quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

"Eu sou um outro"


Haitianos em formatura do Curso de Capacitação em Atendimento ao Público da Prefeitura de Canoas, em abril de 2013
Foto: Paula Vinhas/PMC
A cada dia que retorno para casa, e que vejo pelas ruas, esquinas e praças negros, sozinhos ou em grupos, falando francês ou creolle, fico refletindo sobre como os haitianos que estão vindo para as cidades brasileiras têm contribuído para tornar o Brasil mais rico culturalmente e humanitário. Apesar das dificuldades duras que estes imigrantes enfrentam, desde a partida de sua pátria de origem, quase nada se houve ou vê de envolvimento dessas pessoas na criminalidade. Pelo contrário, a impressão que deixam, pelos seus comportamentos e atitudes, enquanto grupo étnico, é a de gratidão, disciplina e entusiasmo para vencer os obstáculos da vida. Nisso, acredito que nós, brasileiros, sempre temos o que aprender. O Brasil se construiu a partir da imigração, seja ela forçada ou estimulada. Mas é preciso que reconheçamos que a dívida histórica com os negros está longe de ser paga. Mesmo assim, a reparação por meio das cotas raciais uma forma de reconhecimento para uma inclusão social plena, em um País que ainda não enxerga seu racismo, prossegue tendo enorme resistência. Surpreendentemente, há um olhar mais sensível para com os haitianos pelas nossas classes mais remediadas. Tudo bem, o importante é que essa população vinda do Caribe está contribuindo para problematizar a forma de ver o negro, e quanto nos enxergarmos humanos entre as nossas diferentes etnias, melhor. Porque, no fundo, todos temos a capacidade de sentir fome, dores, medos, esperanças e gratidão. E, sobretudo, temos um destino comum, do qual ninguém escapa e, a partir do qual, deveríamos todos repensar nossos objetivos e atitudes nessa vida.

Nenhum comentário: