Estudei praticamente toda a
minha vida nas redes públicas de ensino (com exceção de um ano, em que perdi a
matrícula). Lembro dos tempos do primário, ainda no governo da Ditadura
Militar, que o leite de soja com bolacha era a única merenda (até hoje tenho
asco disso).
Só muito depois fui compreender que aquela merenda ruim que me
davam era um dos reflexos do acordo realizado pelos governos militares
brasileiros, em que assumiam o ônus sanitário e ambiental da "Revolução Verde":
a condição de depósito de venenos sobrantes do pós-guerra na agricultura,
justificada para sustentar a orientação da monocultura (soja, basicamente), em
troca de créditos para a produção -imposição fatal para determinar o modelo
produtivista, impactante e nocivo que até hoje suportamos. Uma bela
"solução" para os E.U.A e aliados; uma péssima opção para os países
mais mais dependentes da agricultura no Hemisfério Sul.
A educação, aqueles
tempos, era igualmente péssima - a despeito de os obscurantistas elogiarem
tanto: restritiva, conteudista e pedagogicamente doutrinária. O medo estava nas
nas salas, nas ruas, nos livros e nos olhos das pessoas. Dando um salto
temporal necessário (...) ingressei no meu primeiro curso na universidade
pública na década de 90 - tempos de Collor, tempos de FHC - e vi e vivi na pele
a política de sucateamento e desprezo aos investimentos nos serviços públicos,
notadamente em educação. Particularmente nas gestões do PsdB de FHC I e II,
este era conhecido nas comunidades estudantis como o "Exterminador do
Futuro".
Vieram os governos de Lula/Dilma, e eu, que nunca necessitei de
cotas, pro-une ou Fies (ainda que reconheça a importância de tais programas),
enxerguei, ao longo de uma década e meia, uma transformação estrutural no
ensino público, da educação infantil à superior. De mais liberdade, qualidade e
acesso. Milhares de escolas de educação infantil foram abertas em todo o País;
escolas técnicas federais de difundiram pelos quatro cantos, em regiões
esquecidas; universidades federais ajustadas à demandas locais foram
inauguradas. A universidade tornou-se mais democrática e plural e a educação
pública, no que tange à responsabilidade federal, melhor projetada e apoiada (a
despeito de os estados, em geral, nunca cumprirem devidamente sua parte; pelo
contrário).
Foi um começo, exitoso, de um processo que exige muito mais, mas
que estava no caminho mais acertado - porque combinou educação com inclusão
social sistêmica, algo até então inédito em nossa história, nesse nível.
Fernando Haddad, que é professor e foi ministro da Educação de Lula, esteve
sempre por trás da concepção e da execução dessa grande transformação. Em meio
a tais mudanças, no entanto, quadros da esquerda vacilaram, e ali,
provavelmente, teria nascido um processo de caça às bruxas que, ao longo dessa
última década vem procurando simplificar o problema da corrupção brasileira,
que remonta ao Império, atribuindo-lhe a um único Partido. Movimentos estranhos
e sem base popular emergiram, a partir daí, com bandeiras afinadas com o
capitalismo mais troglodita e insano. E claro, com um judiciário notavelmente
seletista, o congresso mais conservador da história (até esta última eleição) e
uma mídia [predominantemente] hostil ao País.
Esse era o clima bem preparado
para o Golpe de Temer e Cia. E o ataque dessa vez, foi fulminante à muitas
conquistas sociais e trabalhistas. E a Educação e a Saúde tornaram-se
desprezadas novamente. E o vazio de projeto do governo do [P]MdB de Temer,
aliado à desmoralização política, nacional e internacional, que tem
"promovido", obviamente fragilizou o País para a crise econômica que
já estava em curso, como parte da instabilidade fabricada pelo próprio golpe.
Não é preciso dizer que esses foram ingredientes básicos para criar o ambiente
fascista que nos encontramos; nele, novamente, o discurso contra a corrupção e
pela segurança - desencadeado nos bastidores pelos maiores corruptos que este
País já teve - mascara um projeto de liquidação de direitos sociais,
ambientais, trabalhistas e humanos; um projeto que pretende reduzir o Brasil a
um quintal fundamentalista dos E.U.A e da Europa, um mero produtor de
commoddities para prosseguir enriquecendo os barões internos do agronegócio e
engordando a fortuna dos mega-empresários, a custa do crescimento do desemprego,
da miséria e do sofrimento de seu Povo.
Estamos, agora, portanto, na
encruzilhada, entre um candidato que quer o aprofundamento dessa crise,
ampliando-a também para o atropelamento de Direitos Humanos, jogando-nos
novamente nos tempos de sombras e instabilidade sem limite; e outro que quer
recuperar um crescimento do País com o desenvolvimento para todos, e não só
para uma elite mesquinha e fundamentalista.
Ninguém precisa ser petista,
heterossexual ou ateu para optar pela civilidade. É apenas uma questão de bom
senso, de humanidade, de urgência.
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