Sebastião Pinheiro*
Falta menos de um mês para o
Carnaval e, como diz a letrada da marchinha: “Recordar é Viver...” os termos
“Endossimbiose” e “Transplante de Bioma Fecal” trouxeram nostalgia.
Antes deste século, no Km 68 em
Alagoas, em um Assentamento da Reforma Agrária, onde está assentado o irmão da
Ita, fui convidado para falar sobre agrotóxicos. Ao fazer reconhecimento do
terreno, ignorei o pedido de consumo e optei por falar sobre Botânica
Camponesa. Foi uma das apresentações mais felizes de minha vida profissional.
Fazer com que pessoas humildes, alguns desarraigados da terra desde as Ligas Camponesas de F. Julião, voltassem a sentir auto-estima e amor próprio. Nos primeiros anos deste século, consegui idealizar, a pedido, o “Curso de Economia Invisível da Mulher Camponesa”, organizado e coordenado pelo Núcleo de Economia Alternativa e Movimento de Mulheres Camponesas (paritariamente), e que tive a responsabilidade de apresentar pequenas inserções sobre uma agricultura independente da conjuntura atual.
Fazer com que pessoas humildes, alguns desarraigados da terra desde as Ligas Camponesas de F. Julião, voltassem a sentir auto-estima e amor próprio. Nos primeiros anos deste século, consegui idealizar, a pedido, o “Curso de Economia Invisível da Mulher Camponesa”, organizado e coordenado pelo Núcleo de Economia Alternativa e Movimento de Mulheres Camponesas (paritariamente), e que tive a responsabilidade de apresentar pequenas inserções sobre uma agricultura independente da conjuntura atual.
Já vencido pela idade
(aposentado), durante 2014 atendi aos amigos e bolsistas do NEA participando no
curso de “Botânica Camponesa no Assentamento Filhos de Sepé” no município de
Viamão há 80 Km de Porto Alegre aos sábados, alternados, durante todo o dia. O
curso não teve a aceitação e repercussão, pois das centenas de famílias
assentadas, somente quatro ou cinco pessoas participavam do mesmo, mas
conseguimos fazer coisas interessantes, embora sem atingir o que havíamos
proposto.
Os descobrimentos do Novo e
Novíssimo mundo nos trouxeram uma riqueza biológica fantástica com
fortalecimento da economia e impondo à ciência estudar o novo: imaginem o mundo
sem o milho, sem a batatinha, sem o chocolate, chiclete ou o amendoim....
Calcule para uma criança indígena ou camponesa conhecer a participação de seus
ancestrais nesta domesticação, construção cultural, criação no momento em que a
palavra biodiversidade ganhava valor sonante na boca de políticos servis,
mercantilistas e entidades de informação e metapoder.
Uma grande maioria ainda hoje não
sabe por que existem os Jardins Zoológicos e os Jardins Botânicos, pensam que é
para o deleite dos seres exóticos e não Institutos de Estudos da Vida Vegetal e
Animal, na comodidade do ambiente Central de forma mais barata para os alunos,
sociedade e poder...
Não seja ingênuo de tentar
discutir botânica com um jesuíta, pois vais passar vergonha. O Jardim Botânico
da cidade de Nova York é maior que a união de todos os Departamentos de
Botânicas das Universidades do Continente; da mesma forma que o Jardim
Zoológico da Alemanha ocupada, era o maior centro de Investigação com a mesma
dimensão no continente (foto)...
É óbvio que o estudo de algo em seu local de origem cria um universo e cosmogonia, impossível de ser alcançado por quem o faz “ex situ”, com a necessidade de traduzir em valor crematístico os investimentos, daí uma visão de origem e efeito é mais que casual, é caminho obrigatório e dele saem todos os monismos comportamentais que palramos, repetimos e aceitamos como clichês em todos os níveis de nossas formações.
No assentamento e na nossa
botânica camponesa não tínhamos interesse no “darwinismo” ou “lamarquismo”
imperantes a partir do século XVIII na Europa, mas em empoderar pessoas
humildes na mais elitista de todas as ciências de nossas escolas, como ela não
é ensinada, mas deveria sê-lo.
E não pensem que isso ocorre por
sermos os preguiçosos da periferia. A “endossimbiose” de Margulis & Sagan
dos anos setenta, já era tema de livros no inicio do século passado e que
sequer chegam aos nossos estultos doutores com sua arrogância e prepotência na
atualidade. O livro “Simbiogênese: Um novo princípio de Evolução”, de Bóris, M.
Kozo-Polyansky foi escrito em 1924, estimulado por outro clássico de 1902, de
P. Kropotikin, “Ajuda Mútua um fator de Evolução”, que era uma resposta
científica e política aos darwinista Wallace, Herbert, Spencer.
Muitos outros cientistas como K.S
Merezhkovzky e Wallin nos EUA ficaram esquecidos ou escondidos, e seus
trabalhos não podia chegar à cidadania? Não seja ingênuo, é por isso que
estávamos dentro de um assentamento ensinando botânica a pessoas que mal sabiam
ler e escrever, tanto no Km 68 em Alagoas, como no “Filhos de Sepé” em Viamão
para subverter a ordem.
Ao postar o último texto em
homenagem aos camponeses – indígenas mexicanos, lembrei da situação esdrúxula
no último curso de Botânica Camponesa. A bolsista universitária de nutrição,
após ouvir que micróbios intervêm na síntese de Vitaminas do Complexo B e D,
afligiu-se em corrigir, que as últimas não têm intervenção de microorganismos
sendo sintetizadas nos rins de fígado.
Agora, às voltas com a “metagenômica” (e metaproteômica) e Transplante de Bioma Fecal – OPENBIOME BANK, surge a importância dos micróbios na transformação de D2 ergocalciferol e D3 choleocalciferol e desejo que ela tenha memória para ampliar sua visão monista da nutrição, com a cosmogonia, e não funcionalidade industrial, como alias é o que se ensina em toda a periferia do mundo..
Agora, às voltas com a “metagenômica” (e metaproteômica) e Transplante de Bioma Fecal – OPENBIOME BANK, surge a importância dos micróbios na transformação de D2 ergocalciferol e D3 choleocalciferol e desejo que ela tenha memória para ampliar sua visão monista da nutrição, com a cosmogonia, e não funcionalidade industrial, como alias é o que se ensina em toda a periferia do mundo..
Nossa prioridade é antagônica:
Lutar pelo transplante de húmus, através da saúde do solo, e não alterar nossa
dieta, sendo obrigado a comer merda para recuperar a saúde, mas fiquei muito
triste, pois o livro de Kozo-Polyansky Symbiogenesis, A New Principle of
Evolution, (foto) antes desconhecido, ou escondido, agora foi traduzido por
Victor Fet e editado por Lynn Margulis, em junho de 2010 para o inglês e
publicado pela Harvard Press.
A cientista Lynn Margulis faleceu
em 2011. No Brasil, o livro custa hoje 490 reais o que equivale a mais de cem
dólares. A vovó assentada, com sua lucidez cosmológica, sorriu ao sabê-lo: Não
precisa esconder, está bem escondido, sorriu. Já a comissária política,
treinada para preservação da fé, estava muito feliz com o termo biopoder
camponês. Exultou quando soube que era tirado de Michel Foucault, repetindo o
clichê: “Eu amo Foucault”... Envergonhado, mas não indiferente, fui escutar o
Visceral Rock “Nada mudou”.
Um dia, não muito longe, só nos restará a música e a
dança... Estou pensando em promover cursos de música desalienante para jovens,
camponeses e universitários. Leiam o livro de P. Kropotkin “Ajuda Mútua, um
fator de evolução”, sita coisas do Brasil que esse ancião desconhecia.., mas,
não tenho medo, pois o passado é depois de amanhã. Já pedi aos amigos mexicanos
cópia do livro traduzido.
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*Engenheiro Agrônomo e Florestal, ambientalista e escritor
**Encontre nesse blog, logo abaixo link para o acesso a tradução em português da obra “Ajuda Mútua, um fator de evolução”, de P. Kropotkin
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