12/05/2013 - 03h00
O novo racismo
SÃO PAULO - Acaba de sair nos EUA um livro que muda nossas
concepções sobre o racismo. É "Blindspot" (ponto cego), de Mahzarin
Banaji (Harvard) e Anthony Greenwald (Universidade de Washington).
A tese central dos autores é a de que o racismo mudou. O
sujeito que maltrata negros e os agride verbalmente é uma espécie em extinção.
O contingente cada vez menor de gente que acredita em conceitos como o de raça
inferior aprendeu a ficar calado. Não obstante, os efeitos do racismo continuam
firmes e operantes, como se pode constatar nas diferentes posições ocupadas por
brancos e negros numa série de estatísticas, como renda, desemprego, evasão
escolar, performance acadêmica, taxa de encarceramento etc.
Para a dupla de autores, a explicação está em nosso racismo
implícito ou inconsciente, do qual nós mesmos não nos damos conta, mas que pode
ser medido objetivamente através de um teste específico chamado IAT, que avalia
a facilidade com que associamos negros e brancos a conceitos positivos e
negativos. Cerca de 75% das dezenas de milhares de pessoas que fizeram o teste
nos EUA revelaram preferência automática por brancos. Outros estudos apontam
uma correlação moderada entre preconceito implícito e atos discriminatórios
contra negros.
Esses dados todos, porém, já eram mais ou menos conhecidos.
O grande "insight" do livro é a constatação de que o novo racismo, em
vez de envolver atos que prejudicam membros de outro grupo, assume cada vez
mais a forma de atos de favorecimento a membros do próprio grupo. Num mundo que
utiliza intensamente cartas de recomendação, "networking" e amigos no
lugar certo, isso pode fazer toda a diferença.
Se o novo racismo traz o benefício de não ser violento como
o tradicional, apresenta a desvantagem de ser algo muito mais difícil de
combater. Afinal, não dá para recriminar alguém por tentar ajudar seus amigos.
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou
"Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão"
em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas,
sábados e domingos e às quintas no site.
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