quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A palavra: virtudes e riscos

A palavra é mesmo uma arma, de alta periculosidade. Omiti-la, embora seja aparentemente inteligente, pode ser também comprometedor, a menos que o emissor seja reconhecido como um ser não-falante. Verbalizá-la no conteúdo ou dose errada pode implicar má interpretações e conseqüências fortes, até mesmo complexas. Experessá-la corretamente, ainda que em tom inconveniente, pode ter este mesmo efeito.

A comunicação é essencial nossa constituição como seres humanos, porque o humano só tem esse sentido quando se socializa, e a palavra é elemento estratégico no cumprimento desse papel - ainda que a escrita e a fala não sejam os únicos modos de exteriorizar o que se quer dizer. Gestos, símbolos e outras representações também podem comunicar. Mas, no fundo, esses meios também imitam a função expressiva de se dar um sentido ao pensamento, função esta que a palavra é ainda a forma mais sintética e poderosa.

A subjetividade que envolve os meios de expressão humana, por outro lado, é inescapável de qualquer relação social. Exatamente porque o receptor é parte do processo, e não um mero depósito de mensagens, como já se acreditou outrora. Por isso os poetas são tão facilmente entendidos e "perdoados" por qualquer coisa que digam. E daí porque seja tão comum se recorrer aos recursos poéticos (metafórica, humorística, irônica) para livrar-se da carga de responsabilidade pelo que se diz. Volta e meia os políticos, profissionais ou ocasionais, recorrem a isso, como uma maneira estratégica de dar efeito de impacto e grande alcance ao que verbalizam, sem comprometer-se indevidamente.

Mesmo assim, um certo jornalismo ainda praticado em larga escala no Brasil ainda insiste em apresentar-se como objetivo, livre de intencionalidade além dos fatos, fiel ao real. Felizmente, nesses períodos eleitorais, em que os interesses se aguçam e essas máquinas políticas - que são as corporações de comunicação - deixam cair as máscaras do lado que estão. Nesse caso, muito antes da palavra, uma imagem já define claramente o posicionamento ideológico de um veículo de comunicação. Isso é muito bom. Mas poderia ser melhor, se o cinismo fosse de vez sepultado e os proprietários dessas grandes empresas da mídia usassem a palavra, um elemento que é ferramenta diária em seus campos de atuação, para assumir o que são, com quem se identificam e o que querem.

Infelizmente, no entanto, em um sentido oposto, se escondem atrás de gêneros jornalísticos, denominados notícia ou reportagem. Às vezes, de modo cada vez mais comum, assumem também a forma "colunista". De qualquer modo, os editoriais dos grandes meios de comunicação são hoje o último e menor lugar para identificar o posicionamento da maioria das empresas de mídia brasileiras. Nas frestas desses tijolões de informação sem rosto, felizmente, emergem os blogs e outras ferramentas virtuais.

Mais uma vez, a palavra em cena. Moto-serra, machado, cutelo, serrinha ou canivete. Leve ou pesada; afiada ou cega; única ou múltiplas. Não importa. A arma palavra é poderosa e implacável. Só depende de quem, como e quando se maneja.

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