É digna de atenção as recentes manifestações de jovens paulistanos, esclarecidos, identificados com movimentos pelo controle e monitoramento das migrações, bem como uma maior restrição das atenções dos governantes paulistas aos mais “originalmente” paulistas. Há algum tempo já tinha conhecimento de posições e grupos, inclusive de cunho neonazista, que difundiam abertamente nas regiões sul e sudeste, discursos e práticas contra negros, homossexuais e nordestinos.
No caso dos movimentos mais recentes, como o “São Paulo para os paulistas”, que assumiu maior visibilidade a partir do resultado dessas eleições, - e do suposto determinante da votação nordestina na vitória de Dilma (já, comprovadamente, refutado) – há nesses novos grupos outro perfil, ainda que também expressem uma favorabilidade aberta à restrição, ou controle, das migrações. Neles, há um discurso mais racional e abertamente assumido, como o Movimento São Paulo Independente (MSPI). As iniciativas separatistas não são fenômeno novo nos estados brasileiros, acompanham nossa história, assim como seu caráter elitista.
Que há preconceito em SP contra os nordestinos, isso não há dúvida. E que a imigração desenfreada é um problema para a organização das políticas públicas nos estados, também é um fato. No entanto, o direito de ir e vir é uma conquista positiva de nossa constituição, porque denota a nossa unidade como nação. Por outro lado, seria, no mínimo, estúpido, ignorar a sistêmica contribuição dos nordestinos, desde os anos 70, para o desenvolvimento, a cultura, e a qualidade cosmopolita de São Paulo – que é, aliás, apresentado pelos próprios paulistanos como sua maior marca. É perturbante, por outro lado, o caráter discriminador que pode estar envolvendo tais discursos.
O bairrismo e a as iniciativas de articulações fechadas ante ao estranho são fenômenos da sociabilidade, presentes, em algum nível, em todas as culturas regionais brasileiras. O movimento separatista do RS, que volta e meia retorna a pauta de alguns ativistas dessa idéia, expressa bem isso. Que há necessidade de se pensar e planejar políticas públicas adequadas ao País, sob suas condições geográficas continentais e com foco em suas populações locais de cada região-estado-cidade, não há duvidas. A quantidade expressiva de estrangeiros, indiscriminadamente espalhados pelo interior Amazônia, com os mais diferentes objetivos, também indica isso.
No entanto, é preciso que tenhamos sempre claro que a mistura étnica, a liberdade de locomoção pelos quatro cantos do território nacional e a unidade nacional em torno de valores comuns são mais do que qualidades especiais de nossa cultura, direta ou indiretamente e asseguradas na constituição. Tratam-se de características que formam um patrimônio valioso, que afirma, mais do que tudo, a nossa condição de brasileiros.
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