quarta-feira, 23 de julho de 2014

Os massacres de ontem e hoje, e suas relações - Provocações de Tião

Por Sebastião Pinheiro*

Três jovens cidadãos de Israel foram seqüestrados e mortos. Não houve investigação ou julgamento. Em represália um jovem palestino (sem cidadania) foi queimado vivo (Lei de Talião). Essa violência na região onde nasceram as três mais importantes religiões soa a barbárie, que não existe entre as mais primitivas comunidades do Planeta.

Violência é o tipo de interação humana que ameaça indivíduos e sociedade do físico ao espiritual. Covardia é sua ação exacerbada e corrupta sobre sabedoria, introspecção, conhecimento e prudência. Toda e qualquer violência é aceita por quem a justifica e pratica, até a chegada do remorso, arrependimento.

Talvez este arrependimento tenha chegado a todos os doces e alegres holandeses quando seus soldados, sob a bandeira das Nações Unidas, se omitiram na matança de bósnios por sérvios, por tal agora condenados pelo Tribunal Internacional de Haia. Eles agora choram suas vítimas à bordo do avião (MH17) da Malásia Airlines derrubado sobre o leste da Ucrânia. 


Outros massacres
No passado, os massacres dos povos originais sejam exemplificados em: “La noche Triste”, Massacre Guarani, Wounded Knee e outros feitos pelos colonizadores não são enfocados com cuidado no modelo de educação, o que dificulta uma percepção de violência, covardia e responsabilidade, como na questão da escravidão negra, indígena atual e atropelos dos reiterados golpes e ditaduras.

Vivenciamos um massacre palestino com o máximo de estardalhaço, embora os meios de comunicação não usem o termo massacre, assim violentam a realidade com o termo disputa e conflito entre Israel e o Hamas, ignorando que por trás está o povo “filhos de Ismael” (palestino).

Não faz muito, 400 mil não-árabes foram chacinados em Darfur no Sudão do Sul, por reservas estratégicas de energia; Um pouco antes, na Bósnia (1992-1995), 200 mil foram mortos e 2 milhões expulsos por intolerância.

Concomitante, em Ruanda, mais de 700 mil Tutsies/Hutus foram chacinados, embora algumas cifras acusem o total de 1,2 milhões de vítimas dessa selvageria. 


O massacre mais intenso ocorreu entre os indonésios, com a perseguição e morte de 500 mil comunistas entre 1965 e 1967. O impacto foi tão grande na economia local, que o ditador Sukarno recebeu a compensação dos EUA/Grã Bretanha para ocupar o Timor Leste, antiga colônia portuguesa, onde foram sacrificadas mais 150 mil timorenses (Liquiçá), dos quais 20 mil foram queimados com Napalm. Na Indonésia mesmo os protestos pacíficos são tratados com extrema violência; por exemplo, 400 estudantes foram fuzilados dentro de um cemitério em 1999.

Sob a influência do fim da Guerra do Vietnã, no Camboja, entre 1975 e 1979, houve um massacre pelo Khmer Rouge de 1,7 milhão de concidadãos.

O Holocausto judeu durante a Segunda Guerra Mundial (120 milhões de vítimas) é o mais volumoso (6 milhões de vítimas), e seguiu um padrão de produção industrial pelo bestial, pelo, por muitos considerados, povo mais educado e culto do planeta, os alemães sob governo nazista (foto). Podemos incluir neste a caçada aos ciganos (Romanís, Porajmos) com 500 mil vítimas feita pelos mesmos autores.






O Exército Imperial japonês cometeu na China o Massacre de Nanquim com mais de 400 mil mortos (foto), uma grande maioria de prisioneiros que foram enterrados vivos. Em Harbin instalaram um campo de Extermínio onde 400 mil pessoas foram transformadas em cobaias e dissecadas vivas sob o mais variado tipo de tormentos. 




O genocídio ucraniano (Holomodor), perpetrado por Stalin para transformar camponeses das terras mais férteis do mundo em trabalhadores coletivistas, chacinou mais 300 mil vítimas. Contudo, no total, foram 3 milhões de pessoas.

O massacre dos circassianos, muçulmanos por ordem do czar russo eliminou 400 mil e exilou 1,2 milhões, fazendo desaparecer sua cultura e até idioma.

Outro massacre conhecido foi o genocídio dos armênios calculado entre 1 e 2 milhões de vítimas.

Na sua colônia A África do Sudoeste (hoje Namíbia) entre 1904 e 1907 o Império Alemão copiou os campos de concentração britânicos da Guerra dos Boers na vizinha África do Sul e os transformou em campos de extermínio de 65 mil Hererós e 10 mil Namakas


Covardia

Sendo o Estado de Israel formado pelas vítimas do mais hediondo holocausto desse planeta, e sendo infinitamente mais forte poderia revidar ou aplicar covardemente essas represálias? Jamais, pois isso demonstra imprudência e ignorância. Como foram os soldados holandeses na ONU, condenados no Tribunal de Haia, pela omissão na Bósnia.


Ademais, há o exemplo: muito antes da derrota no Vietnã, o Tribunal Bertrand Russel, que condenou os EUA pela guerra que custou mais de 6,5 milhões de vítimas sacrificados, onde depois eles foram derrotados e gigantescas repercussões sobre a sociedade mundial.

Por outro lado, o avião MH17 foi derrubado. Por quem, por quê, para quê? Infelizmente não sou ingênuo, mas tenho certeza que todos os exemplos anteriores de genocídio e massacres começaram como a Primeira Guerra Mundial (40 milhões de vítimas - aos quais se pode somar mais 40 milhões, pela gripe espanhola), cujo início vai cumprir cem anos na semana vindoura, com um pequeno ódio de pouco ou nenhum significado.

Lembro que no coração da Província de Buenos Aires há um departamento (município) de nome Benito Juarez, em homenagem a um menino das montanhas de Oaxaca (Gelatao) que ficou célebre, quando presidente do México por uma frase singela: “El respecto al derecho ajeno es la paz.”

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*Engenheiro Agrônomo e Florestal, escritor e ambientalista

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