quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Individualismo, stress e saúde e vida urbana

Nem sempre as pessoas tomadas pelo stress, típico na vida urbana, se dão conta do modo de vida que tem se relaciona às opções de consumo e de organização pessoal e como isso pode afetar a saúde. Tenho notado, até como impulso próprio, que a forte influência do consumismo (o uso do dinheiro exageradamente e desnecessariamente para “resolver” coisas) é uma tônica da vida social neste século.

Como uma espécie de prisão autoconstruída, é uma tendência comum que os indivíduos se enlacem em uma rede de compromissos, que impedem a realização dos atos mais simples na sua intimidade, comprometendo diretamente a qualidade de sua vida e, em um círculo vicioso, alimentando uma cultura de praticidade pelo ato de “assinar cheques” em situações, que poderiam perfeitamente, e saudavelmente, serem solucionadas com um pouco de tempo, concentração e dedicação. A organização de um condomínio é um caso que reflete bem isso, como um dos símbolos de conforto e estabilidade. Os intermediadores existentes nesses “paraísos fechados” são de toda ordem – administração, manutenção, segurança, jurídico, lazer, educação, etc.

Há, como pano de fundo, um modo de vida construído nesse meio que é isolador, porque encastela cada um em seu espaço, reduzindo ou eliminando as relações sociais internas; excludente,  porque tende fortalecer uma falsa noção de proteção daquele grupo de moradores “afins” do resto da sociedade, e segregacionista – porque suas estruturas, especialmente nas metrópoles, compartimentam cada vez mais as cidades em espaços urbanos fechados. E tudo que se precisa o síndico, a administradora, o porteiro, o segurança e os serventes “resolvem”. Nisso, a possibilidade de solução dos mais pequenos problemas são terceirizadas. É compreensível que, nesse cenário, as possibilidades de convivência e troca de idéias na construção de soluções se reduzam à encontros para troca de insultos e processos.

Como senão bastasse esse modo de vida do “Meu Paraíso” que “ Eu preciso manter” é progressivamente estendido ao resto da cidade e às outras dimensões da vida urbana. Daí a cultura do individualismo e da competitividade como uma das tônicas da sociedade contemporânea, seja no trânsito, no trabalho, na maternidade ou até mesmo no lazer. Os shopping centers, nesse caso, são os castelos do consumo, que sintetizam esse modo de vida das soluções “mágicas”. E, ao lado, um McDonald's complementa o lazer e alimentação que essa “família feliz” vai “precisar”. Não é preciso recorrer a nenhum escrito de psiquiatria ou antropologia, que existem às pencas, para se perceber o quanto isso tudo tem a ver com a saúde coletiva – aliás, esta é outra dimensão interessante desse modo de vida, no qual os planos de saúde, seguro de vida, e até de morte, são rápidos e presentes. Pelo menos até o momento da adesão.

Assim está organizada uma parcela expressiva da sociedade moderna. E assim se almeja a outra parcela que dessa estrutura não faz parte. E as favelas, o que são? Bem aquém de paraísos, tão pouco se reduzem aos infernos que pintam. O certo é que muito elas tem a ver diretamente com o modo de vida analisado acima. Mas isso é assunto para outra análise, em outra oportunidade. Não antes de concluirmos melhor a presente questão.

Mas para quem quiser se aprofundar desde já nesse assunto, na perspectiva da arquitetura e da sociologia,  há uma análise científica no artigo Ricos e pobres, cada qual em seu lugar: a desigualdade socio-espacial na metrópole paulistana.

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