quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Entre o Palhaço, o Mestre e uma dica sobre o Haiti


Mais umas Palavas Insurgentes de Elaine Tavares.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012
O Tiririca

O tempo passa, o tempo voa, mas os preconceitos seguem firmes enraizados na alma das gentes. Hoje, lendo as mídias sociais e os órgãos de comunicação on-line, pude observar os comentários maldosos acerca do fato de o deputado Tiririca ter sido considerado um dos 25 melhores parlamentares no Congresso Nacional, escolhidos pelos jornalistas. As pessoas, via e regra, acham tudo isso muito surpreendente. Viceja aí o sempre cultivado preconceito com relação aos pobres, os feios, os sujos. Para a maioria das gentes - mesmos as empobrecidas como Tiririca - é absolutamente certo que um cara semianalfabeto, vindo da periferia do país, um palhaço de circo, não poderia dar boa coisa. Seria mais um a mamar nas tetas do estado, usando as verbas parlamentares para se locupletar (encher os próprios bolsos).

Mas, uma boa olhada nos nossos Congresso, ao longo dos anos, já mostra que os mais "dignos" deputados, homens ricos, bem sucedidos empresários, doutores, enfim, da nata da sociedade, são os que estão acostumados aos desvios, às maracutaias, as tretas. Não são os "manés" aqueles que estão metidos nos escândalos, até porque quase nunca chegam a sentar numa cadeira de deputado. O poder financeiro não permite.

E o que sabemos da atuação do Tiririca? Que ele trabalha, que ele tem se esforçado e que apresentou um importante projeto para proteger a gente do circo. Olha só! Ele quer que o estado garanta ao povo do circo o direito de estar incluído na Lei Orgânica de Assistência Social, para que possam ser atendidos pelo SUS mesmo sem ter endereço. Segundo ele, os artistas circenses não conseguem atendimento médico nos posto de saúde por esse motivo: não têm endereço. Assim como não podem ter seus filhos matriculados na rede pública de ensino. Pois vejam bem, o Tiririca. Está atuando pelos direitos dos que o elegeram de fato: os empobrecidos, os abandonados. Ao contrário dos deputados que se elegem prometendo cuidar dos pobres, ganham o voto dos pobres, e depois se deitam na cama dos seus financiadores de campanha, cedendo aos desejos das grandes empresas, das multinacionais. Quem é o "mané" aí?

Segundo informes da Câmara dos Deputados, Tiririca é um dos nove parlamentares que registraram presença em todas as 171 sessões destinadas às votações. É presença certa nas comissões, coisa que não é obrigatória e esteve em 106 (88%) das 120 reuniões da Comissão de Educação e Cultura, da qual é titular. Também segundo os dados da Câmara já apresentou sete projetos de lei – todos voltados para o circo e a educação. Ainda não falou no plenário, mas pode ser encontrado sempre em seu gabinete, onde atende com deferência a quem quer que chegue.

Eu não sei o que vai acontecer com o Tiririca, se ele vai um dia sucumbir ao canto da sereia do poder. Se vota com a direita, se não tem muita consciência do que é o seu minúsculo partido. Mas, hoje, quero dizer que me sinto feliz por ver esse palhaço brasileiro fazer o que tinha prometido de fato. Pior do que tá não fica, dizia o seu slogan. Pensando no povo do circo, essa gente mágica que anda por aí levando alegria, discriminada e abandonada, para eles pode ficar melhor. Porque eles tem um representante de verdade. Alguém de sua classe que está lutando por eles, que não os esqueceu ao entrar nos salões acarpetados.

Também sei que não se deve idealizar as gentes empobrecidas. Não é pelo fato de ser pobre que torna alguém bom. Mas, da mesma forma, não se pode demonizá-las nem esperar sempre o pior. O Tiririca está indo bem. Meus respeitos, deputado...  

*************************************************** 
Dica do professor Paulo Sérgio Oliveira (Face), para quem andar por POrto Alegre pelo sábado.


"Neste sábado, 6, 14h, DISCUSSÃO ARTE E RESISTÊNCIA
No Memorial do Rio Grande do Sul, com Normélia Parise, coordenadora da exposição "Haiti: arte e resistência".
Documentários: 
*Arnold Antonin Tiga. Haïti, rêve, possession, création folie, 2001, 52 min
*Arnold Antonin, 2002 - André Pierre, Celui qui peint le bon, 29 min. 
*Arnold Antonin La Sculpture peut-elle sauver le village de Noailles? Ou Les Boss-métal de la Croix-des-Bouquets, 2010, 36 min"

***************************************************
As palavras do mestre Ungaretti, em seus 64 anos, são uma poesia por si só sobre os valores, a coerência e os sonhos dos jornalistas nos tempos atuais. Nada a acrescentar.


No dia de hoje, quando completo 64 anos, além do agradecimento a todos pelos cumprimentos, deixo registrado que a cada dia que passa sou um outro; continuo, no entanto, o mesmo. Sim, sou o mesmo que aos 17 anos entrou para o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e que aos 20 colocou, pela primeira vez, os pés em uma redação. Jornalistas eram intelectuais, quase todos militantes, ex-militantes ou no mínimo simpatizantes. Nós amávamos muito União Soviética. Lá pela tantas não amávamos tanto e "por último" tudo isso acabou. Por isso mesmo continuo fascinado por estar à margem. Continuo um ser marginal. Não perdi de vista velhas utopias e penso novas, cujo fundo continua sendo a liberdade, fraternidade e igualdade. O jornalismo ainda é o exercício da subversão. Ainda leio sobre a Comuna de Paris e não deixo de imaginar um novo maio de 68 convocado com as ferramentas internáuticas. Adoro lidar, cotidianamente, com ideias. Em um estar compulsivo de pura inquietude, intelectual. Sou tocado, assim, por muitos momentos de felicidade. Nos último 20 anos, em sala diante de jovens, exercito o ato de distribuir panfletos. Disfarçado de professor de jornalismo, pois que o ambiente é reacionário e voltado para o showrnalismo. Não tenho o ranço professoral. A tristeza acontece não diante dos que lá chegam já de cabeça feita. Fico triste, sim e muito, quando vejo alguns que com enorme potencial são engolidos pela prática do ensino da covardia. Tem sido de grande utilidade a ideia - expressa por algum pensador (subversivo) - que apontou para o fato de que as instituições de ensino do aparelho do Estado, em última instância, são uma sofisticada forma de reprodução do pensamento dominante. Gosto de atuar nas brechas. Uma prática guerrilheira. Resulta daí o permanente re(encontro), sempre carinhoso e fraterno, com um grande número de ex-alunos. Momentos que sempre emocionam; e, não por acaso, com os "marginais" que só por um descuido do sistema transitaram pela mídia corporativa. Sempre digo a eles que um período de clandestinidade, em uma grande redação, é um grande aprendizado. Pois no dia de hoje, acreditem, estão renovadas todas as minhas subversivas esperanças. A disposição de estar sempre à disposição para o estabelecimentos de nossos sonhos comuns. Todos os Ismos estão mortos. Viva a ANARQUIA!!!!!



Nenhum comentário: