terça-feira, 21 de setembro de 2010

Plantas medicinais, riscos, business e academicismo II

Ainda sobre a questão ontem tratada aqui, a respeito da crítica totalitária da Globo ao uso de plantas medicinais pelo SUS - que tem sido realizada por meio do Fantástico, na voz de Dráuzio Varella - cabe destacar outro aspecto, que é a universalização do conhecimento popular, com relação ao conhecimento médico de ponta, inacessível ao cidadão comum e até mesmo à muitos especialistas. O conhecimento popular, do cultivo e diagnóstico com ervas e raízes, não tem, em sua essência, um viés comercial. Ele está disponível na natureza, inclusive por meio de seus agentes humanos.

Quando o médico Dráuzio Varella e sua equipe vão colher extratos na Amazônia para experimentações e adequações em curas, isso não é realizado sem um processo de interação com as comunidades locais, que são detentoras de saberes específicos, decorrentes das experiências de dependência desse meio. Essa disponibilidade, seja em orientações sobre os ambientes, seja por informações sobre as qualidades naturais das plantas, é oferecido, invariavelmente, de forma gratuita. No entanto, depois que os cientistas retornam aos seus laboratórios e sistematizam esse conhecimento, com testes científicos, para posteriormente colocá-lo no mercado, não é apenas o medicamento que terá um preço.

Sabe-se hoje que a informação científica é um produto muito caro, e que está acessível também a um numero restrito de universidades, que se integram a redes de informação fechadas, cujo acesso se dá por meio de investimentos altos. Valores estes que nem sempre estão ao acesso de muitas universidades latino-americanas. Então, quando se diz que, para ser válido, um determinado conhecimento deve ser "testado" e divulgado em uma "revista de impacto", é importante que tenhamos em conta que essa informação publicada, dependendo a revista, pode, inclusive, estar longe de ser acessada por médicos do País onde esse conhecimento foi produzido. Parece impressionante, mas é assim que funciona a comercialização do conhecimento científico, inclusive aquele de interesse da saúde pública.

Exatamente por causa disso, existem hoje as redes alternativas de informação, que agregam publicações a distribuem de forma gratuita. É o caso do Scielo, no Brasil, e a Redalyc, no México, ambas de alcance geral aos pesquisadores de todas as universidades desse eixo geográfico. "Informação é poder; e informação científica, gerada com fundos públicos, deve ter o acesso aberto. Mas nem sempre é isso que ocorre", observa a professora Rosário Rogel, da Universidad Autónoma del Estado de México. Novamente ressalto que não pretendo desconsiderar, ou desqualificar, a validade do conhecimento científico. Mas é fundamental que o consumidor, o cidadão que necessita do direito a saúde, entenda como funciona o processo de produção e acesso da informação para o seu tratamento que, em geral, para ele é algo distante, de outro mundo. Talvez por isso a relação médico paciente seja comumente fria e tecnicista.

Prosseguiremos nessa questão, e em seus diversos vieses, em novo post.

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