quinta-feira, 18 de outubro de 2018

HADDAD, QUESTÃO DE URGÊNCIA


Estudei praticamente toda a minha vida nas redes públicas de ensino (com exceção de um ano, em que perdi a matrícula). Lembro dos tempos do primário, ainda no governo da Ditadura Militar, que o leite de soja com bolacha era a única merenda (até hoje tenho asco disso).
Só muito depois fui compreender que aquela merenda ruim que me davam era um dos reflexos do acordo realizado pelos governos militares brasileiros, em que assumiam o ônus sanitário e ambiental da "Revolução Verde": a condição de depósito de venenos sobrantes do pós-guerra na agricultura, justificada para sustentar a orientação da monocultura (soja, basicamente), em troca de créditos para a produção -imposição fatal para determinar o modelo produtivista, impactante e nocivo que até hoje suportamos. Uma bela "solução" para os E.U.A e aliados; uma péssima opção para os países mais mais dependentes da agricultura no Hemisfério Sul.
A educação, aqueles tempos, era igualmente péssima - a despeito de os obscurantistas elogiarem tanto: restritiva, conteudista e pedagogicamente doutrinária. O medo estava nas nas salas, nas ruas, nos livros e nos olhos das pessoas. Dando um salto temporal necessário (...) ingressei no meu primeiro curso na universidade pública na década de 90 - tempos de Collor, tempos de FHC - e vi e vivi na pele a política de sucateamento e desprezo aos investimentos nos serviços públicos, notadamente em educação. Particularmente nas gestões do PsdB de FHC I e II, este era conhecido nas comunidades estudantis como o "Exterminador do Futuro".
Vieram os governos de Lula/Dilma, e eu, que nunca necessitei de cotas, pro-une ou Fies (ainda que reconheça a importância de tais programas), enxerguei, ao longo de uma década e meia, uma transformação estrutural no ensino público, da educação infantil à superior. De mais liberdade, qualidade e acesso. Milhares de escolas de educação infantil foram abertas em todo o País; escolas técnicas federais de difundiram pelos quatro cantos, em regiões esquecidas; universidades federais ajustadas à demandas locais foram inauguradas. A universidade tornou-se mais democrática e plural e a educação pública, no que tange à responsabilidade federal, melhor projetada e apoiada (a despeito de os estados, em geral, nunca cumprirem devidamente sua parte; pelo contrário).
Foi um começo, exitoso, de um processo que exige muito mais, mas que estava no caminho mais acertado - porque combinou educação com inclusão social sistêmica, algo até então inédito em nossa história, nesse nível. Fernando Haddad, que é professor e foi ministro da Educação de Lula, esteve sempre por trás da concepção e da execução dessa grande transformação. Em meio a tais mudanças, no entanto, quadros da esquerda vacilaram, e ali, provavelmente, teria nascido um processo de caça às bruxas que, ao longo dessa última década vem procurando simplificar o problema da corrupção brasileira, que remonta ao Império, atribuindo-lhe a um único Partido. Movimentos estranhos e sem base popular emergiram, a partir daí, com bandeiras afinadas com o capitalismo mais troglodita e insano. E claro, com um judiciário notavelmente seletista, o congresso mais conservador da história (até esta última eleição) e uma mídia [predominantemente] hostil ao País.
Esse era o clima bem preparado para o Golpe de Temer e Cia. E o ataque dessa vez, foi fulminante à muitas conquistas sociais e trabalhistas. E a Educação e a Saúde tornaram-se desprezadas novamente. E o vazio de projeto do governo do [P]MdB de Temer, aliado à desmoralização política, nacional e internacional, que tem "promovido", obviamente fragilizou o País para a crise econômica que já estava em curso, como parte da instabilidade fabricada pelo próprio golpe.
Não é preciso dizer que esses foram ingredientes básicos para criar o ambiente fascista que nos encontramos; nele, novamente, o discurso contra a corrupção e pela segurança - desencadeado nos bastidores pelos maiores corruptos que este País já teve - mascara um projeto de liquidação de direitos sociais, ambientais, trabalhistas e humanos; um projeto que pretende reduzir o Brasil a um quintal fundamentalista dos E.U.A e da Europa, um mero produtor de commoddities para prosseguir enriquecendo os barões internos do agronegócio e engordando a fortuna dos mega-empresários, a custa do crescimento do desemprego, da miséria e do sofrimento de seu Povo.
Estamos, agora, portanto, na encruzilhada, entre um candidato que quer o aprofundamento dessa crise, ampliando-a também para o atropelamento de Direitos Humanos, jogando-nos novamente nos tempos de sombras e instabilidade sem limite; e outro que quer recuperar um crescimento do País com o desenvolvimento para todos, e não só para uma elite mesquinha e fundamentalista.
Ninguém precisa ser petista, heterossexual ou ateu para optar pela civilidade. É apenas uma questão de bom senso, de humanidade, de urgência.