quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A corrida

Estamos sempre correndo, até que um dia, um dia qualquer, a corrida finaliza por uma marca imprevisível e implacável. Então, parar é preciso. Continuar o caminho, mas parando para olhar aos lados. Eis o que se impõe.

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SABÃO DE GARRAFA! Aprenda como fazer!

Sabe aquele óleo de cozinha que muita gente joga na pia da cozinha ou coloca no lixo? Você pode fazer tranquilamente um sabão caseiro para usar e presentear vizinhos e amigos; tudo isso usando apenas uma garrafa pet, óleo de cozinha usado e soda cáustica. Confira!

uma garrafa pet de 2 litros
funil
1 litro e 200 ml de óleo de cozinha coado
200 ml de água
200 ml de soda cáustica líquida

Preparo – coloque dentro da garrafa com a ajuda do funil, o óleo, a água e a soda. Mas lembre-se de que deve ser nesta ordem e o óleo filtrado em um guardanapo de pano, antes de ser utilizado.

Caso queira adicionar 20ml de essência, misture a essência na água antes de colocar na pet (pode ser diluído um desinfetante com a essência da sua preferência). Tampe bem apertado e agite a garrafa por cerca de dez minutos. Deixe descansar por vinte minutos e com muito cuidado abra a garrafa, lembrando de manter um distância do rosto. Abra aos poucos para que ocorra a liberação de gases que se formaram dentro da garrafa e não tampe novamente. Deixe descansar por três dias, corte a garrafa em fatias ou corte o plástico da garrafa para depois fatiar o sabão.

Imagem: Perfil Radio Super




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Imagem: Juventude Sustentável

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


A progressiva difusão da cultura da bandidagem entre os trabalhadores de farda (que vai muito além do ato de delinqüir) assusta; mas o que surpreende mesmo, em um país em que o desemprego ainda é realidade de milhões, é a suposta necessidade da identificação de "ser trabalhador" como credencial para ser respeitado como cidadão. nenhuma abordagem sobre violência que ignore esse cenário pode ser levada a sério. “O governador vai à televisão e diz que ‘vão investigar’. Investigar o quê? As pessoas sabem que há policiais envolvidos”, diz um morador da região. “As crianças da periferia só vão passar a respeitar os policiais quando não souberem que eles bateram nos pais delas, ou atiraram em um conhecido”, emenda outro. “Quem mata pai de família, para mim, é bandido.”

Texto e Foto reproduzidos de: apublica
Foto: Spensy Pimentel
Tempo de terror no Rosana
25.02.13 Por Spensy Pimentel #ViolênciaPolicial

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Indignação, medo e desconfiança da polícia imperam na comunidade atingida pela chacina de 7 trabalhadores em janeiro, entre eles o DJ Lah; 6 PMs estão presos, mas pelo menos 14 foram vistos na cena do crime
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O momento da tragédia já ganhou várias versões, que correm pelo Jardim Rosana, bairro da região do Campo Limpo, zona sul de São Paulo. Eram pouco mais de 11 da noite e o dono do bar já tentava despedir a freguesia: “Gente, está na hora de fechar”. Havia semanas circulavam na região as ameaças feitas por policiais de que “coisas ruins poderiam acontecer”. Na prática, avisos como esse são interpretados como um toque de recolher – e o fato é que o perigo era iminente.
Os assassinos encapuzados chegaram ao bar anunciando: “Polícia!” Nesse ponto, não há divergência entre as versões, até porque as ameaças ouvidas por várias pessoas no bairro eram claras: a ação era uma vingança por alguém do bairro, dois meses antes, ter gravado e enviado à TV Globo um vídeo do momento em que policiais abordavam e aparentemente executavam Paulo Batista do Nascimento, o Limão, morador daquela mesma rua. Cinco PMs foram presos em novembro, depois da exibição das imagens – eles haviam registrado no boletim de ocorrência ter encontrado o corpo já sem vida em uma viela.
Há quem diga que, ao ouvir anúncio de que se tratava de policiais, Laércio, que estava próximo à porta do bar, gritou a resposta chave: “Calma, aqui só tem trabalhador!”
Só depois de ter levado um primeiro tiro na perna, a despeito de sua advertência de que não havia “vagabundos” no recinto, Laércio teria xingado: “Seus filhos da p…”. Outros dizem que ele os chamou de “covardes”. Há também gente que estava no bar, no momento do crime, que conta que não houve tempo de dizer nada.
Mas há quem lembre que, depois do grito “Polícia”, Laércio teria dito: “Não tenho medo de vocês, seus covardes”. Ou foi como se dissesse: na sequência, virou-lhes as costas – tanto é que tomou a coronhada de uma escopeta na nuca, antes de ser executado com vários tiros que o atingiram de costas, como me dizem. “Ele morreu como um homem, eles mataram como covardes”, emenda o narrador que, como quase todos os entrevistados, pede que seu nome não seja revelado.
Até o momento eram seis os policiais militares presos pela chacina que vitimou sete pessoas no dia 4 de janeiro, num bar na rua Reverendo Peixoto da Silva, no bairro do Jardim Rosana, zona Sul de São Paulo. A investigação policial e a Justiça vão compor sua própria versão sobre esse episódio trágico em que morreu o protagonista das histórias acima, o DJ Lah, Laércio de Souza Grimas, 33 anos, integrante do grupo Conexão do Morro. Mas poucos no Rosana acreditam que o crime será esclarecido até o fim.
Já se sabe que não é verdadeira a primeira versão que circulou, a de que teria sido Laércio o autor do vídeo exibido na Globo. Os moradores do bairro insistem: o responsável pela denúncia saiu dali logo depois de ter registrado as imagens. “Chegaram a dizer que o DJ tinha dito por aí que ele teria gravado. Isso não é verdade, estão querendo usá-lo como bode expiatório”, explica-me um deles.
A indignação é geral. Covardia é a palavra mais ouvida para descrever o que aconteceu. Todos os que morreram no bar eram “trabalhadores”, termo que na periferia paulistana significa o oposto de tudo o que deveria ser alvo da polícia: crime, vagabundagem, “vida fácil”. Quem vive ali encara um cotidiano árduo, feito de ocupações cansativas e mal pagas, além de horas de transporte público para chegar ao emprego, que frequentemente fica “da ponte pra lá”.
Não há como determinar se a expressão foi forjada pela canção dos Racionais MC’s ou se foram os rappers que captaram o termo que já circulava. Mas o fato é que para quase todos ali o mundo paulistano se divide entre os que vivem de um lado ou de outro das pontes do rio Pinheiros.
“Tá pensando que você está nos Jardins?”, alguém se lembra de ter ouvido de um policial durante um enquadro, depois de ter cobrado uma abordagem mais respeitosa. Os Jardins – uma das regiões mais ricas de São Paulo – ficam, claro, do outro lado da ponte.
Há muito o rap denuncia esses maus tratos, que não raro se convertem em violência mortal. O protesto contra a violência policial é a marca do Conexão do Morro desde que o grupo do DJ Lah começou a se destacar na cena paulistana, no final dos anos 90.
O single de estreia do trio, que veio à luz por volta de 1998, se chamava, justamente, “Saiam da mira dos tiras”. “São eles é que forçam, são eles que atiram/ Reze pra sobreviver”, completava o refrão. Laércio tinha pouco mais de 18 anos nessa época, e foi também nesse período que nasceu sua primeira filha.



sábado, 23 de fevereiro de 2013

Como ajudar

Há vezes que a melhor forma de ajudar é ficar calado. Por que há casos que só o erro e o tempo ensina.

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Enquanto isso, na melhor democracia que o dinheiro pode comprar...

"De acordo com o cineasta Michael Moore, o diretor palestino indicado ao Oscar Emad Burnat e sua família foram detidos pela política de imigração americana, no Aeroporto Internacional de Los Angeles, na noite desta terça-feira. Moore reportou o incidente em sua conta do Twitter."




Leia o texto na íntegra, no Diário de Pernambuco.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Iguais e muito diferentes


"Estamos perdendo tanto nossos recursos biológicos quanto nosso conhecimento eco-específico desses recursos. A destruição ecológica faz aumentar a importância comercial das cada vez mais escassas "matérias-primas" genéticas. Paradoxalmente, isso acontece justamente quando as novas tecnologias têm mais necessidade de (e capacidade para utilizar) biomateriais em perigo." - Erosão, Transformação Tecnológica e Concentração do Poder Empresarial, Pat Roy Mooney. Foto: Perfil Novos Rurais.


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O líder e a nova família

Somos uma civilização que tem em sua base de formação uma cultura de líderes. Onde nasceu essa necessidade? Entre os homens da caverna, onde um mais forte se destacava na caça ou no domínio sexual? Na primeira organização familiar, em que alguém foi atribuído ou atribuiu a responsabilidade de cuidar do restante do grupo? Ou na pura e simples proteção de todo um Povo, a partir da força maior de um indivíduo. A ver. O fato é que assim fomos formados. E na condição contemporânea, isso se transferiu para o sexo masculino. Atualmente, há uma transformação nesse processo. Estamos em uma grande transição. O líder se dissolve na afirmação da autonomia de todo o grupo social. E os filhos, inclusive, cada vez mais prematuramente percebem e reivindicam isso. A família tradicional, creio, deve prosseguir, mas seu espaço de existência vai cada vez mais sendo compartilhado por outras formas de organização coletiva nuclear. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Sobre os anseios que permanecem nas mudanças e os caminhos para efetivá-los

O indivíduo constroi sua personalidade a partir de seu comportamento coletivo.

Somos, definitivamente, seres permanentemente políticos. Não há qualquer ação social desprovida de efeito político, e portanto, vazia de intencionalidade.

Na medida em que a sociedade se desenvolve, em toda a sua diversidade, vai tornando-se também mais complexo a noção sobre ideais como Liberdade e Igualdade, os grandes e perseguidos anseios da humanidade ao longo dos séculos. Atuar por essas conquistas, nesse cenário de constante transformação implica mais do que consciência sobre a necessidade de transparência e pluralidade. 

É necessário a conveniência da paciência, aliada a necessária potência da opinião, sempre que estas se fizerem necessárias. Manifestar-se é preciso e necessário. Mas sabê-lo fazer no momento e medida certa pode fazer a diferença e contribuir para a construção de um processo de emancipação social que está muito além de nosso tempo.

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A longa entrevista do professor Salim Lamrani com Yoni Sánchez (para quem quiser efetivamente saber mais sobre a pop star do momento no Brasil. O texto é reproduzido de Rebelión.

Conversaciones con la bloguera cubana Yoani Sánchez (1/2)


Revisado por Caty R.

Yoani Sánchez es la nueva figura de la oposición cubana. Desde la creación de su blog «Generación Y» en 2007, ha obtenido innumerables premios internacionales: El premio de Periodismo Ortega y Gasset (2008), el premio Bitacoras.com (2008), el premio The Bob’s (2008), el premio Maria Moors Cabot (2008) de la prestigiosa universidad estadounidense de Columbia. Del mismo modo, la bloguera fue seleccionada entre las 100 personalidades más influyentes del mundo por la revista Time (2008), en compañía de George W. Bush, Hu Jintao y el Dalai Lama. Su blog fue incluido en la lista de los 25 mejores blogs del mundo del canal CNN y la revista Time (2008). El 30 de noviembre de 2008 el diario español El País la incluyó en la lista de las 100 personalidades hispanoamericanas más influyentes del año (lista en la cual no aparecían ni Fidel Castro ni Raúl Castro). La revista Foreign Policy por su parte la incluyó entre los 10 intelectuales más importantes del año y la revista mexicana Gato Pardo hizo lo mismo para el año 2008. Esta impresionante avalancha de distinciones así como su carácter simultáneo han suscitado numerosas interrogantes, tanto más cuanto que Yoani Sánchez, según sus propias confesiones, es una total desconocida en su propio país. ¿Cómo una persona desconocida por sus vecinos –según la propia bloguera– puede formar parte de la lista de las 100 personalidades más influyentes del año?
Un diplomático occidental, cercano a esta atípica opositora al gobierno de La Habana , había leído una serie de artículos que escribí sobre Yoani Sánchez y que eran relativamente críticos. Se los enseñó a la bloguera cubana y ésta quiso reunirse conmigo para esclarecer algunos puntos que había abordado.
El encuentro con la joven disidente de fama controvertida no tuvo lugar en algún oscuro apartamento con ventanas cerradas o en un lugar aislado y recluso para escapar a los oídos indiscretos de la «policía política». Al contrario, se desarrolló en el vestíbulo del Hotel Plaza, en el centro de la Habana Vieja , en una tarde inundada de sol. El lugar estaba muy concurrido, con numerosos turistas extranjeros que deambulaban por el inmenso salón del majestuoso edificio que abrió sus puertas a principios del siglo XX.
Yoani Sánchez está cercana a las embajadas occidentales. En efecto, una simple llamada de mi contacto al mediodía permitió fijar la cita para tres horas después. A las 15 horas, la bloguera apareció sonriente, vestida con una falda larga y una camiseta azul. Llevaba también una chaqueta deportiva para hacer frente a la relativa frescura del invierno habanero.
La conversación duró cerca de dos horas alrededor de una mesa del bar del hotel con la presencia de su marido, Reinaldo Escobar, quien la acompaño durante unos veinte minutos antes de abandonar el lugar para acudir a otra cita. Yoani Sánchez se mostró sumamente cordial y afable y dio prueba de una gran tranquilidad. El tono de voz era seguro y en ningún momento se mostró incómoda. Acostumbrada a los medios occidentales, domina relativamente bien el arte de la comunicación.
Esta bloguera, personaje de apariencia frágil, inteligente y sagaz, es consciente de que, aunque le cueste reconocerlo, su mediatización en Occidente no es una casualidad, sino que se debe al hecho de que preconiza la instauración de un «capitalismo sui generis» en Cuba.
El incidente del 6 de noviembre de 2009
Salim Lamrani: Empecemos por el incidente que ocurrió el 6 de noviembre de 2009 en La Habana. En su blog, usted explicó que fue arrestada con tres de sus amigos por «tres fornidos desconocidos» durante una «tarde cargada de golpes, gritos e insultos». Usted denunció las violencias que las fuerzas del orden cubanas cometieron contra usted. ¿Confirma su versión de los hechos?
Yoani Sánchez: Efectivamente, confirmo que sufrí violencia. Me secuestraron 25 minutos. Recibí golpes. Logré quitarle un papel que uno de ellos tenía en el bolsillo y lo puse en mi boca. Uno puso su rodilla sobre mi pecho y el otro, desde el asiento delantero me daba en la zona de los riñones y me golpeaba la cabeza para que abriera la boca y soltara el papel. En un momento, sentí que no saldría nunca de aquel auto.
SL: El relato, en su blog, es verdaderamente terrorífico. Cito textualmente: usted habló de «golpes y empujones», de « golpes en los nudillos», de «andanada de golpes», de la «rodilla sobre [su] pecho», de los golpes en «los riñones y […] la cabeza», «el cabello halado», de su «rostro enrojecido por la presión y el cuerpo adolorido», de «los golpes [que] seguían cayendo» y «todos estos morados». Sin embargo, cuando recibió la prensa internacional el 9 de noviembre todas las marcas habían desaparecido. ¿Cómo explica eso?
YS: Son profesionales de la golpiza.
SL: De acuerdo, pero ¿por qué no sacó fotos de las marcas?
YS: Tengo las fotos. Tengo pruebas fotográficas
SL: ¿Tiene pruebas fotográficas?
YS: Tengo las pruebas fotográficas.
SL: Pero, ¿por qué no las ha publicado para desmentir todos los rumores según los cuales usted habría inventado una agresión para que la prensa hablara de su caso?
YS: Prefiero guardarlas por el momento y no publicarlas. Quiero presentarlas ante un tribunal un día para que esos tres hombres sean juzgados. Me acuerdo perfectamente de sus rostros y tengo fotos de dos de ellos por lo menos. En cuanto al tercero, queda por identificar pero dado que se trataba del jefe, será fácil de ubicar. Tengo también el papel que le quité a uno de ellos y que tiene mi saliva pues lo puse en mi boca. En ese papal estaba escrito el nombre de una mujer.
SL: De acuerdo. Usted publica muchas fotos en su blog. Nos resulta difícil entender por qué prefiere no mostrar las marcas esta vez.
YS: Como ya le dije, prefiero reservarlas a la justicia.
SL: Usted entiende que con esta actitud está dando crédito a los que piensan que inventó esa agresión.
YS: Es mi elección.
SL: Sin embargo, incluso los medios occidentales que le son más bien favorables tomaron precauciones oratorias poco habituales para contar su relato. El corresponsal de la BBC en La Habana Fernando Ravsberg escribe, por ejemplo, que usted «no tiene hematomas, marcas o cicatrices». La agencia France Presse relata la historia clarificando con mucho cuidado que se trata de su versión con el título «Cuba: la bloguera Yoani Sánchez dice haber sido golpeada y detenida brevemente». El periodista afirma por otra parte que usted «no resultó herida».
YS: Yo no quisiera evaluar el trabajo de ellos. No soy quien debe juzgarlo. Son profesionales que pasan por situaciones muy complicadas que no puedo evaluar. Lo cierto es que la existencia o no de marcas físicas no es la evidencia del hecho.
SL: Pero la presencia de macas demostraría que se ejercieron violencias. De ahí la importancia de publicar las fotos.
YS: Usted debe entender que son profesionales de la intimidación. El hecho de que tres desconocidos me condujeran a un auto sin presentarme ningún documento me da el derecho de quejarme como si me hubieran fracturado todos los huesos del cuerpo. Las fotos no son importantes porque la ilegalidad está cometida. La precisión de «si me dolió aquí o si me dolió allá» es mi dolor interior.
SL: Sí, pero el problema es que usted presentó eso como una agresión muy violenta. Usted habló de «secuestro al peor estilo de la camorra siciliana».
YS: Sí, es verdad, pero sé que es mi palabra contra la de ellos. El hecho de entrar en ese tipo de detalles, de saber si tengo marcas o no, nos aleja del tema real que es que me secuestraron durante 25 minutos de manera ilegal.
SL: Perdone la insistencia pero pienso que es importante. Hay una diferencia entre un control de identidad que dura 25 minutos y violencias policiales. Mi pregunta es sencilla. Usted dijo, cito: «Durante todo el fin de semana tuve inflamados el pómulo y la ceja». Dado que tiene las fotos, puede ahora enseñar las marcas.
YS: Ya le dije que prefiero reservarlas para el tribunal.
SL: Usted entiende que a alguna gente le costará creer su versión si no publica las fotos.
YS: Pienso que al entrar en ese tipo de detalles se pierde la esencia. La esencia es que tres bloggers acompañados por una amiga iban a un punto de la ciudad que era Calle 23 esquina G. Habíamos oído hablar que un grupo de jóvenes habían convocado una marcha contra la violencia. Gente alternativa, cantantes de hip hop, de rap, artistas. Iba allí como bloguera para hacer fotos y publicarlas en mi blog y hacer entrevistas. En el camino fuimos interceptados por un auto Geely
SL: ¿Para que no participaran en el evento?
YS: Las razones eran evidentemente ésas. Ellos nunca me lo dijeron formalmente pero era el objetivo. Me dijeron que me montara en el auto. Les pregunté quiénes eran. Uno de ellos me tomó por la muñeca y empecé a ir para atrás. Eso ocurrió en una zona de La Habana bastante céntrica, en una parada de ómnibus.
SL: Entonces había gente. Había testigos.
YS: Hay testigos pero no quieren hablar. Tienen miedo.
SL: ¿Ni siquiera de manera anónima? ¿Por qué la prensa occidental no los ha entrevistado de manera anónima como hace a menudo cuando publica reportajes críticos sobre Cuba?
YS: No puedo explicarle la reacción de la prensa. Yo le puedo contar lo que pasó. Uno de ellos, un hombre de unos cincuenta años, con una figura complexa como si hubiera practicado alguna vez en su vida lucha libre –le digo eso porque mi padre practicó ese deporte y tiene las mismas características-. Yo tengo las muñecas muy finas y logré zafarme y le pedí quién era. Había tres hombres además del chofer.
SL: Entonces había cuatro hombres en total y no tres.
YS: Sí, pero no le vi la cara al chofer. Me dijeron: «Yoani, móntate en el carro, tú sabes quiénes somos nosotros». Les respondí: «Yo no sé quiénes son ustedes». El más bajo me dijo: «Escúchame, tú sabes quien soy yo, tú me conoces». Contesté: «No, no sé quién tú eres. No te conozco. ¿Quién eres tú? Enséñame tus papeles o algún documento». El otro me dijo: «Móntate, no hagas las cosas más difíciles». Entonces empecé a gritar: «¡Auxilio, unos secuestradores!»
SL: ¿Sabía usted que se trataba de policías sin uniforme?
YS: Me lo imaginaba, pero nunca me mostraron sus documentos.
SL: ¿Cuál era su objetivo entonces?
YS: Quería que las cosas se hicieran en toda legalidad, es decir, que me mostraran sus papeles y que me llevaran después aunque sospechaba que representaban la autoridad. Uno no puede obligar a un ciudadano a montarse en un carro privado sin presentar sus papeles, si no es una ilegalidad y un secuestro.
SL: ¿Cómo reaccionó la gente en la parada?
YS: Las personas en la parada se quedaron atónitas porque «secuestro» no es una palabra que se usa en Cuba porque no existe este fenómeno. Entonces se preguntaron lo que pasaba. No teníamos pinta de delincuentes. Algunos se acercaron pero uno de los policías les gritó: «¡No se metan que son unos contrarrevolucionarios!». Esa fue la confirmación que de se trataba de personas de la policía política aunque me lo imaginé por el auto Geely que llevaban, que son chinos, de nueva fabricación, y que no se han vendido en ninguna tienda en Cuba. Pertenecen exclusivamente a personas del Ministerio de las Fuerzas Armadas y del Ministerio de Interior.
SL: Entonces usted sabía desde el inicio que se trataba de policías vestidos de civiles por el carro en el cual andaban.
YS: Intuía eso. Por otra parte tuve la confirmación cuando uno de ellos llamó a un policía en uniforme. Una patrulla compuesta de un hombre y de una mujer llegó y se llevó a dos de nosotros. Nos dejó entre las manos de esos dos desconocidos.
SL: Pero ya no albergaba la menor duda respecto a quiénes eran.
YS: No, pero no nos enseñaron ningún papel. Los policías no nos dijeron que representaban la autoridad. No nos dijeron nada.
SL: Resulta difícil entender el interés para las autoridades cubanas de agredirla físicamente con el riesgo de desatar un escándalo internacional. Usted es famosa. ¿Por qué habrían hecho eso?
YS: Su objetivo era radicalizarme para que escribiera textos violentos contra ellos, pero no lo lograrán.
SL: No se puede decir que usted es blanda con el gobierno cubano.
YS: Yo nunca uso la violencia verbal ni ataques personales. Nunca uso adjetivos incendiarios como «sangrienta represión», por ejemplo. Su objetivo era entonces radicalizarme.
SL: Sin embargo usted es muy dura respecto al gobierno de La Habana. En su blog, dice: «el barco que hace aguas a punto del naufragio». Usted habla de «los gritos del déspota», de «seres de las sombras, que como vampiros se alimentan de nuestra alegría humana, nos inoculan el temor a través del golpe, la amenaza, el chantaje», «ha naufragado el proceso, el sistema, las expectativas, las ilusiones. [Es un] naufragio [total]», Son palabras muy fuertes.
YS: Quizás, pero su objetivo era quemar el fenómeno Yoani Sánchez, demonizarme. Por eso mi blog estuvo bloqueado durante bastante tiempo.
SL: Sin embargo parece sorprendente que las autoridades cubanas hayan decidido atacarla físicamente.
YS: Fue una torpeza. No me explico por qué me impidieron que asistiera a la marcha pues no pienso como los que reprimen. No tengo explicación. Quizás querían que no me reuniera con los jóvenes. Los policías pensaban que iba a formar un escándalo o hacer un discurso incendiario.
Para volver al arresto, los policías se llevaron a mis amigos, de manera enérgica y firme pero sin violencia. En el momento que me doy cuenta que van a dejarnos solos con Orlando con estos tres tipos me agarré a una planta que había en la calle y Claudia se agarró a mí por la cintura para impedir la separación antes de que la llevaran los policías.
SL: ¿Para qué resistir a las fuerzas del orden en uniforme y correr el riesgo de ser acusada de eso y cometer un delito? En Francia si usted resiste a la policía, se arriesga a sanciones.
YS: Se los llevaron de todas formas. La mujer policía se llevó a Claudia. Las tres personas nos llevaron al carro y empecé a gritar de nuevo: «¡Auxilio! ¡Un secuestro!».
SL: ¿Por qué? Usted sabía que se trataba de policías sin uniforme.
YS: No me mostraron ningún papel. Empiezan entonces a golpearme y me empujan hacia el carro. Claudia fue testigo y lo contó.
SL: ¿Usted no me acaba de decir que la patrulla se la había llevado?
YS: Vio la escena desde lejos mientras se alejaba el carro de policía. Me defendí y golpeé como un animal que siente que llegó su última hora. Dieron una vuelta luego por el vedado e intentaban quitarme el papel que tenía en la boca. Agarré a uno por los testículos y redobló la violencia. Nos llevaron a un barrio bastante marginal, La Timbra , que se encuentra cerca de la Plaza de la Revolución. El hombre bajó, abrió la puerta y nos pidió que saliéramos. No quise bajarme. Nos sacaron por la fuerza con Orlando y se fueron.
Llegó una señora y le dijimos que fuimos secuestrados. Nos tomó por unos locos y se fue. El carro regresó pero no se detuvo. Sólo nos lanzaron mi bolso en el cual se encontraban mi celular y mi cámara.
SL: ¿Regresaron para devolverle su celular y su cámara?
YS: Sí
SL: ¿No le parece extraño que se molestaran en regresar? Habrían podido confiscarle su celular y su cámara, que son sus herramientas de trabajo.
YS: Bueno, no sé. Todo duró 25 minutos en total.
SL: Usted entiende, sin embargo, que mientras no publique las fotos se dudará de su versión, y eso arrojará una sombra sobre la credibilidad de todo lo que dice.
YS: No importa.
Suiza y el regreso a Cuba
SL: En 2002, usted decidió emigrar a Suiza. Dos años después regresó a Cuba. Resulta difícil entender por qué dejó el «paraíso europeo» para regresar al país que usted describe como un infierno. La pregunta es sencilla: ¿por qué?
YS: Es una pregunta muy buena. Primero, me gusta nadar a contracorriente. Me gusta organizar mi vida a mi manera. Lo que es absurdo no es irse y regresar a Cuba sino las leyes migratorias cubanas que estipulan que toda persona que pasa once meses en el exterior pierde su estatus de residente permanente. En otras condiciones yo podría estar dos años en el exterior y con el dinero ganado, podría regresar a Cuba para reparar la casa y hacer otras cosas. Entonces no es el hecho de que decida regresar a Cuba lo que es sorprendente sino las leyes migratorias cubanas.
SL: Lo que es sorprendente es sobre todo que teniendo la posibilidad de vivir en uno de los países más ricos del mundo, usted haya decidido regresar a su país que usted describe de modo más bien apocalíptico, apenas dos años después de su salida.
YS: Las razones son varias. Primero, no pude irme con mi familia. Somos una pequeña familia pero estamos muy unidos con mi hermana y mis padres. Mi padre estuvo enfermo durante mi estancia y tenía miedo de que muriera sin poder verlo. También me sentía culpable de vivir mejor que ellos. Cada vez que me compraba un par de zapatos, que me conectaba a Internet, pensaba en ellos. Me sentía culpable.
SL: De acuerdo, pero desde Suiza podía ayudarlos mandando dinero.
YS: Es verdad, pero hay otra razón. Pensé que con lo que había aprendido en Suiza, podría cambiar las cosas regresando a Cuba. También hay la nostalgia de las personas, de los amigos. No fue una decisión pensada pero no me arrepiento. Tenía ganas de regresar y regresé. Es verdad que es algo que pueda parecer poco común, pero me gusta hacer cosas inhabituales. Abrí un blog y la gente me preguntó por qué hacía eso, mientras que el blog me satisface profesionalmente.
SL: De acuerdo, pero a pesar de todas estas razones, nos cuesta entender el por qué de su regreso a Cuba cuando en Occidente se piensa que todos los cubanos quieren abandonar el país. Es aún más sorprendente en su caso pues presenta su país, repito, de modo apocalíptico.
YS: Discutiría la palabra, como filóloga, pues «apocalíptico» es un término grandilocuente. Hay una cosa que caracteriza mi blog, es la moderación verbal.
SL: No es siempre el caso. Usted describe por ejemplo a Cuba como “una inmensa prisión, con muros ideológicos”. Los términos son bastante fuertes.
YS: Nunca he escrito eso.
SL: Son las palabras de una entrevista que dio al canal francés France 24 el 22 de octubre de 2009.
YS: ¿Usted leyó eso en francés o en español?
SL: En francés.
YS: Desconfíe de las traducciones pues nunca he dicho eso. Se me prestan muy a menudo cosas que no he dicho. Por ejemplo, el periódico español ABC me atribuyó palabras que nunca había pronunciado y protesté. El artículo fue finalmente retirado del sitio Internet
SL: ¿Cuáles eran esas palabras?
YS: «En los hospitales cubanos muere más gente de hambre que de enfermedad». Era una mentira total. Nunca había dicho eso.
SL: ¿Entonces la prensa occidental manipuló lo que dijo?
YS: No diría eso.
SL: Si le atribuyen palabras que no pronunció, se trata de manipulación.
YS: Granma manipula más la realidad que la prensa occidental cuando dicen que soy la creación del grupo mediático Prisa.
SL: Justamente, ¿no tiene la impresión de que la prensa occidental la usa porque usted preconiza un «capitalismo sui generis» en Cuba?
YS: No soy responsable de lo que hace la prensa. Mi blog es una terapia personal, un exorcismo. Tengo la impresión de que soy más manipulada en mi propio país que en otra parte. Usted sabe que existe una ley en Cuba, la ley 88 que se le llama la ley «mordaza» que encarcela a la gente que hace lo que estamos haciendo.
SL: ¿Es decir?
YS: Que nuestra conversación puede ser considerada como un delito y que puede incurrir en una pena de hasta 15 años de prisión.
SL: Perdone, ¿el hecho de que yo la entreviste puede llevarla a la cárcel?
YS: ¡Por supuesto!
SL: No tengo la impresión de que eso la preocupe mucho ya que me está concediendo una entrevista en plena tarde, en el vestíbulo de un hotel del centro de La Habana Vieja.
YS: No estoy preocupada. Esta ley estipula que toda persona que denuncia las violaciones de los derechos humanos en Cuba colabora con las sanciones económicas, pues Washington justifica la imposición de las sanciones contra Cuba a causa de la violación de los derechos humanos.
SL: Si no me equivoco, la ley 88 se aprobó en 1996 para responder a la ley Helms-Burton y sanciona sobre todo a las personas que colaboren con la aplicación de esta legislación en Cuba, por ejemplo proporcionando información a Washington sobre los inversionistas extranjeros en Cuba para que éstos sean perseguidos ante los tribunales estadounidenses. Que yo sepa, nadie ha sido condenado por eso, hasta ahora. Hablemos de libertad de expresión. Usted tiene cierta libertad de tono en su blog. Está siendo entrevistada en plena tarde en un hotel. ¿No ve una contradicción entre el hecho de afirmar que no hay ninguna libertad de expresión en Cuba y la realidad de sus escritos y sus actividades que demuestran lo contrario?
YS: Sí, pero no se puede consultar desde Cuba porque está bloqueado.
SL: Le puedo asegurar que lo consulté esta mañana antes de la entrevista, desde este hotel.
YS: Es posible, pero la mayor parte del tiempo está bloqueado. De todas formas, hoy día, no puedo tener el menor espacio en la prensa cubana, mientras que soy una persona moderada, ni en la radio, ni en la televisión
SL: Pero puede publicar lo que le de la gana en su blog.
YS: Pero no puedo publicar una sola palabra en la prensa cubana.
SL: En Francia, que es una democracia, amplios sectores de la población no tienen ningún espacio en los medias ya que la mayoría pertenecen a grupos económicos y financieros privados.
YS: Sí, pero es diferente.
SL: ¿Recibió usted amenazas por sus actividades? ¿La han amenazado alguna vez con una pena de prisión por lo que escribe?
YS: Amenazas directas de pena de prisión no, pero no me dejan viajar fuera. Estoy invitada actualmente a un Congreso sobre la lengua española en Chile, hice todos los trámites pero no me dejan salir.
SL: ¿Le han dado alguna explicación?
YS: Ninguna, pero quisiera precisar algo. Para las sanciones de Estados Unidos contra Cuba son una atrocidad. Se trata de una política que ha fracasado. Lo he dicho muchas veces pero no se publica eso porque molesta que tenga esta opinión que rompe el arquetipo del opositor.
Las sanciones económicas
SL: Entonces usted se opone a las sanciones económicas.
YS: Absolutamente, y lo digo en todas las entrevistas. Hace unas semanas, mande una carta al Senado de Estados Unidos para que permitieran a los ciudadanos estadounidenses viajar a Cuba. Es una atrocidad ver que impiden que los ciudadanos estadounidenses viajen a Cuba, como el gobierno cubano me impide salir de mi país.
SL: ¿Qué piensa de las esperanzas que ha suscitado la elección de Obama que prometió un cambio en la política hacia Cuba y que ha decepcionado a muchos?
YS: Llegó al poder sin el apoyo del lobby fundamentalista de Miami que apoyó al otro candidato. Por mi parte, ya me pronuncié contra las sanciones.
SL: Este lobby fundamentalista se opone al levantamiento de las sanciones económicas.
YS: Puede discutir con ellos y exponerles mis argumentos pero no diría que son enemigos de la patria. No pienso eso.
SL: Una parte de ellos participó en la invasión de su propio país en 1961 bajo las órdenes de la CIA. Varios de ellos están implicados en actos de terrorismo contra Cuba.
YS: Los cubanos del exilio tienen el derecho a pensar y a decidir. Soy favorable a que tengan el derecho de voto. Aquí, se ha estigmatizado mucho al exilio cubano.
SL: ¿El exilio «histórico» o los que han emigrado después por razones económicas?
YS: En realidad, me opongo a todos los extremos. Pero estas personas que están a favor de las sanciones económicas no son anticubanas. Piensa que defienden a Cuba según sus propios criterios.
SL: Tal vez, pero las sanciones económicas afectan a los sectores más vulnerables de la población cubana y no a los dirigentes. Entonces resulta difícil estar a la vez a favor de las sanciones y pretender defender el bienestar de los cubanos.
YS: Es la opinión de ellos. Es así.
SL: No son ingenuos. Saben que los cubanos sufren por las sanciones.
YS: Son simplemente diferentes. Creen que podrán cambiar de régimen imponiendo sanciones. En todo caso creo que el bloqueo ha sido el argumento perfecto para el gobierno cubano para mantener la intolerancia, el control y la represión interna.
SL: Las sanciones económicas tienen efectos. ¿O piensa que sólo son una excusa para La Habana ?
YS: Son un excusa que conduce a la represión.
SL: ¿Afectan el país de un punto de vista económico, según usted? ¿O sólo es marginal?
YS: El verdadero problema es la falta de productividad en Cuba. Si mañana levantaran las sanciones, dudo mucho que se vean los efectos.
SL: En este caso, ¿por qué Estados Unidos no levanta las sanciones y le quita así la excusa al gobierno? Se vería así que las dificultades económicas sólo se deben a las políticas internas. Si Washington insiste tanto en las sanciones a pesar de su carácter anacrónico, a pesar de la oposición de la inmensa mayoría de la comunidad internacional, 187 países en 2009, a pesar de la oposición de una mayoría de la opinión pública de Estados Unidos, a pesar de la oposición del mundo de los negocios, será por algo ¿no?
YS: Simplemente porque Obama no es el dictador de Estados Unidos y no puede eliminar las sanciones.
SL: No las puede eliminar totalmente porque hace falta un acuerdo del Congreso pero puede sin embargo aliviarlas considerablemente, lo que no ha hecho hasta ahora ya que salvo la eliminación de las restricciones impuestas por Bush en 2004, casi nada ha cambiado.
YS: No, no es cierto, pues también ha permito a las empresas estadounidenses de telecomunicaciones hacer transacciones con Cuba.
Los premios internacionales, el blog y Barack Obama
SL: Usted tendrá que admitir que es bastante poco cuando se sabe que Obama prometió un nuevo enfoque con Cuba. Volvamos a su caso personal. ¿Cómo explica esta avalancha de premios, así como su éxito internacional?
YS: No tengo mucho que decir salvo expresar mi agradecimiento. Todo premio implica una dosis de subjetividad por parte del jurado. Todo premio es discutible. Por ejemplo muchos escritores latinoamericanos merecían el premio Nobel de literatura más que Gabriel García Márquez.
SL: ¿Usted dice eso porque piensa que no tiene tanto talento o por su posición favorable a la Revolución cubana? Usted no niega su talento de escrito ¿o sí?
YS: Es mi opinión, pero no por ello voy a decir que consiguió el premio y lo voy a acusar de ser un agente del gobierno sueco.
SL: Obtuvo el premio por su obra literaria mientras que usted ha sido recompensada por sus posiciones políticas contra el gobierno. Es la impresión que tenemos.
YS: Hablemos del premio Ortega y Gasset del periódico El País que suscita más polémica. Lo gané en la categoría «Internet». Algunos dicen que otros periodistas no lo han conseguido, pero yo soy una bloguera y soy pionera en este campo. Me considero como una figura de Internet. El jurado del premio Ortega y Gasset se compone de personalidades sumamente prestigiosas y no diría que se prestaron a una conspiración contra Cuba.
SL: Usted no puede negar que el periódico español El País tiene una línea editorial sumamente hostil hacia Cuba. Y algunos piensan que el premio, dotado con 15.000 euros, era una forma de recompensar sus escritos contra el gobierno.
YS: La gente piensa lo que quiere. Creo que se recompensó mi trabajo. Mi blog tiene 10 millones de entradas al mes. Es un ciclón.
SL: ¿Cómo hace para pagar los gastos de gestión de semejante flujo?
YS: Un amigo en Alemania se encargaba de eso porque el sitio estaba albergado en Alemania. Desde hace más de un año está albergado en España y conseguí 18 meses gratuitos gracias al premio The Bob’s.
SL: ¿Y la traducción en 18 idiomas?
YS: Son amigos y admiradores quienes lo hacen voluntaria y gratuitamente.
SL: A mucha gente le cuesta creer eso pues ningún otro sitio del mundo, incluso los de las más importantes instituciones internacionales como por ejemplo las Naciones Unidas, el Banco Mundial, el Fondo Monetario Internacional, la OCDE, la Unión Europea, dispone de tantas versiones lingüísticas. Ni el sitio del Departamento de Estado de Estados Unidos ni el de la CIA disponen de semejante variedad.
YS: Le digo la verdad.
SL: El presidente Obama incluso respondió a una entrevista que le hizo. ¿Cómo explica eso?
YS: Primero, quiero decir que no eran preguntas complacientes.
SL: Tampoco podemos decir que usted fue crítica, ya que no le pidió que levantara las sanciones económicas de las cuales usted dice que «se usan como justificación lo mismo para el descalabro productivo que para reprimir a los que piensan diferente». Es exactamente lo que dice Washington al respecto. La pregunta más atrevida es cuando usted le preguntó si pensaba invadir Cuba. ¿Cómo explica que el presidente Obama haya tomado el tiempo de responderle a pesar de su agenda sumamente cargada, una crisis económica sin precedentes, la reforma del sistema de salud, Iraq, Afganistán, las bases militares en Colombia, el golpe de Estado en Honduras y centenares de solicitudes de entrevistas de los más importantes medios del mundo en espera?
YS: Soy afortunada. Le quiero decir que también mandé preguntas al presidente Raúl Castro y no me ha respondido. No pierdo la esperanza. Además ahora tiene la ventaja de contar con las respuestas de Obama.
SL: ¿Cómo llegó hasta Obama?
YS: Les transmití la entrevista a varias personas que venían a verme y que podían tener un contacto con él.
SL: ¿Piensa que Obama le respondió porque es una bloguera cubana o porque se opone al gobierno?
YS: No creo. Obama me respondió porque habla a los ciudadanos.
SL: Recibe miles de solicitudes todos los días. ¿Por qué le respondió si usted es una simple bloguera?
YS: Obama es cercano a mi generación, a mi modo de pensar.
SL: ¿Pero por qué usted? Hay millones de blogueros en el mundo. ¿No piensa que ha sido instrumentalizada en la guerra mediática de Washington contra La Habana?
YS: En mi opinión, quería quizás responder a algunos puntos como la invasión a Cuba. Quizás le haya dado la oportunidad de expresarse sobre un tema que quería abordar hace mucho tiempo. La propaganda política nos habla constantemente de una posible invasión de Cuba.
SL: Pero hubo una ¿no?
YS: ¿Cuándo?
SL: En 1961. Y en 2003, Roger Noriega, subsecretario de Estado para los Asuntos Interamericanos dijo que cualquier ola migratoria cubana hacia Estados Unidos sería considerada como una amenaza a la seguridad nacional y necesitaría una respuesta militar.
YS: Es otro tema. Para volver al tema de la entrevista, creo que permitió esclarecer ciertos puntos. Tengo la impresión de que hay un deseo de ambos lados de no normalizar las relaciones, de no entenderse. Le pregunté cuándo íbamos a encontrar una solución.
SL: ¿Quién es responsable de este conflicto entre los dos países según usted?
YS: Es difícil encontrar un culpable.
SL: En este caso preciso es Estados Unidos el que impone sanciones unilaterales a Cuba y no al contrario.
YS: Sí, pero Cuba confiscó propiedades a Estados Unidos.
SL: Tengo la impresión de que se hace la abogada de Washington.
YS: Las confiscaciones ocurrieron.
SL: Es cierto, pero se hicieron conforme al derecho internacional. Cuba confiscó también propiedades a Francia, España, Italia, Bélgica, el Reino Unido, e indemnizó esas naciones. El único país que rechazó las indemnizaciones fue Estados Unidos.
YS: Cuba permitió también la instalación de bases militares en su territorio y de misiles de un imperio lejano…
SL: …Como Estados Unidos instaló bases nucleares contra la URSS en Italia y en Turquía.
YS: Los misiles nucleares podían alcanzar Estados Unidos.
SL: Como los misiles nucleares estadounidenses podían alcanzar Cuba o la URSS.
YS: Es verdad, pero creo que hubo una escalada en la confrontación por parte de ambos países.
Los cinco presos políticos cubanos y la disidencia
SL: Abordemos otro tema. Se habla mucho de los cinco presos políticos cubanos en Estados Unidos condenados a penas de prisión perpetua por infiltrar a grupúsculos de extrema derecha en Florida implicados en el terrorismo contra Cuba.
YS: No es un tema que interesa a la población. Es propaganda política.
SL: ¿Pero cuál es su punto de vista al respeto?
YS: Voy a intentar ser lo más neutral posible. Son agentes del Ministerio del Interior que se infiltraron en Estados Unidos para recoger información. El gobierno cubano dice que no desempeñaban actividades de espionaje sino que habían infiltrado a grupos cubanos para evitar actos terroristas. Pero el gobierno cubano siempre ha dicho que esos grupos estaban vinculados a Washington.
SL: Entonces los grupos radicales de exilados tienen lazos con el gobierno de Estados Unidos.
YS: Eso es lo que dice la propaganda política.
SL: Entonces no es verdad.
YS: Si es verdad quiere decir que los cinco realizaban actividades de espionaje.
SL: Entonces en este caso, Estados Unidos tiene que reconocer que los grupos violentos forman parte del gobierno.
YS: Es verdad.
SL: ¿Piensa usted que los Cinco deben ser liberados o merecen su sanción?
YS: Creo que valdría la pena revisar los casos, pero en un contexto político más apaciguado. No creo que el uso político de este caso sea bueno para ellos. El gobierno cubano mediatiza demasiado este asunto.
SL: Quizás porque es un asunto totalmente censurado por la prensa occidental.
YS: Creo que se podría salvar la situación de esas personas que son seres humanos, que tienen una familia, hijos, pero del otro lado, también hay víctimas.
SL: Pero los cinco no han cometido crímenes.
YS: No, pero dieron información que causó la muerte de varias personas.
SL: Usted se refiere a los acontecimientos del 24 de febrero de 1996, cuando dos aviones de la organización radical Brothers to the Rescue fueron derribados después de violar varias veces el espacio aéreo cubano y lanzar llamamientos a la rebelión.
YS: Sí.
SL: Sin embargo, el fiscal reconoció que era imposible probar la culpabilidad de Gerardo Hernández en ese caso.
YS: Es verdad. Pienso que cuando la política se mete en asuntos de justicia, llegamos a eso.
SL: ¿Piensa usted que se trata de un caso político?
YS: Para el gobierno cubano es un caso político.
SL: ¿Y para Estados Unidos?
YS: Tengo entendido que hay una separación de los poderes allí, pero puede ser que el ambiente político haya influido a los jueces y al jurado, pero no creo que se trate de un caso político dirigido por Washington. Es difícil tener una imagen clara de este caso, pues jamás hemos podido tener una información completa al respecto. Pero la prioridad para los cubanos es la liberación de los presos políticos.
Fin de la primera parte.
Salim Lamrani es profesor encargado de cursos en la Universidad Paris-Sorbonne -Paris IV y en la Universidad Paris-Est Marne-la-Vallée y periodista francés, especialista de las relaciones entre Cuba y Estados Unidos. Acaba de publicar Cuba: Ce que les médias ne vous diront jamais (Paris: Editions Estrella, 2009).
Rebelión ha publicado este artículo con el permiso del autor mediante una licencia de Creative Commons, respetando su libertad para publicarlo en otras fuentes.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Certezas e Dúvidas

Acredito que a dúvida nos faz crescer mais do que qualquer outra noçaõ solidificada. Ela nos convida a procura pelo novo, o diferente ou adverso. É naturalmente renovadora.
 
Tenho algumas certezas na vida, poucas, mas as tenho. Uma delas é que é preciso ser independente para ser livre; outra, é que fazer o que nos dá prazer é a única forma de transformar trabalho em algo criativo. Uma última, a imagem que temos de alguém é sempre digna de transformação, o que fica disso é tão somente a coerência dessa pessoa com aquilo que nos cativou.

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15/02/2013 14h07- Atualizado em 15/02/2013 14h20
Projeto ‘Perca um Livro’ espalha literatura em Pouso Alegre, MG

Livros são ‘perdidos’ em locais públicos da cidade para estimular a leitura.
Escritora Mariângela Padilha implantou a ideia no município.

Do G1 Sul de Minas

Que tal se sentar em um banco da praça ou em um ponto de ônibus e encontrar um livro? Embora não seja inédita, a iniciativa de ‘perder’ livros em locais públicos está sendo praticada em Pouso Alegre (MG) e já tem cerca de 70 exemplares circulando pela cidade.

Para estimular a leitura no município, a escritora Mariângela Padilha resolveu espalhar os livros e criou o projeto ‘Perca um Livro’. Com um recado afixado na contra capa das obras, ela avisa como funciona o projeto e busca novos parceiros. (Texto e Foto - G1 Sul de Minas). Matéria na íntegra aqui.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

A democracia real e integração intercontinental, necessidades que urgem

A paciência e o autocontrole, aliada a perseverança, é mais que uma virtude, é uma forma de poder.

Minha gata mia, e nisso reside o seu desejo. Mia por deitar na cama. Concentra nesse objetivo toda o seu poder de convencimento e capacidade natural. Mia em tons e volumes diferentes. E, aos poucos, ela vai conseguir o que quer. Um miado pode mudar um mundo. O seu mundo.

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Em atenção a disputa no Equador, Muchedumbre 30s é a dica audiovisual do momento. Assisti esse material na Sala Redenção, seguido de um longo e rico debate com analistas de várias áreas. O ponto comum entre estas foi objetivo: É ilusão ingênua a noção de que o ritual do voto é suficiente para a consolidação da Democracia na América Latina. Reproduzo o filme aqui.



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Reproduzo abaixo a declaração da brasileira ítalo-gaúcha Cláudia Antonioni, que foi convidada pelo Partido Democrático a concorrer a uma vaga de Deputada no parlamento da Itália, País onde tem cidadania além do Brasil. Analisei sua trajetória e intenções e observo que se trata de uma pessoa de perfil sério, comprometido com o processo de integração entre esses dois países, que têm várias proximidades históricas e culturais. Entendo que uma interlocutora desse nível tem todas as condições de trabalhar efetivamente pela conquista de objetivos de interesse recíprocos a ambas repúblicas.

Amigos e Amigas:

Estou contatando todos os amigos aqui no Facebook e pedindo para que me ajudem numa tarefa árdua. A de multiplicar uma informação que é essencial para mim e para toda a comunidade italiana do Brasil.

Fui convidada pelo Partito Democratico Italiano a concorrer a vaga de deputada nas eleições italianas de 2013. A eleição ocorre em caráter emergencial e teremos pouquíssimos dias para informar a comunidade sobre o voto, não dispondo de meios para enviar cartas à todos. Por isso só posso contar com a força de vocês meus amigos na divulgação desta campanha.

Mesmo que você não seja italiano, peço que compartilhe esta mensagem. O Brasil tem 30 milhões de descendentes residentes e destes, 288 mil votam. Algum deles deve ser seu amigo. Estes italianos do Brasil podem eleger até 4 Deputados e 2 Senadores.

Tenho 46 anos. Sou gaúcha, natural de Porto Alegre. Morei 7 anos na Itália. Lá, vivi 3 anos como "extracomunitária" até ter minha cidadania reconhecida. Senti na pele as dificuldades de estar nessa condição. Quando voltei ao Brasil, em 1996, passei a ajudar pessoas com interesse em reconhecer a sua cidadania. Há 17 anos, tenho escritório de consultoria ao lado do consulado, em Porto Alegre. Já auxiliei mais de 4 mil famílias de descendentes atrás de seus direitos. Sou formada em Comunicação Social, possuo especialização no Ensino do Italiano e tenho mestrado em Relações Públicas Europeias.

Chegou a hora de nós, ítalo-brasileiros, termos a nossa voz em Roma. Precisamos buscar nossos direitos usando não só a tribuna no parlamento mas todos os meios possíveis e cabíveis. É necessário potencializar os Consulados, garantindo um atendimento digno e o cumprimentos dos prazos legais. Ampliar as propostas para os jovens. Lutar pela reforma dos Institutos de Língua e Cultura Italiana usando modelos virtuosos como os adotados pela França e Alemanha. Apoiar os intercâmbios em todos os âmbitos. Valorizar a imagem do Brasil na Itália e, é claro, o papel da mulher.

Já concorri em 2008 e recebi 10.509 votos. O candidato de meu partido que foi eleito somou 17 mil. Este excelente resultado obtido em prazo curtíssimo me mostrou que posso ajudar meu partido e minha comunidade me encheu de determinação e coragem para novamente aceitar o convite para concorrer.

COMO VOCÊ PODE ME APOIAR
1 – Curta minha fanpage https://www.facebook.com/pages/Claudia-Antonini/458576650856059
2 - Deixe seu depoimento em meu blog http://claudiaantonini.blogspot.com/
ou em meu Facebook https://www.facebook.com/claudia.avila.antonini
3 – Envie a seus amigos descendentes nosso material enfatizando que sou descendente como eles e pedindo que votem e formem uma CORRENTE, compartilhado o mesmo material.
4 – Quem puder ajudar visitando os descendentes fale conosco. Temos as listas de eleitores em todas as cidades do Brasil.

CONTATOS
E-mail para.deputada.claudia.antonini@gmail.com

Escritório 51 32321149 – R. José de Alencar 377/03 (quase ao lado do consulado)

* Estando em campanha pouco tenho ficado no escritório, portanto, se não me achar fale com Ana, minha assistente, que retornaremos a ligação





sábado, 16 de fevereiro de 2013

Carência de Vida é de que padece a maioria, e não de drogas

O que é a vida, senão ciclos frequentes que se intercalam. Altos e baixos de uma gangorra que nos leva em sentidos e movimentos inesperados em cada momento. E com o tempo, como toda gangorra bem ou mal explorada, vai envelhecendo. Um dia, deixa apenas as lembranças. Nas praças que passamos, ficam as marcas de nossa infância, em toda a sua extensão.
A raça humana para ocupar melhor a experiência da existência, deveria brincar consigo e com o mundo. Experimentar de maneira mais interativa e intensa o contato com esse novo estranho que o cerca, mas que as normas sociais constrangem que desbravemos. O hoje, se fosse efetivamente vivido com a crueza do coração, seria eternizado e valeria a pena em cada segundo, em cada sorriso.

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Como se diz, no Brasil a pluralidade de opções é um mito na TV, um desafio que se confunde com a construção de nossa democracia. Imagem do Regula Dilma.



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A escola pode ser um ambiente prazeroso? Sim. Como também pode se converter em um campo de concentração; particularmente quando o ensino se baseia centralmente no medo e na padronização. Em Somos todos diferentes, o diretor indiano Aamir Khan apresenta a história Ishaan, um garoto do dislexia, vitimado pela violência da incompreesão sobre suas limitações e potenciais. Nesse caso, como em muitos outros, só a arte salva... E salvou. O filme completo também se encontra no Youtube.



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Não precisa muito senso de comparação jornalística para perceber as diferenças no jornalismo brasileiro.



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O conceito de Arquitetura da Exclusão, ou dos Excluídos já vem sendo operado há tempos em São Paulo, e pelo visto, se espalha intensamente pelo Sul, como nota Fábio Castro. A cartografia que segmentos hegemônicos da imprensa fazem sobre esses lugares e pessoas sem-teto também é base material para a expulsão, via ferro e cimento. Mais sobre o assunto na reportagem daIsto É. A imagem é do perfil de Fábio Castro.






sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sem pressa e sem tempo a perder

Descubro por meio da ação o quanto posso ser criativo ante ao tédio que envolve a preguiça. Fazer o novo, a cada momento, nos faz também sermos novos a cada instante.

Avanço em um foco, às vezes em vários, simultaneamente. Por que é necessário andar. Mas tenho pausas para reparar também. Tenho que olhar para os lados, porque a vida está passando, e tudo pode estar ali, bem perto. Em um sorriso ou um abraço, talvez. O céu é o limite, mas ele pouco importa a mim. Quero mesmo é a ilimitada possibilidade de desejar, criar  e viver.

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Porto Alegre, de novo capital internacional do Pedal.



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Não resisti; reproduzo na íntegra a bela entrevista de Antônio Cândido ao Brasil de Fato (tinha que ser).


“O socialismo é uma doutrina triunfante”

Aos 93 anos, Antonio Candido explica a sua concepção de socialismo, fala sobre literatura e revela não se interessar por novas obras

12/07/2011

Joana Tavares
da Redação

Crítico literário, professor, sociólogo, militante. Um adjetivo sozinho não consegue definir a importância de Antonio Candido para o Brasil. Considerado um dos principais intelectuais do país, ele mantém a postura socialista, a cordialidade, a elegância, o senso de humor, o otimismo. Antes de começar nossa entrevista, ele diz que viveu praticamente todo o conturbado século 20. E participou ativamente dele, escrevendo, debatendo, indo a manifestações, ajudando a dar lucidez, clareza e humanidade a toda uma geração de alunos, militantes sociais, leitores e escritores.
Tão bom de prosa como de escrita, ele fala sobre seu método de análise literária, dos livros de que gosta, da sua infância, do começo da sua militância, da televisão, do MST, da sua crença profunda no socialismo como uma doutrina triunfante. “O que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele”, afirma.

Brasil de Fato – Nos seus textos é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?
Antonio Candido – Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico. Posso dizer o que tenho para dizer nas humanidades com a linguagem comum. Já no estudo das ciências humanas eu preconizava isso. Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para pode divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.

O seu método de análise da literatura parte da cultura para a realidade social e volta para a cultura e para o texto. Como o senhor explicaria esse método?
Uma coisa que sempre me preocupou muito é que os teóricos da literatura dizem: é preciso fazer isso, mas não fazem. Tenho muita influência marxista – não me considero marxista – mas tenho muita influência marxista na minha formação e também muita influência da chamada escola sociológica francesa, que geralmente era formada por socialistas. Parti do seguinte princípio: quero aproveitar meu conhecimento sociológico para ver como isso poderia contribuir para conhecer o íntimo de uma obra literária. No começo eu era um pouco sectário, politizava um pouco demais minha atividade. Depois entrei em contato com um movimento literário norte-americano, a nova crítica, conhecido como new criticism. E aí foi um ovo de colombo: a obra de arte pode depender do que for, da personalidade do autor, da classe social dele, da situação econômica, do momento histórico, mas quando ela é realizada, ela é ela. Ela tem sua própria individualidade. Então a primeira coisa que é preciso fazer é estudar a própria obra. Isso ficou na minha cabeça. Mas eu também não queria abrir mão, dada a minha formação, do social. Importante então é o seguinte: reconhecer que a obra é autônoma, mas que foi formada por coisas que vieram de fora dela, por influências da sociedade, da ideologia do tempo, do autor. Não é dizer: a sociedade é assim, portanto a obra é assim. O importante é: quais são os elementos da realidade social que se transformaram em estrutura estética. Me dediquei muito a isso, tenho um livro chamado “Literatura e sociedade” que analisa isso. Fiz um esforço grande para respeitar a realidade estética da obra e sua ligação com a realidade. Há certas obras em que não faz sentido pesquisar o vínculo social porque ela é pura estrutura verbal. Há outras em que o social é tão presente – como “O cortiço” [de Aluísio Azevedo] – que é impossível analisar a obra sem a carga social. Depois de mais maduro minha conclusão foi muito óbvia: o crítico tem que proceder conforme a natureza de cada obra que ele analisa. Há obras que pedem um método psicológico, eu uso; outras pedem estudo do vocabulário, a classe social do autor; uso. Talvez eu seja aquilo que os marxistas xingam muito que é ser eclético. Talvez eu seja um pouco eclético, confesso. Isso me permite tratar de um número muito variado de obras.

Teria um tipo de abordagem estética que seria melhor?
Não privilegio. Já privilegiei. Primeiro o social, cheguei a privilegiar mesmo o político. Quando eu era um jovem crítico eu queria que meus artigos demonstrassem que era um socialista escrevendo com posição crítica frente à sociedade. Depois vi que havia poemas, por exemplo, em que não podia fazer isso. Então passei a outra fase em que passei a priorizar a autonomia da obra, os valores estéticos. Depois vi que depende da obra. Mas tenho muito interesse pelo estudo das obras que permitem uma abordagem ao mesmo tempo interna e externa. A minha fórmula é a seguinte: estou interessado em saber como o externo se transformou em interno, como aquilo que é carne de vaca vira croquete. O croquete não é vaca, mas sem a vaca o croquete não existe. Mas o croquete não tem nada a ver com a vaca, só a carne. Mas o externo se transformou em algo que é interno. Aí tenho que estudar o croquete, dizer de onde ele veio.

O que é mais importante ler na literatura brasileira?
Machado de Assis. Ele é um escritor completo.

É o que senhor mais gosta?
Não, mas acho que é o que mais se aproveita.

E de qual o senhor mais gosta?
Gosto muito do Eça de Queiroz, muitos estrangeiros. De brasileiros, gosto muito de Graciliano Ramos... Acho que já li “São Bernardo” umas 20 vezes, com mentira e tudo. Leio o Graciliano muito, sempre. Mas Machado de Assis é um autor extraordinário. Comecei a ler com 9 anos livros de adulto. E ninguém sabia quem era Machado de Assis, só o Brasil e, mesmo assim, nem todo mundo. Mas hoje ele está ficando um autor universal. Ele tinha a prova do grande escritor. Quando se escreve um livro, ele é traduzido, e uma crítica fala que a tradução estragou a obra, é porque não era uma grande obra. Machado de Assis, mesmo mal traduzido, continua grande. A prova de um bom escritor é que mesmo mal traduzido ele é grande. Se dizem: “a tradução matou a obra”, então a obra era boa, mas não era grande.

Como levar a grande literatura para quem não está habituado com a leitura?
É perfeitamente possível, sobretudo Machado de Assis. A Maria Vitória Benevides me contou de uma pesquisa que foi feita na Itália há uns 30 anos. Aqueles magnatas italianos, com uma visão já avançada do capitalismo, decidiram diminuir as horas detrabalho para que os trabalhadores pudessem ter cursos, se dedicar à cultura. Então perguntaram: cursos de que vocês querem? Pensaram que iam pedir cursos técnicos, e eles pediram curso de italiano para poder ler bem os clássicos. “A divina comédia” é um livro com 100 cantos, cada canto com dezenas de estrofes. Na Itália, não sou capaz de repetir direito, mas algo como 200 mil pessoas sabem a primeira parte inteira, 50 mil sabem a segunda, e de 3 a 4 mil pessoas sabem o livro inteiro de cor. Quer dizer, o povo tem direito à literatura e entende a literatura. O doutor Agostinho da Silva, um escritor português anarquista que ficou muito tempo no Brasil, explicava para os operários os diálogos de Platão, e eles adoravam. Tem que saber explicar, usar a linguagem normal.

O senhor acha que o brasileiro gosta de ler?
Não sei. O Brasil pra mim é um mistério. Tem editora para toda parte, tem livro para todo lado. Vi uma reportagem que dizia que a cidade de Buenos Aires tem mais livrarias que em todo o Brasil. Lê-se muito pouco no Brasil. Parece que o povo que lê mais é o finlandês, que lê 30 volumes por ano. Agora dizem que o livro vai acabar, né?

O senhor acha que vai?
Não sei. Eu não tenho nem computador... as pessoas me perguntam: qual é o seu... como chama?

E-mail?
Isso! Olha, eu parei no telefone e máquina de escrever. Não entendo dessas coisas... Estou afastado de todas as novidades há cerca de 30 anos. Não me interesso por literatura atual. Sou um velho caturra. Já doei quase toda minha biblioteca, 14 ou 15 mil volumes. O que tem aqui é livro para visita ver. Mas pretendo dar tudo. Não vendo livro, eu dou. Sempre fiz escola pública, inclusive universidade pública, então é o que posso dar para devolver um pouco. Tenho impressão que a literatura brasileira está fraca, mas isso todo velho acha. Meus antigos alunos que me visitam muito dizem que está fraca no Brasil, na Inglaterra, na França, na Rússia, nos Estados Unidos... que a literatura está por baixo hoje em dia. Mas eu não me interesso por novidades.

E o que o senhor lê hoje em dia?
Eu releio. História, um pouco de política... mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno.

O senhor é socialista?
Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais. Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz na “Ideologia Alemã”: as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo. O socialismo só não deu certo na Rússia.

Por quê?
Virou capitalismo. A revolução russa serviu para formar o capitalismo. O socialismo deu certo onde não foi ao poder. O socialismo hoje está infiltrado em todo lugar.

O socialismo como luta dos trabalhadores?
O socialismo como caminho para a igualdade. Não é a luta, é por causa da luta. O grau de igualdade de hoje foi obtido pelas lutas do socialismo. Portanto ele é uma doutrina triunfante. Os países que passaram pela etapa das revoluções burguesas têm o nível de vida do trabalhador que o socialismo lutou para ter, o que quer. Não vou dizer que países como França e Alemanha são socialistas, mas têm um nível de vida melhor para o trabalhador.

Para o senhor é possível o socialismo existir triunfando sobre o capitalismo?
Estou pensando mais na técnica de esponja. Se daqui a 50 anos no Brasil não houver diferença maior que dez do maior ao menor salário, se todos tiverem escola... não importa que seja com a monarquia, pode ser o regime com o nome que for, não precisa ser o socialismo! Digo que o socialismo é uma doutrina triunfante porque suas reivindicações estão sendo cada vez mais adotadas. Não tenho cabeça teórica, não sei como resolver essa questão: o socialismo foi extraordinário para pensar a distribuição econômica, mas não foi tão eficiente para efetivamente fazer a produção. O capitalismo foi mais eficiente, porque tem o lucro. Quando se suprime o lucro, a coisa fica mais complicada. É preciso conciliar a ambição econômica – que o homem civilizado tem, assim como tem ambição de sexo, de alimentação, tem ambição de possuir bens materiais – com a igualdade. Quem pode resolver melhor essa equação é o socialismo, disso não tenho a menor dúvida. Acho que o mundo marcha para o socialismo. Não o socialismo acadêmico típico, a gente não sabe o que vai ser... o que é o socialismo? É o máximo de igualdade econômica. Por exemplo, sou um professor aposentado da Universidade de São Paulo e ganho muito bem, ganho provavelmente 50, 100 vezes mais que um trabalhador rural. Isso não pode. No dia em que, no Brasil, o trabalhador de enxada ganhar apenas 10 ou 15 vezes menos que o banqueiro, está bom, é o socialismo.

O que o socialismo conseguiu no mundo de avanços?
O socialismo é o cavalo de Troia dentro do capitalismo. Se você tira os rótulos e vê as realidades, vê como o socialismo humanizou o mundo. Em Cuba eu vi o socialismo mais próximo do socialismo. Cuba é uma coisa formidável, o mais próximo da justiça social. Não a Rússia, a China, o Camboja. No comunismo tem muito fanatismo, enquanto o socialismo democrático é moderado, é humano. E não há verdade final fora da moderação, isso Aristóteles já dizia, a verdade está no meio. Quando eu era militante do PT – deixei de ser militante em 2002, quando o Lula foi eleito – era da ala do Lula, daArticulação, mas só votava nos candidatos da extrema esquerda, para cutucar o centro. É preciso ter esquerda e direita para formar a média. Estou convencido disso: o socialismo é a grande visão do homem, que não foi ainda superada, de tratar o homem realmente como ser humano. Podem dizer: a religião faz isso. Mas faz isso para o que são adeptos dela, o socialismo faz isso para todos. O socialismo funciona como esponja: hoje o capitalismo está embebido de socialismo. No tempo que meu irmão Roberto – que era católico de esquerda – começou a trabalhar, eu era moço, ele era tido como comunista, por dizer que no Brasil tinha miséria. Dizer isso era ser comunista, não estou falando em metáforas. Hoje, a Federação das Indústrias, Paulo Maluf, eles dizem que a miséria é intolerável. O socialismo está andando... não com o nome, mas aquilo que o socialismo quer, a igualdade, está andando. Não aquela igualdade que alguns socialistas e os anarquistas pregavam, igualdade absoluta é impossível. Os homens são muito diferentes, há uma certa justiça em remunerar mais aquele que serve mais à comunidade. Mas a desigualdade tem que ser mínima, não máxima. Sou muito otimista. (pausa). O Brasil é um país pobre, mas há uma certa tendência igualitária no brasileiro – apesar da escravidão - e isso é bom. Tive uma sorte muito grande, fui criado numa cidade pequena, em Minas Gerais, não tinha nem 5 mil habitantes quando eu morava lá. Numa cidade assim, todo mundo é parente. Meu bisavô era proprietário de terras, mas a terra foi sendo dividida entre os filhos... então na minha cidade o barbeiro era meu parente, o chofer de praça era meu parente, até uma prostituta, que foi uma moça deflorada expulsa de casa, era minha prima. Então me acostumei a ser igual a todo mundo. Fui criado com os antigos escravos do meu avô. Quando eu tinha 10 anos de idade, toda pessoa com mais de 40 anos tinha sido escrava. Conheci inclusive uma escrava, tia Vitória, que liderou uma rebelião contra o senhor. Não tenho senso de desigualdade social. Digo sempre, tenho temperamento conservador. Tenho temperamento conservador, atitudes liberais e ideias socialistas. Minha grande sorte foi não ter nascido em família nem importante nem rica, senão ia ser um reacionário. (risos).

A Teresina, que inspirou um livro com seu nome, o senhor conheceu depois?
Conheci em Poços de Caldas... essa era uma mulher extraordinária, uma anarquista, maior amiga da minha mãe. Tenho um livrinho sobre ela. Uma mulher formidável. Mas eu me politizei muito tarde, com 23, 24 anos de idade com o Paulo Emílio. Ele dizia: “é melhor ser fascista do que não ter ideologia”. Ele que me levou para a militância. Ele dizia com razão: cada geração tem o seu dever. O nosso dever era político.

E o dever da atual geração?
Ter saudade. Vocês pegaram um rabo de foguete danado.

No seu livro “Os parceiros do Rio Bonito” o senhor diz que é importante defender a reforma agrária não apenas por motivos econômicos, mas culturalmente. O que o senhor acha disso hoje?
Isso é uma coisa muito bonita do MST. No movimento das Ligas Camponesas não havia essa preocupação cultural, era mais econômica. Acho bonito isso que o MST faz: formar em curso superior quem trabalha na enxada. Essa preocupação cultural do MST já é um avanço extraordinário no caminho do socialismo. É preciso cultura. Não é só o livro, é conhecimento, informação, notícia... Minha tese de doutorado em ciências sociais foi sobre o camponês pobre de São Paulo – aquele que precisa arrendar terra, o parceiro.Em 1948, estava fazendo minha pesquisa num bairro rural de Bofete e tinha um informante muito bom, Nhô Samuel Antônio de Camargos. Ele dizia que tinha mais de 90 anos, mas não sabia quantos. Um dia ele me perguntou: “ô seu Antonio, o imperador vai indo bem? Não é mais aquele de barba branca, né?”. Eu disse pra ele: “não, agora é outro chamado Eurico Gaspar Dutra”. Quer dizer, ele está fora da cultura, para ele o imperador existe. Ele não sabe ler, não sabe escrever, não lê jornal. A humanização moderna depende da comunicação em grande parte. No dia em que o trabalhador tem o rádio em casa ele é outra pessoa. O problema é que os meios modernos de comunicação são muito venenosos. A televisão é uma praga. Eu adoro, hein? Moro sozinho, sozinho, sou viúvo e assisto televisão. Mas é uma praga. A coisa mais pérfida do capitalismo – por causa da necessidade cumulativa irreversível – é a sociedade de consumo. Marx não conheceu, não sei como ele veria. A televisão faz um inculcamento sublimar de dez em dez minutos, na cabeça de todos – na sua, na minha, do Sílvio Santos, do dono do Bradesco, do pobre diabo que não tem o que comer – imagens de whisky, automóvel, casa, roupa, viagem à Europa – cria necessidades. E claro que não dá condições para concretizá-las. A sociedade de consumo está criando necessidades artificiais e está levando os que não têm ao desespero, à droga, miséria... Esse desejo da coisa nova é uma coisa poderosa. O capitalismo descobriu isso graças ao Henry Ford. O Ford tirou o automóvel da granfinagem e fez carro popular, vendia a 500 dólares. Estados Unidos inteiro começou a comprar automóvel, e o Ford foi ficando milionário. De repente o carro não vendia mais. Ele ficou desesperado, chamou os economistas, que estudaram e disseram: “mas é claro que não vende, o carro não acaba”. O produto industrial não pode ser eterno. O produto artesanal é feito para durar, mas o industrial não, ele tem que ser feito para acabar, essa é coisa mais diabólica do capitalismo. E o Ford entendeu isso, passou a mudar o modelo do carro a cada ano. Em um regime que fosse mais socialista seria preciso encontrar uma maneira de não falir as empresas, mas tornar os produtos duráveis, acabar com essa loucura da renovação. Hoje um automóvel é feito para acabar, a moda é feita para mudar. Essa ideia tem como miragem o lucro infinito. Enquanto a verdadeira miragem não é a do lucro infinito, é do bem-estar infinito.

<QUEM É>
Antonio Candido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro em 24 de julho de 1918, concluiu seus estudos secundários em Poços de Caldas (MG) e ingressou na recém-fundada Universidade de São Paulo em 1937, no curso de Ciências Sociais. Com os amigos Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado e outros fundou a revista Clima. Com Gilda de Mello e Souza, colega de revista e do intenso ambiente de debates sobre a cultura, foi casado por 60 anos. Defendeu sua tese de doutorado, publicada depois como o livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, em 1954. De 1958 a 1960 foi professor de literatura na Faculdade de Filosofia de Assis. Em 1961, passou a dar aulas de teoria literária e literatura comparada na USP, onde foi professor e orientou trabalhos até se aposentar, em 1992. Na década de 1940, militou no Partido Socialista Brasileiro, fazendo oposição à ditadura Vargas. Em 1980, foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores. Colaborou nos jornais Folha da Manhã e Diário de São Paulo, resenhando obras literárias. É autor de inúmeros livros, atualmente reeditados pela editora Ouro sobre Azul, coordenada por sua filha, Ana Luisa Escorel.

Publicado originalmente na edição 435 do Brasil de Fato.