Retornei há pouco da Sala Redenção, onde assisti, com uma amiga, o documentário Milton Santos - por uma outra globalização, do cineasta Sílvio Tendler, dentro da mostra realizada na UFRGS sobre a obra daquele diretor. Milton foi um geógrafo singular, muito além dos mais de 40 livros e vários títulos Honoris Causas que recebeu pelo mundo. Foi um pensador que problematizou a Geografia em bases humanas, relacionando o espaço, tempo e sociedade, naquilo que tem a ver com as disparidades econômicas que o nosso mundo carrega há séculos, e sobre o qual os países subdesenvolvidos pagam, historicamente, a uma dívida pesada. Tendler, no seu estilo de contar com múltiplas vozes anônimas, enriquece esse trabalho a partir da metalinguagem, já que, nele, entram em cena também outros documentaristas. Dos vários cantos do País, desde uma aldeia indígena a uma favela, as falas de Milton Santos são intercaladas com depoimentos sobre fatos seminais nas transformações políticas dos países da América Latina e da África, entre as três grandes globalizações, desde o (re) descobrimento (ou invasão) deste lado do Atlântico. A complexidade da modernidade selvagem que estamos inseridos nesta quase segunda década do século XXI é melhor compreendida com a linguagem simples, ácida e sintética desse geógrafo notável. Tendler, por sua vez, foi feliz na articulação e na dosagem das fontes para apresentar esse autor no nível e no contexto que ele merece.
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