quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A inteligencia no petroleo

Sebastião Pinheiro*




Estava na limpeza e preparação do congá para a cerimônia de Mamãe Oxum (8 de dezembro), quando um calafrio percorreu a espinha e um trás outro foi “incorporando” e “saravando”. O primeiro foi Enrico Mattei, da ENI, italiana, morto pela CIA, digo sofreu acidente aéreo; O segundo foi Moussadehg o homem que nacionalizou o petróleo iraniano e liquidou com a Anglo-Persian Oil, logo derrubado e exilado pelo MI-5 e substituído pelo Xá; O terceiro foi o venezuelano JP Pérez Alfonzo, fundador da OPEP de fenestrado pela Standard Oil (Rockefeller)...

Os três esbanjaram-se com charutos e marafa, e logo, as gargalhadas ecoavam pelo congá e os três atabaques tiveram de variar entre tarantela, a suave Dashtagh persa e o agitado mambo. A intempestiva efusão era devido à preocupação do “cambono” (cavalo) com o “Petrolão”.

Mattei gesticulando muito se antecipou: ”A situação é tão surrealista que está cheirando a manobra de inteligência articulada com engenharia política, pois a cada dia surge uma agravante, che paura. Uma alternativa já foi proclamada: - Se o cartel das empreiteiras for para a cadeia o Brasil pára; Mas há outra mais astuciosa, que propôs a demissão da presidente e toda a diretoria da empresa estatal. Correção: Cartel é algo ilegal, logo o que temos é monopólio de obras compartido com aval governamental do executivo e duas intervenções do STF para sustar a ação subalterna.

Da minha experiência fica o reparo, se isto acontecer a presidente da república fica sem o escudo defletor e protetor, à mercê do toma lá da cá mediado pela mídia, judiciário e legislativo, bem ao gosto de quem está pescando o pré-sal; e, - A balbúrdia aproxima a possibilidade de “Impeachment”, de um lado como sujeito e do outro como objeto, e leva a todos e tudo ao caos na polarização máxima. Lembram de Biafra, Sudão do Sul? Sem a ingenuidade dos movimentos sociais rurais e urbanos vinculados às autoridades, que crêem estar com “bala na agulha para o que der e vier”. Ignoram que o senador Pierce Long candidato a presidente dos EUA foi assassinado após discurso acusando a Standard Oil de preparar a Guerra do Chaco, que tem apenas 0,0001% das reservas do pré-sal”.


Moussadehg não se acanhou, chegou rodopiando igual a um sufí: “O pior é que há muitas formas de privatizar o estatal ou para-estatal. Um exemplo é o fato de PEMEX e PDVSA possuírem mais refinarias nos EUA que em seus respectivos países. O petróleo bruto sai sem impostos e a baixo preço para ter competitividade. Lá, depois do refino todos os impostos ficam com eles e não podem ser remetidos, pela necessidade crescente de re-inversões fazendo crescer a economia yankee e quando retorna em Draw back está na forma de fertilizantes, agrotóxicos, plásticos que pagam patentes, serviços e são produzidos por empresas norte-americanas. Sem vantagens econômicas.”

Por fim, mas não atrasado chegou JP Pérez Alfonzo: “Talvez vocês não se lembrem do Shigeaki Ueki, ministro das Minas e Energia do ditador Geisel que na semana da visita do ditador à Rainha anunciou aos 4 ventos e sete mares a descoberta de petróleo na Bacia de Santos, que foi recalentado e turbinado por Lula com pompa e circunstancia como pré-sal inovador. As más línguas equatorianas e mexicanas afirmam que a estatal de petróleo brasileira é somente 26% capital nacional em função daqueles empréstimos assinados em Londres. Será verdade, será exagero? Mas voltemos às refinarias estrangeiras nos EUA, cuja matriz energética deixou de ser o petróleo, igual que no Canadá e passou a ser o Xisto betuminoso".



A questão é: O óleo de xisto vai ser precificado para baixo para impor menor preço ao petróleo bruto venezuelano, mexicano e brasileiro e aumentar as margens internas do comprador?”, concluiu Moussadehg.

Mattei tomou uma lapada de marafa e não se fez de rogado: “Quem lembra a política do carvão mineral no passado Ocidental e atualidade Oriental (China e Índia) precisa estar atento, pois há muitas estratégias comerciais antigas se revitalizando, que já fez a poderosa OPEP transformar-se em um Clube de Bridge de Senhoras de Terceira Idade”.

Pérez Alfonzo entrou na respiração dele: “Os diplomatas-cucarachas que arrotavam soberba após a Guerra dos 15 dias, hoje sequer possuem petróleo como Indonésia e Equador e estão totalmente endividados, importando. E não vamos colocar mais pimenta na moqueca, pois a reserva de Xisto Betuminoso da Letônia e da Ucrânia garantem à União Européia o contraponto comunitário similar ao dos EUA, perante o gás do urso russo. Eu quando assisto uma entrevista nos meios de comunicação fico pesaroso com a ignorância, incompetência ou má fé explícita”.

Mattei corrigiu: “Eu comecei mal, “não está cheirando bem” é eufemismo. O certo é está fedendo a manobra de inteligência com engenharia política muito distante do Atlântico Sul. Roubo de 70 bilhões de dólares por gerente e diretorzinho nomeado por partido político é conversa para boi dormir. E-mails para presidente direto de geóloga faz-me rir, cruzou um braço sobre o outro dobrado.

Moussadehg fulminou: “Como dizia minha avó paterna: O buraco é mais embaixo. É aí que devemos encontrar os responsáveis, antes que a balbúrdia impeça ou daqui 25, 30 anos os exilados voltem teleguiados como os salvadores da pátria, muito bem orquestrado e novamente a tragédia se repetirá como comédia não mais italiana, persa ou venezuelana.”

No repenique dos atabaques foram como haviam chegado, avisando: “Não confundam “alhos com bugalhos”, pois “petróleo” é estratégico financeira e economicamente, responsável por todas as guerras do Século XX e não admite neófitos ou incompetentes”. Para o império não só o petróleo, mas tudo deve ser “Just Heat & “Serve”, por isso governos sem personalidade abdicam do povo para serem parceiros de empreiteiras que roubam o trabalhador. Quem sai à chuva é para se molhar arrematou o italiano Mattei fazendo o clássico sinal do dedo mindinho e indicador eretos, e os outros dois presos pelo polegar... O meu filme “Il caso Mattei” foi censurado pelo Geisel. Per che?

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* Engenheiro Ambiental, escritor e ambientalista

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