sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A política cultural como extensão, a partir de onde a vida existe e pulsa

Agentes de Leitura no Guajuviras - Canoas (RS), experiência cultural descentralizadora e orgânica 
Foto: PMC, 2013
Início de ano da gestão dos governos municipais, bom momento para o planejamento de políticas culturais de sólida base popular e longo alcance social. Nessa área, a ideia de extensão pode ser muito oportuna ao se considerar o aproveitamento dos vínculos locais de uma realidade pelo produtor, artista ou mediador com os anseios e necessidades de uma comunidade.

No sentido freiriano, a ideia de estender o conhecimento, de alguém que tudo sabe (o técnico) para alguém que apenas absorve passivamente (o produtor) se ajusta bem ao propósito de promover o (re)encontro entre o artista e suas raízes.

Na extensão universitária, por exemplo, projetos de diferentes matizes ideológicas têm tido sucesso relativo, por meio de brigadas acadêmicas interdisciplinares entre regiões, em municípios distantes, com orientação e apoio à demandas de serviços básicos (saúde, agricultura, geração de renda, cultura, comunicação...). Uma troca rica e construtiva entre o saber popular e científico.

Reparo que, entre as diversas experiências desse tipo que já participei, sempre percebi que um dos seus pontos mais fortes estava, precisamente, no “reencontro” que tais iniciativas promoviam entre o acadêmico de um passado rural com seu presente “moderno”; e de seus conhecimentos-base, ancestrais, com os métodos e conceitos científicos, polidos pela sistematização e o discurso teórico. É permanentemente necessário canalizar/reforçar a valorização desses vínculos no âmbito das artes e das letras.
Esse propósito não é novo, e teve uma versão bastante promissora nos chamados Pontos de Cultura e Pontos de Leitura, inseridos na Rede Cultura Viva (culturaviva.gov.br), gestada pelo sociólogo Juca Ferreira, desde quando este começou a atuar no Ministério da Cultura, ainda no primeiro Governo Lula, lançou sementes que germinam por todos cantos do País.

Integrada a tal iniciativa, os Agentes de Leitura foi, certamente, uma das mais construtivas e democráticas experiências de descentralização cultural, na área do livro, leitura e literatura. A partir dela, mediadores de leitura, previamente capacitados, percorreram comunidades desassistidas do acesso aos bens culturais. Munidos de uma bicicleta, uma mochila com livros e uma certa habilidade lúdica, esses atores disseminaram o gosto pela leitura entre casas, barracos, praças e demais espaços de vida nos bairros.
Tais experiências confirmam a assertividade e necessidade desse encontro entre o artista em seu público, em um nível territorial. É desses rincões que as artes e as letras efetivamente se alimentam, e por onde melhor e mais legitimamente podem semear, colher e distribuir os frutos de uma política cultural democrática e popular. Mas é também por meio dessas margens, que surgem as condições mais propícias para a integração espaço-tempo, unindo o conhecimento entre diferentes gerações, em prol de uma arte emancipadora.

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