13 de fevereiro de 2014 por Fê Neute
Reproduzido de Feliz com a Vida.
VIAJAR O MUNDOVIAJAR O MUNDOEu
raramente falo sobre as minhas viagens por aqui, mas acaba sendo
inevitável que as pessoas sintam curiosidade sobre isso uma vez que
eu decidi pedir demissão do meu emprego em São Paulo para fazer
essa pesquisa sobre a felicidade viajando pelo mundo.
Depois de 6 meses na estrada, muita
gente ainda não entendia se isso era um ano sabático, se era uma
viagem de volta ao mundo ou o que eu vou fazer quando eu voltar ao
Brasil. Foi por causa dessas dúvidas que eu decidi escrever um pouco
sobre a minha vida e o que é ser um nômade digital.
Para muitos, inclusive para mim, essa é
a vida que todo mundo sonha. Poder viajar sem data definida para
voltar, conhecer lugares, viver experiências e trabalhar durante o
percurso. Mas, será que viajar pelo mundo e fazer o que ama é
realmente o caminho para ter uma vida mais feliz e plena? Uma vida
cheia de significado e propósito? A minha resposta é não.
- Como não? Não é você a pessoa que
está fazendo exatamente isso?
Sim, por isso mesmo. E para vocês não
me acharem louca, eu explico:
1. A felicidade está dentro de você
Espero que você não pare de ler
depois desse clichê de doer os olhos, mas não poderia ser mais
verdadeiro. Quanto mais você busca a felicidade, quanto mais você
tenta ser feliz, menos você é já que nossas expectativas acabam
sendo sempre mais altas do que a nossa capacidade de reconhecer a
felicidade.
Acho que desde o sucesso de Comer,
Rezar, Amar muita gente passou a achar que viajar o mundo pode ser a
solução para os problemas. Isso também acontece porque carregamos
memórias de momentos incríveis das nossas férias, lembramos da dor
ao fazer as malas para voltar e da depressão do primeiro dia de
trabalho.
Mesmo que você decida viajar por um
ano inteiro, vivendo uma aventura diferente todos os dias, a
realidade um dia vai bater à sua porta. E quando você voltar do seu
ano sabático, será que vai estar preparado para encarar o que te
espera?
OK, você percebeu que seu trabalho te
permite ser um nômade digital e você vai poder viajar para sempre!
Eu te garanto, depois de alguns meses isso não vai te fazer muito
mais feliz do que você era antes, sabe por que? Porque viajar vai
virar sua nova rotina e como toda rotina, vai ter seus momentos de
chatice, tédio e encheção de saco.
Você não será mais feliz em nenhum
outro lugar se já não for na sua vida normal. Se as coisas simples
que acontecem no seu dia-a-dia não estão te fazendo feliz,
acredite, isso não vai mudar por você estar viajando por um longo
período.
2. Viajar não vai solucionar seus
problemas
Parece meio óbvio depois do primeiro
item, né? Mas eu quero te cutucar um pouco mais. Independentemente
de onde você esteja, você já parou para pensar no que faz a sua
vida não ser pequena? Você já parou para pensar sobre qual é o
tipo de trabalho que te faria feliz? Ou quem sabe, você já parou
para pensar qual é o estilo de vida que você quer viver?
Nenhuma dessas respostas vão aparecer
magicamente enquanto você estiver meditando em Bali ou andando pelos
templos no Camboja.
Se você nunca parou para pensar nessas
coisas, é bom que pense e muito antes de decidir que você precisa
fazer uma viagem para se encontrar. Ao contrário do que você pensa,
viajar pelo mundo pode fazer você ficar muito mais perdido.
3. Sonho VS Realidade
Para que a gente tenha uma vida feliz é
preciso que haja equilíbrio. Tudo que acontece em excesso gera um
desequilíbrio inevitável que vai acabar trazendo algum tipo de
angústia ou até infelicidade. Isso vale para tudo. Beber demais,
comer de menos, trabalhar demais, se divertir de menos e até, viajar
demais.
O que você tem feito para trazer mais
animação e alegria para a sua vida cotidiana? É bem mais fácil
ter uma vida incrível viajando, mas vamos combinar que ninguém é
como um pássaro que migra durante o inverno deixando tudo para trás
todos os anos. Mesmo quando tomamos essa decisão, sabemos que isso
não vai durar para sempre e se você não estiver preparado, vai
ficar muito mais difícil ser feliz com uma vida normal depois de uma
experiência como esta.
Essa foi uma das principais razões
pela qual eu sugeri o desafio #100diasfelizescomavida. Primeiro,
porque quem participa passa a prestar mais atenção nas pequenas
coisas que fazem a vida mais feliz, mas também, para mostrar que
mesmo viajando vocês vão poder ver o quanto a minha vida é normal.
4. A armadilha do “faça o que você
ama”
Esse eu “roubei” do texto incrível
que eu li esses dias e você também deveria ler no link acima!
É uma entrevista que a Dani Arrais e a
Luiza Voll da Contente fizeram com a socióloga e doutora em ciências
sociais pela UNICAMP, Barbara Castro:
“Não é todo mundo que pode,
efetivamente, largar tudo e botar um mochilão nas costas (e aqui não
faço nenhum julgamento moral sobre isso, é só uma questão de
oportunidades e de classe), isso gera uma ansiedade absurda em quem
já se sente oprimido pelo trabalho. O problema é que o que circula
são sempre os casos bem sucedidos. De quem pediu demissão e
inventou um negócio bem sucedido. De quem nunca trabalhou em uma
firma e vive de frila, rodando o mundo enquanto escreve uma ou outra
matéria. Mas o que eu sempre me pergunto é: quem pode, efetivamente
fazer isso? Eu acho restrito, ingênuo e glamourizado. Porque amar o
que você faz sempre vem acompanhado de ter dinheiro, morar em uma
cidade incrível e cara e ser bem-sucedido. É um discurso de
felicidade que, além de irreal pra maioria das pessoas, quem não
vive de trabalhos criativos que podem ser feitos fora de uma empresa,
traz um modelo de felicidade hermético. E acho que o que a gente
precisa discutir de verdade é o que existe no trabalho tal como ele
é organizado hoje, que nos faz abrir esse flanco entre produção e
felicidade.”
Além de não ser fácil encontrar a
tal “paixão”, ninguém é feliz o tempo todo, mesmo quando ama o
que faz. Sempre vão existir angústias, medos ou sapos para engolir.
Acho que um bom exemplo é o caso, que
foi bastante comentado nas últimas semanas, da blogueira fitness
Gabriela Pugliesi. Em um ano, ela que era uma pessoa totalmente
comum, virou web-celebridade, esculpiu o corpo, passou a ganhar rios
de dinheiro e agora está tendo de lidar com a crítica e até
processo do Conar por propaganda velada. Não tenho dúvidas de que
ela faz o que ama, nem por isso deixou de passar por esse
inconveniente.
5. Propósito
Outro mito gerado pela teoria de viajar
o mundo para ser mais feliz é que, vivendo novas experiências,
conhecendo pessoas e lugares novos vai te ajudar a encontrar o seu
verdadeiro propósito, o significado da sua vida. Parece que o fato
de você estar trabalhando no seu escritório todos os dias das 9h as
18h é o que te impede de encontrar a sua vocação ou aquilo que vai
te fazer verdadeiramente feliz.
Desculpe te desapontar, mas você
também não vai esbarrar no propósito da sua vida andando pelas
ruas de Barcelona ou de Paris. Propósito, além de nem sempre estar
relacionado ao trabalho, é algo que você encontra fazendo coisas,
testando algo novo, se superando em algo que parecia difícil no
começo, correndo riscos, se relacionando com pessoas, ou seja,
aquilo que faz com que você tenha razões para sair da cama todos os
dias.
O que faz as pessoas acharem que vão
encontrar seus propósitos viajando é a sensação de que você vai
estar usando o seu tempo de forma mais inteligente e não perdendo
tempo no transito ou no trabalho que você odeia. Se você não tem
um propósito na sua vida hoje, viajar talvez só te proporcione uma
mudança de cenário.
Embora possa parecer, eu não quero te
convencer de que pedir demissão de um trabalho que não te faz feliz
e viajar o mundo seja uma péssima ideia. Eu fiz isso e não me
arrependo nem por um minuto. Mas fiz não porque eu odiava meu
trabalho ou porque eu queria “me encontrar”. Eu já era muito
feliz com a minha vida. Eu fiz para alimentar a minha avidez pelo
novo, pelo desconhecido, para me desafiar a sair ainda mais da zona
de conforto, mas sempre com o pé na realidade porque ela vai te
seguir onde quer que você vá.
A minha intenção aqui é escrever
exatamente o que você não quer ler quando acompanha um blog como o
meu. É dizer que nem sempre você precisa tomar uma atitude como a
minha para mudar o que não está fazendo você feliz ou para começar
algo que você queira muito.
Quer mudar algo? Comece pequeno. Quer
ter um blog? Escreva nos fins de semana. Quer aprender fotografia?
Compre uma câmera e saia fazendo testes por aí. Não gosta do seu
emprego, peça demissão, não para viajar, mas para abrir espaço
para algo melhor entrar.
Mudar de país ou fazer um mochilão
pelo mundo não é o que vai fazer com que você comece a criar
coisas novas para a sua vida. É a sua vontade de mudar aquilo que
não te faz feliz que vai!
“Em vez de ficar sonhando com o seu
próximo destino de férias, talvez você devesse criar uma vida a
qual você não precise fugir.”
– Seth Godin
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BOA NOTÍCIA. "A mais nova exposição do fotógrafo, Genesis, poderá ser visitada na área externa do Salão de Atos da UFRGS, a partir da mesma data."
Sebastião Salgado estará na UFRGS no
dia 14 de março para a Aula Magna de 2014, às 10h, no Salão de
Atos. A atividade é aberta ao público, com entrada franca, sem
necessidade de inscrição prévia.
A mais nova exposição do fotógrafo,
Genesis, poderá ser visitada na área externa do Salão de Atos da
UFRGS, a partir da mesma data.
As atividades integram a programação
especial da Universidade para comemorar seus 80 anos.
Foto: Suzanne Plunkett / Reuters
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