quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Cronema sobre King Júnior de Atlanta

Por Ronaldo Martins Botelho

Um dia qualquer, de uma década de crise, em uma cidade de nome místico veio ao mundo  um menino
jovem aberto ao sentimento, aprendeu cedo a olhar diferente as ausências em que vivia,
de liberdade
Nasceu e cresceu entre o sagrado, e também cedo começou a duvidar
da maldade

Michael King se chamava, mas de rei nada tinha, além da nobreza
Do caráter
Preta era sua cor e iluminada era sua negra
consciência
Tinha fé, mas acreditava também em um mundo melhor nesse Planeta, em que ele poderia existir com respeito e dignidade

Mas conforme crescia, mais se perturbava pelas injustiças à sua volta, na segregação,
naturalizada
King amava a vida, mas negava com veemência uma Paz violenta que se acomodava
no silêncio
Queria igualdade em seu País, berço de tantas bandeiras, e que tinha união
no nome

Em meio a essa anormalidade, concebeu seu tempo com a dor,
Do outro,
Já adulto, pertubado se fez com as restrições que o poder impunha entre uma mesma raça,
humana,
viu a estupidez, viva, transformada em direito legal, a justiça,
cega

Crente em uma verdade, mas fiel a uma utopia, negou a neutralidade social da religião,
vazia
Afirmou um caminho, contagiou multidões e enfrentou a violência de um ordem indecente,
E doente
Armado com seu não, foi perseguido, humilhado, encarcerado, mas já era tarde para morrer
Um ideal

Como tantas vezes na história, o chumbo silenciou muitas vezes, mas não conseguiu calar
a Liberdade
Pois o mundo estava atento, e espaços antes fechados tiveram que se abrir para milhões,
no horizonte
Por marchas e manifestos, panfletos e microfones, sementes de um sonho se espalharam,
um Nobel 

Mas a vida tem marcas que negam a ausência, e não detém o desfecho de um ciclo,
na luta,
Por destino de uma causa, em um abril polvoroso, na varanda de um hotel de Menphis,
um disparo
Do rifle de James, uma bala de alto calibre explodiu na mandímbula de king, e espalhou
sua voz

Tumulto, toque de recolher, soldados e mais prisões tentaram deter a agitação alastrada,
incrédula
Johnson pedia Paz, mas essa palavra já havia desgastado seu sentido,
Ferido
De Key West à Chicago; de Boston à Califórnia; de Nova York pelo mundo, uma falta
De um líder

Já foram 46 anos, desde que King transformou-se em memória, e hoje, ficou sua herança
E suas causas
Zumbi, Ho Chi Min, Gandhi, Mandela, e mais tantos outros, são cruzam-se nesses ideiais
vivos

Na Terminus, que se converteu em Atlanta,
King renasce sempre na lembrança dos milhares de indígenas vitimados pela limpeza étnica
da Trilha das Lágrimas
no Oeste Americano, do Norte ao Sul

Ontem,
Na esperança dos judeus até os últimos segundos de Auschwitz,
Na reflexão sobre o peso das botinas que cercaram Che Guevara,
Na memória dos que resistiram pela sua terra e sua vida no Vietnã

Hoje também permanece King,
na esperança por uma Pátria palestina, em Gaza
Na sede de justiça das maiorias negras, oprimidas pela intolerância da Polícia de Ferguson
Nas mães que aprendem a renascer dos cadáveres de seus filhos pela Baixa Fluminense

Martin Luther King Jr. era seu nome.
Não tinha medo, não tinha algemas, não tinha Pátria
Mas a memória de seus ideias nasce outra vez, a cada manhã, em muitas Terras

Com cada assovio livre de um pássaro,
com o galho da árvore que cede, mas não se quebra com o vento,
com o sorriso de uma criança que aprende a andar.

 De todos que compartilham o mesmo sonho:
Livre afinal, livre afinal*.

*Frase final do discurso “I heve Dreans”, realizado em 28 de agosto de 1963, por Martin Luther King


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