(este texto é uma repostagem do blog da linda da Georgia
Faust) texto de Pamela Clark tradução Georgia Martins Faust & Tarsila Mercer de Souza. Via Marcos Rolim (Face)
Texto e Imagem reproduzidos de Marilia Moscou
No Facebook, um amigo recentemente linkou para um artigo
chamado 20 Ferramentas para que os Homens Favoreçam a Revolução Feminista.
Embora ele tenha gostado da lista, ele (corretamente) observou que a maioria
das sugestões eram bastante acadêmicas. O amigo em questão, como eu, é um
acadêmico, então essa observação não é para ser uma acusação ao artigo
original. Só que ferramentas práticas e ferramentas acadêmicas podem ter
lugares diferentes no mundo.
Os comentários dele me incentivaram a criar uma lista de
ferramentas mais práticas. A maioria dos homens – em particular homens que se
beneficiam de múltiplas formas de privilégio estrutural – fazem muitas coisas
que direta e indiretamente contribuem para uma cultura de desigualdade de
gênero. Até mesmo homens que apoiam o feminismo em teoria podem não ser tão
bons em aplicar o feminismo em suas práticas diárias.
A lista traz sugestões de algumas ferramentas práticas que
todos os homens podem aplicar em seu dia-a-dia para promover a igualdade em
seus relacionamentos com mulheres, e para contribuir com uma cultura onde as
mulheres sintam-se menos sobrecarregadas, inseguras e desrespeitadas.
Parte de viver em uma sociedade patriarcal é que os homens
não são socializados para refletir sobre como seus hábitos e atitudes
prejudicam mulheres. Essa lista foi feita para incentivar os homens a pensar
mais conscientemente e pessoalmente sobre os efeitos diretos e indiretos que
eles tem sobre as mulheres, e para pensar mais sobre como eles podem contribuir
com o feminismo através de suas práticas diárias.
A lista não se pretende exaustiva nem exclusiva. Certos
itens da lista vão se aplicar a alguns homens mais do que a outros, mas se você
é um homem e humano, eu garanto que há pelo menos uma área da lista onde você
possa melhorar. Caso você ache que esquecemos alguma coisa, me diga! Se você
acha que algum ponto na lista é problemático, vamos conversar a respeito!
1. Faça 50% (ou mais) do trabalho doméstico
Você precisa fazer a sua parte do trabalho doméstico o tempo
todo, por sua própria iniciativa, sem procrastinar, sem ser pedido, sem
inventar desculpas. Reconheça que seus hábitos domésticos e suas idéias
internalizadas sobre trabalho doméstico não-remunerado têm um enorme viés de
gênero e beneficiam os homens incrivelmente, e aceite que é sua
responsabilidade lutar contra isso. Se feminismo é a teoria, lavar a louça é a
prática. Na próxima semana, observe quanto do trabalho doméstico você faz
quando comparado com as mulheres que moram com você e observe se essa divisão é
equitativa.
2. Dê 50% (ou mais) do supore emocional em seu
relacionamento afetivo e amizades.
Reconheça que mulheres são desproporcionalmente responsáveis
pelo trabalho emocional e que ser responsável por isso tira tempo e energia de
outras coisas que elas consideram satisfatórias.
3. Consuma produtos culturais produzidos por mulheres.
Seja lá quais forem seus interesses – cinema Francês,
astrofísica, baseball, ornitologia – certifique-se de que as vozes das mulheres
e os produtos culturais das mulheres estejam representados naquilo que você
está consumindo. Se não estão, esforce-se para incluí-las.
4. Dê espaço para as mulheres
Muitas mulheres andam por aí – especialmente à noite ou
quando sozinhas – sentindo-se ameaçadas e inseguras. Estar em proximidade
física com um homem desconhecido pode exacerbar essa sensação. Reconheça que
esse medo não é tão irracioonal assim para mulheres, dado que tantas de nós já
experienciaram perseguição ou abuso ou nos fizeram sentir inseguras por homens
quando estamos em espaços públicos. Também reconheça que não importa se você é
o tipo de homem que não dá motivo nenhum para ser temido, porque uma mulher na
rua não tem como descobrir isso a seu respeito.
Exemplos: Se um banco estiver vago no transporte público
perto de um homem, sente naquele assento ao invés de ao lado de uma mulher. Se
você estiver andando em uma rua escura atrás de uma mulher andando sozinha,
atravesse a rua para que ela não precise se preocupar que alguém esteja
seguindo ela. Se uma mulher estiver de pé sozinha em uma plataforma do metrô,
fique a certa distância dela.
5. … mas inclua-se em espaços onde você possa usar da sua masculinidade
para interromper sexismo.
Exemplos: desafie homens que fazem comentários e piadas
sexistas. Se você vir uma amiga mulher em um bar/em uma festa/no metrô/onde
quer que seja se sentindo desconfortável com a abordagem de algum homem, tente
interferir de maneira amigável para oferecer a ela uma saída caso ela assim
deseje. Se você vir uma situação onde parece que uma mulher esteja em perigo
quando em companhia de um homem, fique próximo o suficiente para ser uma
presença física, monitore a situação e esteja a postos para chamar ajuda se
necessário.
Coisas desse tipo podem ser super difíceis, estranhas e
complicadas para saber como fazer, mas vale a pena tentar de qualquer jeito.
Sentir-se momentaneamente desconfortável é uma troca justa para fazer com que
uma mulher se sinta mais confortável.
6. Quando uma mulher te diz que alguma coisa é sexista,
acredite nela.
7. Eduque-se a respeito de consenso sexual e certifique-se
de que haja uma comunicação clara e inequívoca de consenso em todas as suas relações
sexuais.
8. Seja responsável pela contracepção.
Se você está em um relacionamento onde a contracepção é
necessária, ofereça-se para utilizar métodos que não tenham riscos à saúde da
mulher (uso de hormônios, cirurgias, etc) e trate esses métodos como opções
preferenciais. Se sua parceira preferir um método em particular, deixe-a ser
responsável por tomar essa decisão sem questionar ou reclamar. Não faça manha
sobre usar camisinha, e seja responsável por comprá-la e tê-la disponível caso
esse seja o método que vocês estejam usando.
Assuma a responsabilidade financeira por qualquer custo
relacionado à contracepção. Mulheres ganham menos que homens, e também precisam
assumir todo o risco físico de uma gravidez. E mais, em instâncias onde a
contracepção envolve qualquer tipo de risco físico, virtualmente são sempre as
mulheres que têm que assumir esse risco. Como um gesto de compensação minúscula
dessa disparidade, homens heterossexuais deveriam financiar todo o custo com
contraceptivos.
9. Tome
a vacina de HPV.
Se você for um homem jovem, tome. Se você tiver um filho
jovem, certifique-se de que ele tome. Já que as mulheres são aquelas
desproporcionalmente afetadas pelas consequências do HPV, por questão de
justiça os homens deveriam ser aqueles que pelo menos assumam os riscos
potenciais de ser vacinados. (Eu sou amplamente pró-vacinas em geral e não
acredito que hajam riscos significativos, mas essa é uma questão de princípio.)
10. Tenha uma política de nomes progressista.
Se você e sua parceira mulher decidirem que a instituição do
casamento é algo com a qual vocês querem se envolver, esteja aberto para que
ambos mantenham seus sobrenomes. Se ter um sobrenome em comum com sua esposa é
tão imporante para você, esteja disposto a mudar o seu sobrenome e trate isso
como uma opção preferencial à sua esposa trocar o dela.
11. Se vocês tiverem filhos, sejam pais da mesma forma
Esteja disposto a tirar licença paternidade e ficar em casa
cuidando deles quando eles forem pequenos. Divida as responsabilidades de
cuidado de modo que você esteja fazendo pelo menos 50% do trabalho, e garanta
que esse cuidado seja dividido para que você e sua parceira ambos possam ter
uma quantidade igual de tempo para brincar com seus filhos também.
12. Preste atenção e desafie instâncias informais de reforço
de papéis de gênero.
Por exemplo, você está em um evento de família ou em um
jantar, preste atenção se são apenas (ou em sua maioria) mulheres que estão
preparando a comida/limpando/cuidando das crianças enquanto os homens estão
socializando e relaxando. Caso positivo, mude a dinâmica e implore que outros
homens façam o mesmo.
13. Esteja atento a diferenciais de poder com viés de gênero
explícitos e implícitos em seus relacionamentos íntimos/domésticos com
mulheres… seja com parceira, membros da família ou colegas de quarto.
Esforce-se para reconhecer diferenciais de poder estruturais
inerentes baseados em raça, classe, gênero, orientação sexual, idade (e assim
por diante). Onde você se beneficiar desses desequilíbrios estruturais,
eduque-se a respeito de seu privilégio e trabalhe para encontrar formas de
criar um equilíbrio de poder mais igualitário. Por exemplo, se você estiver em
uma parceria doméstica onde você é o principal provedor financeiro, eduque-se a
respeito da diferença salarial com viés de gênero, e trabalhe no sentido de
dividir o trabalho e os recursos econômicos dentro de sua casa de um jeito que
aumente a autonomia econômica de sua parceira.
14. Certifique-se que honestidade e respeito guiem seus
relacioonamentos românticos e sexuais com mulheres.
A forma com que você trata mulheres com quem você tem um
relacionamento é um espelho dos seus valores com relação a mulheres em geral.
Não adianta abraçar a teoria feminista e tratar suas parceiras como lixo. Seja
honesto e aberto sobre as suas intenções, comunique-se abertamente para que as
mulheres possam tomar decisões informadas e autônomas sobre o que elas querem
fazer.
15. Não seja um expectador quando em face de sexismo.
Desafie pessoas que façam, digam ou postem coisas sexistas
na internet, especialmente em mídias sociais.
16. Seja responsável com dinheiro em relaciconamentos domésticos/românticos
Saiba que se você for irresponsável com dinheiro, isso
necessariamente impacta sua parceira e já que mulheres ainda ganham menos que
homens em geral (e vivem mais), essa é uma questão feminista.
Exemplo: Sua dívida no cartão de crédito/desperdício de
dinheiro/problema com apostas têm impacto sobre a vida econômica e o futuro
dela. Compartilhe o orçamento doméstico, a declaração de imposto de renda e as
responsabilidades das finanças pessoais e seja aberto e honesto sobre o
gerenciamento financeiro doméstico.
17. Seja responsável pela sua própria saúde.
Homens vão ao médico com menos frequência que mulheres
quando algo os incomoda, e quando eles vão geralmente é por insistência das
mulheres do seu convívio. Ter uma longa vida em parceria com sua esposa
significa ser responsável pela sua própria saúde, prestar atenção a qualquer
incômodo e levá-los a sério. Já que somos dependentes um do outro, sua saúde a
longo prazo é também a saúde a longo prazo dela.
18. Não fique secando ou faça comentários sobre mulheres
(ex. mantenha a boca fechada e seus comentarios pra si mesmo)
Ainda que possa ser mais provável que as mulheres usem
roupas mais reveladoras que os homens, não fique as secando só porque você quer
e pode. Mesmo que você ache alguém atraente, existe uma linha entre perceber a
pessoa e ser um babaca/ desrespeitoso. Isso faz com que a pessoa que recebe a
secada se sinta desconfortável, assim como qualquer outra mulher que perceba
que você está secando alguém ou percebam dos comentários.
19. Preste atenção ao gênero dos especialistas e principais
personalidades que apresentam informações para você na mídia
Quando você estiver assistindo a um especialista na TV,
lendo artigos, etc., perceba com que frequência essa informação virá de um
homem, e, no mínimo, imagine o quanto uma perspectiva feminina poderia ser
diferente.
20. Assegure-se de que alguns de seus herois e modelos de
exemplo sejam mulheres
21. Elogie as virtudes e conquistas das mulheres da sua vida
para as outras pessoas.
Nas conversas diárias e na sua comunicação em geral, fale
para os outros sobre as mulheres que você conhece sob um ângulo positivo.
Sugira as suas amigas mulheres para projetos, trabalhos e colaborações com as
outras pessoas que você conhece.
22. Seja íntegro com os seus amigos homens (ex. não seja um
“parça”)
Quando um amigo homem está fazendo algo sexista (deixando de
cumprir obrigações parentais, falando mal de mulheres, secando elas, gastando
dinheiro compartilhado em segredo, mentindo para sua parceira, etc), seja
íntegro e diga algo para o seu amigo. Não é suficiente pensar que está errado;
faça-os saber que você acha que está errado.
23. Não trate a sua esposa como uma “pentelha”. Se ela está
“pentelhando”, você está provavelmente deixando algo para trás.
24. Saiba que reconhecer suas próprias opiniões e
estereótipos sexistas não é o suficiente. Faça algo a respeito disso.
25. Tenha amigas mulheres.
Se você não tem nenhuma amiga mulher, descubra o porquê e
faça algumas amigas. Assegure-se de que sejam relações autênticas e
significativas. Quanto mais a gente se preocupa e se identifica uns com os
outros, mais chance a gente tem de criar uma sociedade mais igualitária.
26. Encontre mentoras/líderes mulheres (ex. seja subordinado
à mulheres)
Se você está procurando um mentor, ou quer ser voluntário de
uma organização, vá a uma mulher ou a uma organização liderada por uma mulher.
Saiba que há muito a aprender de mulheres em posições de comando.
27. Quando estiver em um relacionamento romântico, seja
responsável por eventos e datas especiais ligados ao seu lado da família.
Lembre-se dos aniversários dos membros da sua família e
eventos importantes. Não deixe para a sua esposa a responsabilidade de enviar
cartões, fazer ligações, organizar reuniões, etc. É sua família, e portanto sua
responsabilidade de lembrar-se, preocupar-se e contatá-los.
28. Não policie a aparência de mulheres.
Mulheres são ensinadas a internalizar normas de beleza
extremamente restritivas desde quando são crianças muito pequenas. Não faça ou
diga coisas que façam com que as mulheres sintam que não estão cumprindo essas
normas, ou crie pressão para que elas as cumpram. Ao mesmo tempo, também não é
uma resposta feminista fazer ou falar coisas que pressionem mulheres a usar seu
corpo para resistir a essas normas se elas não quiserem. Reconheça que há
significativas sanções sociais para mulheres que desobedecem padrões de beleza
e não podemos esperar que elas ajam como mártires e aceitem essas sanções se
não quiserem.
Se de acordo com seu senso estético ou ideais você acha que
ela usa muita maquiagem ou maquiagem de menos, retire pêlos corporais ou não o
suficiente, não é da sua conta como as mulheres decidem a aparência de seus corpos.
29. Ofereça-se para acompanhar suas amigas mulheres se elas
tiverem que caminhar para casa a noite sozinhas… ou em um espaço público onde
provavelmente elas se sentiriam inseguras.
Mas não insista em fazê-lo ou aja como se você estivesse
sendo o maior cavalheiro do mundo por fazer isso.
30. Injete feminismo em suas conversas diárias com outros
homens.
Se o seu pai não faz a sua parte do trabalho doméstico,
converse com ele sobre porquê isso é imporante. Se seu amigo trai a namorada
dele ou fala dela negativamente, falefrancamente para ele que respeitar a
mulher com quem ele tem um relacionamento íntimo faz parte de ter respeito com
mulheres em geral. Tenha conversas com seus irmãos mais novos e seus filhos
sobre sexo consentido.
31. Se você tem tendência a se comportar de maneira
inadequada com mulheres quando você está sob a influência de drogas ou álcool,
não consuma drogas ou álcool.
32. Tenha consciência do espaço físico e emocional que você
ocupa, e não tome mais espaço do que você precisa.
Use sua cota justa de tempo de fala nas suas conversas, dê
tanto às relações quanto você recebe, não sente com suas pernas abertas de modo
que outras pessoas não consigam sentar confortavelmente ao seu lado, etc.
33. Faça o que deve ser feito com relação a desigualdade de
renda.
Mulheres ainda ganham 77% do que homens ganham. Se você está
em uma posição que te possibilite fazer isso, considere doar simbolicamente 23%
do seu salário para causas orientadas à justiça social. Se 23% parece muito
para você, é apenas porque é muito, e também é muito para mulheres que não tem
escolha de receber esse valor ou não.
34. Adquira o hábito de tratar a sua masculinidade como um
privilégio não-merecido que você precisa trabalhar ativamente para ceder ao
invés de tratar a feminilidade como uma desvantagem não-merecida que as
mulheres precisam batalhar para superar.
35. Auto-identifique-se como feminista.
Fale sobre feminismo como uma crença natural, normal,
incontestável, porque deveria ser mesmo. Não se restrinja usando termos como
“humanista” ou “aliado feminista” que reforçam a ideia de que a palavra
Feminismo por si só é algo assustador.
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