quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A vontade no voto e seus paradoxos (II)

Ainda em torno da questão do pálido entusiasmo e envolvimento ideológico do eleitor com o processo político nessas eleições – que está muito além do ato de votar – tendo a crer que há nesse processo algumas rupturas entre as subjetividades individuais e as coletivas, e que estas últimas ainda tem  campo muito restrito de abrangência da política, apesar dos esforços dos marketeiros.

O personagem produzido nas câmeras, que é o político do século XXI, o inatingível, tem tido bloqueios para se voltar ao universo do eleitor, até mesmo do seu eleitor. Parece que o esforço do poderoso arsenal técnico que envolve uma campanha eleitoral por atingir o “ponto médio”, provoca certa desumanização no candidato a um cargo público na medida em que se torna um hábil comunicador com câmeras, microfones e gravadores, mas tende a enfraquecer sua sensibilidade à condição humana mais simples, ainda que busque isso. A eleição do palhaço Tiririca, que fez 1,3 milhão de votos com uma linguagem infantil nas câmeras, é sintomático.

Além de provocar um impacto monumental nos convencidos da suposta racionalidade do sistema eleitoral brasileiro, o fenômeno Tiririca deveria também ser base para essa reflexão sobre quem é o brasileiro.  E talvez isso remeta a uma questão mais de fundo sobre o que é o candidato e o que ele se transforma diante das câmeras. E, finalmente, com essa segunda questão, remeteríamos, aí sim, a um ponto bastante perturbante nesse início de século: Qual o real alcance dessa construção de mitos pelos meios de comunicação na vida social brasileira, e o que ela nos guarda para o futuro? Um quadro de políticos restrito às  celebridades?  Se a resposta for essa, pode ser que muita gente se convença que o Tiririca é apenas a ponta de um iceberg. De qualquer modo, se esse debate avançar, a vitória de Tiririca vai ter pelo menos um lado salutar.

Tiririca e os outros, é um artigo que explora também essa questão.

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