamentares no
Congresso Nacional, escolhidos pelos jornalistas. As pessoas, via e
regra, acham tudo isso muito surpreendente. Viceja aí o sempre
cultivado preconceito com relação aos pobres, os feios, os sujos.
Para a maioria das gentes - mesmos as empobrecidas como Tiririca - é
absolutamente certo que um cara semianalfabeto, vindo da periferia do
país, um palhaço de circo, não poderia dar boa coisa. Seria mais
um a mamar nas tetas do estado, usando as verbas parlamentares para
se locupletar (encher os próprios bolsos).
Mas, uma boa olhada nos nossos
Congresso, ao longo dos anos, já mostra que os mais "dignos"
deputados, homens ricos, bem sucedidos empresários, doutores, enfim,
da nata da sociedade, são os que estão acostumados aos desvios, às
maracutaias, as tretas. Não são os "manés" aqueles que
estão metidos nos escândalos, até porque quase nunca chegam a
sentar numa cadeira de deputado. O poder financeiro não permite.
E o que sabemos da atuação do
Tiririca? Que ele trabalha, que ele tem se esforçado e que
apresentou um importante projeto para proteger a gente do circo. Olha
só! Ele quer que o estado garanta ao povo do circo o direito de
estar incluído na Lei Orgânica de Assistência Social, para que
possam ser atendidos pelo SUS mesmo sem ter endereço. Segundo ele,
os artistas circenses não conseguem atendimento médico nos posto de
saúde por esse motivo: não têm endereço. Assim como não podem
ter seus filhos matriculados na rede pública de ensino. Pois vejam
bem, o Tiririca. Está atuando pelos direitos dos que o elegeram de
fato: os empobrecidos, os abandonados. Ao contrário dos deputados
que se elegem prometendo cuidar dos pobres, ganham o voto dos pobres,
e depois se deitam na cama dos seus financiadores de campanha,
cedendo aos desejos das grandes empresas, das multinacionais. Quem é
o "mané" aí?
Segundo informes da Câmara dos
Deputados, Tiririca é um dos nove parlamentares que registraram
presença em todas as 171 sessões destinadas às votações. É
presença certa nas comissões, coisa que não é obrigatória e
esteve em 106 (88%) das 120 reuniões da Comissão de Educação e
Cultura, da qual é titular. Também segundo os dados da Câmara já
apresentou sete projetos de lei – todos voltados para o circo e a
educação. Ainda não falou no plenário, mas pode ser encontrado
sempre em seu gabinete, onde atende com deferência a quem quer que
chegue.
Eu não sei o que vai acontecer com o
Tiririca, se ele vai um dia sucumbir ao canto da sereia do poder. Se
vota com a direita, se não tem muita consciência do que é o seu
minúsculo partido. Mas, hoje, quero dizer que me sinto feliz por ver
esse palhaço brasileiro fazer o que tinha prometido de fato. Pior do
que tá não fica, dizia o seu slogan. Pensando no povo do circo,
essa gente mágica que anda por aí levando alegria, discriminada e
abandonada, para eles pode ficar melhor. Porque eles tem um
representante de verdade. Alguém de sua classe que está lutando por
eles, que não os esqueceu ao entrar nos salões acarpetados.
Também sei que não se deve idealizar
as gentes empobrecidas. Não é pelo fato de ser pobre que torna
alguém bom. Mas, da mesma forma, não se pode demonizá-las nem
esperar sempre o pior. O Tiririca está indo bem. Meus respeitos,
deputado...
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Dica do professor Paulo Sérgio Oliveira (Face), para quem andar por POrto Alegre pelo sábado.
"Neste sábado, 6, 14h, DISCUSSÃO ARTE E
RESISTÊNCIA
No Memorial do Rio Grande do Sul, com Normélia Parise,
coordenadora da exposição "Haiti: arte e resistência".
Documentários:
*Arnold
Antonin Tiga. Haïti, rêve, possession, création folie, 2001, 52
min
*Arnold Antonin, 2002 -
André Pierre, Celui qui peint le bon, 29 min.
*Arnold Antonin La
Sculpture peut-elle sauver le village de Noailles? Ou Les Boss-métal
de la Croix-des-Bouquets, 2010, 36 min"
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As palavras do mestre Ungaretti, em seus 64 anos, são uma poesia por si só sobre os valores, a coerência e os sonhos dos jornalistas nos tempos atuais. Nada a acrescentar.

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