A nova onda na Globo, por meio do Fantástico, é detonar o uso popular das ervas e plantas medicinais, particularmente na fitoterapia. Nesse caminho, o médico Dráuzio Varella, experiente profissional, tem mantido um discurso, no mínimo, estranho. Em seu quadro "É bom para quê?", veiculado semanalmente naquele programa tem tido uma abordagem que força fazer crer que o Ministério da Saúde está "enganando" a população ao disponibilizar algumas dezenas de ervas medicinais no Sistema Único de Saúde. O posicionamento de Dráuzio é generalizante e ignora experiências dele próprio, que já foi propagandeado como um recolhedor de extratos naturais, em expedições que realiza pela busca de cura de doenças na Amazônia.
Se Dráuzio estivesse, de fato, ocupado em seu quadro com a segurança das ervas e plantas disponibilizadas pelo SUS na rede pública de saúde, teceria uma crítica pontual, no sentido de que essa iniciativa fosse aperfeiçoada. Mas, ao invéz disso, com exemplos de experiências ruins com esse tipo de tratameto, assume um tom de desprezo pela manipulação disso pela população, como se o conhecimento sobre curas devessem estar distantes do acesso das pessoas mais simples. A medicina ocidental não começou, e será muito posterior, ao conhecimento atual, cuja difusão tem se demonstrada intolerante, tecnicista e até dogmática saberes diferentes, que remontam séculos de história. É o caso, para exemplificar, da medicina egípicia, indiana e chinesa, de base natural e popular, que desenvolveram muitos ensaios e experiências.
O saber popular tem uma lógica diferente de operação, justamente porque acumula em si uma relação mais humana e integral com o paciente, elementos que a medicina tradicional ainda persegue para se aperfeiçoar. A chamada multimistura, concebida pela pediatra Zilda Arns, e que solucionou o problema da desnutrição em milhares de crianças no Brasil e no mundo, por meio de agentes sociais da Pastoral da Criança, poderia ser excomungada pela "competência científica", visto que se trata de uma composição alimentar integrada por elementos sem uma comprovação científica de alto nível (casca de ovo, farelos e folhas). Se aquela organização tornou o Brasil mundialmente respeitado pelos resultados dessas ações, foi graças a atuação dessas pessoas sobre um alimento alternativo, de uso popular.
O saber popular tem uma lógica diferente de operação, justamente porque acumula em si uma relação mais humana e integral com o paciente, elementos que a medicina tradicional ainda persegue para se aperfeiçoar. A chamada multimistura, concebida pela pediatra Zilda Arns, e que solucionou o problema da desnutrição em milhares de crianças no Brasil e no mundo, por meio de agentes sociais da Pastoral da Criança, poderia ser excomungada pela "competência científica", visto que se trata de uma composição alimentar integrada por elementos sem uma comprovação científica de alto nível (casca de ovo, farelos e folhas). Se aquela organização tornou o Brasil mundialmente respeitado pelos resultados dessas ações, foi graças a atuação dessas pessoas sobre um alimento alternativo, de uso popular.
Jornalismo, na saúde ou em qualquer área é escolhas. Nesse caso, a escolha foi só de um lado. Se a Globo quisesse, no mesmo quadro, poderia ter apresentado 10 outros exemplos positivos e bem sucedidos no tratamento fitoterápico. Assim como poderia ter derrubado a medicina científica por meio de exemplos péssimos atribuídos a sua prática. Além do mais, a questão, no contexto em que é tratada, e no enfoque do Fantástico (Globo) denota uma clara relação político-eleitoral, em um momento que o principal concorrente da ex-integrante do governo federal na disputa a presidência é o ex-ministro da saúde José Serra. (Temporão, o alvo preferido de José Serra). Nada é por acaso.
Desde 1978 a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda, a nível mundial, os fitoterápicos como eficazes na cura de doenças. Há um secular conhecimento sobre as plantas, de pessoas que vivem e sobrevivem delas. Desprezar isso, sob a alegação da invalidade científica, é uma desorientação, não contribui para somar na solução dos problemas em saúde pública. O conhecimento científico não é onipontente, nem único. E os cientistas, na mídia ou fora dela, precisam assimilar que integram apenas um nível de saber. Não queremos defender, com isso, que a medicina oficíal é menor ou pior, ou mesmo dispensável. Mas ela também passa por riscos, interesses e falhas. E sua produção, divulgação e acesso envolve muito dinheiro e poder.
De qualquer modo, considero digna de aplauso a iniciativa do SUS, de possibilitar uma abertura a mais para o atendimento à saúde coletiva. O diálogo entre os conhecimentos científico, popular e até mesmo parapsicológico, é o desejável em uma época em que poucas certezas restam em torno da verdade, e nenhuma verdade resta em torno de um único discurso. O debate mais ampliado, com a abertura da série do programa do Fantástico, além do contraponto do próprio Dráuzio e comentários sobre a essa questão, pode ser conferido aqui.
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