sábado, 5 de abril de 2014

Uma história que insiste em não ser esquecida

Este documentário (Brazil: Report on Torture, 1971), produzido por Haskell Wexler e Saul Landau, ainda com o Gal. Médici no poder, foi realizado no Chile, logo após a chegada dos 70 presos políticos brasileiros trocados no sequestro do embaixador da Suiça, Giovanni Bucher. Nele consta o depoimento do frei dominicano Frei Tito de Alencar Lima (14’57”), que, com 25 anos, foi torturado com choques elétricos por três dias - por vezes, em até 20h consecutivas - pelo capitão Benoni de Arruda Albernaz, do chamado Esquadrão da Morte, comandado pelo Delegado Fleury. Tito suicidou-se três anos depois, em Lyon (França), onde estava exilado com o apoio da Igreja. Sua história é contada no livro Batismo de Sangue, de Frei Beto, posteriormente convertida no filme de mesmo nome, por Helvécio Ratton, em que Tito é interpretado pelo ator Caio Blat. Impressionante nesse documentário, entre outras coisas, os traços medievais e os cuidados ritualísticos e clínicos relatados sobre o comportamento e procedimentos dos torturadores. Igualmente chama a atenção o vigor moral e de solidariedade declarados por várias das vítimas no modo como afirmavam seus ideias e negavam entregar seus companheiro/as, mesmo sob torturas selvagemente dolorosas. É ingenuidade ou má fé sustentar que essa cultura de terror possa ter se apagado, do dia para a noite, das práticas policiais brasileiras em tão pouco tempo. Especialmente porque a ideologia repressora também se perpetua hoje, por várias vias de poder, muito além das casernas. Os religiosos e militares sérios de hoje não deveriam esquecer de episódios como esse, de um momento nacional em que o País declarou guerra contra sí mesmo. Quem quiser saber mais dessa história, recomendo "Setenta", documentário de Emilia Silveira. Os leitores desse blog, dos vários Países abrangidos pelos episódios aqui registrados, sintam-se à vontade em comentar o documentário, contribuindo com mais luzes sobre esse momento sombrio vivido pela América Latina.

Nenhum comentário: