“Brasil vai defender que os movimentos sociais sejam ouvidos no âmbito do banco dos BRICS”

Carlos Cozendy (ao centro) respondeu questões dos movimentos sociais sobre funcionamento do banco dos BRICS
Publicado em 16 de julho de 2014 às 20:53
Reproduzido do Viomundo
Negociador brasileiro explica como vai funcionar o Novo
Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS
Embaixador Carlos Cozendy foi “sabatinado” durante debate
promovido pela Rebrip
por Isaías Dalle, de
Fortaleza, no site da CUT
O nome escolhido para a instituição financeira criada pelos
BRICS é Novo Banco de Desenvolvimento.
Já tem slogan: “Um Novo Banco para um Novo Desenvolvimento”.
A informação foi dada na manhã desta quarta, dia 16, pelo
embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendy, o principal negociador brasileiro
durante o processo de criação do banco.
Curiosamente, essa foi a única informação que ninguém havia
pedido.
O embaixador esteve em debate promovido pela Rebrip (Rede
Brasileira pela Integração dos Povos), em Fortaleza (CE), quando foi
questionado sobre como o novo banco vai funcionar e se será, de fato, uma
alternativa ao modelo financeiro internacional existente.
Ele diz que o banco pode, no longo prazo, produzir mudanças
no sistema financeiro tradicional. “Mas que não se espere que isso vá ocorrer
logo no primeiro dia”.
O banco terá um capital inicial de US$ 50 bilhões.
A seguir, os principais pontos explicados por Cozendy:
A China vai mandar no novo banco?
A sede será em Xangai. Cozendy explica que os cinco países
terão cotas iguais (20%), ou seja, nenhum sócio será formalmente maior que o
outro.
Para equilibrar o processo decisório, a China será o último
a presidir o banco.
Primeira presidência caberá a Índia, depois, na sequência,
Brasil, África do Sul e Rússia. O embaixador informa também que haverá um
centro, uma espécie de subsede, na África do Sul. “A melhor solução para todos
os pontos que precisaremos definir daqui para frente é que as vozes dos
acionistas sejam devidamente ouvidas”.
O banco vai se financiar com recursos do sistema financeiro
tradicional?
“Não há dois mercados financeiros oficiais no mundo. Então,
vamos ter de recorrer ao único que existe. Então, vamos fazer captação de
recursos globalmente. Vamos ter de decidir, caso a caso, se queremos, por
exemplo, nos capitalizar com bônus dos EUA, por exemplo”, diz.
O sistema financeiro vai ditar as regras do banco?
“Ninguém quer ser sancionado pelo mercado dos EUA, por
exemplo. Por isso, nossas operações terão, inicialmente, de considerar a lógica
atual. Mas, sem dúvida, pelo nosso peso, teremos um poder de negociação junto
ao mercado muito maior (…) Temos um potencial futuro de mudar o sistema
financeiro, fazendo com novas práticas que até organismos como Banco Mundial e
FMI mudem. Mas sem ilusão de que no primeiro dia tudo vai ser diferente”.
O banco vai poder realizar empréstimos e investimentos em
outras moedas que não o dólar?
“Prevemos que vamos trabalhar com outras moedas. Depende de
onde será o investimento. Se for no Brasil, por exemplo, podemos usar o real. O
problema é que essas moedas, por causa das regras atuais, não são conversíveis
no mercado internacional, o que é prevalência do dólar. Mas quando pudermos,
vamos usar outras moedas em transações multilaterais”.
Só os cinco países poderão aderir ao banco?
“Só os cinco serão acionistas com direito a voto. Caso
outros países queiram aderir, vamos sempre manter 55% do capital”.
Os empréstimos serão dirigidos apenas aos cinco países?
“Pretendemos cooperar com outros países em desenvolvimento”.
O banco vai impor condicionantes ambientais, sociais e
trabalhistas aos empréstimos?
“Há uma fronteira tênue entre dar à instituição o poder de
condicionar os empréstimos a certas exigências e não permitir que essa mesma
instituição possa interferir na política interna dos países. Estes dois lados
não são facilmente separáveis. A melhor solução aí é que as vozes dos
acionistas sejam devidamente ouvidas (…) O Brasil vai defender sempre que as
entidades da sociedade civil sejam ouvidas e consultadas, e que tenham poder
propositivo. Daí a importância de os movimentos sociais pressionarem e proporem.
Eu digo que o Brasil, independentemente dos demais, vai dialogar com os
movimentos no âmbito do banco”.
Quais critérios serão usados para financiar empreendimentos
e ao mesmo tempo considerar o meio ambiente?
“Nossa referência, e aí digo pelo banco como um todo, será a
Rio + 20”.
A criação do banco vai livrar os países de órgãos como FMI e
Banco Mundial?
“Continuaremos associados ao Banco Mundial e ao FMI. Mas
cremos que com o tempo, nossa menor dependência e a construção de novas
políticas levem os outros a caminhar em uma nova direção”.
Os BRICS também anunciaram a criação de um fundo de socorro
aos países-membros. Isso dispensará a existência do FMI?
“Não está no horizonte de nenhum dos cinco países a
necessidade de recorrer ao FMI. Mas na hipótese de isso ocorrer, esse fundo
emprestará 30% do total que o país precisa, com condições diferenciadas. O
restante terá de ser buscado no FMI. Mas esses 30% servirão como um colchão que
dará ao país um outro poder de negociação com o FMI”.
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