A polícia militarizada
não precisa de movimentos contestatórios para se desmoralizar; ela depõe contra
sí na medida de sua própria impotência de conviver com a energia plural da
cidadania, porque, no fundo, nos moldes que é concebida e orientada, ela existe
para a proteção de uma classe, não de um Povo - independente do quanto de
humanidade que exista por dentro da farda (e há muita) - com todas as
distâncias entre peões e reis nesse tabuleiro. Para isso, é apoiada por uma
rede de fontes corporativas, racionais ou não, que constrói o discurso que
legitima seus desmandos, sempre em nome de uma certa ordem. Esta voz
reacionária, que é o mantra dos que querem a liberdade apenas para os
consumidores, se alimenta também no populismo e no sensacionalismo que cultiva,
férteis onde o Estado só chega como chumbo, e as religiões domesticadoras, ao
lado do crime, se ocupam de "salvar". Mas, por uma questão de
sobrevivência, esse mesmo discurso, que criminaliza os pobres e os movimentos
sociais, pretende reivindicar também, junto ao poder da classe que representa,
uma certa proteção seletiva de seus próprios produtores de bens simbólicos. Mas
aí, em geral, é tarde; porque terra é terra e aço é aço.
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