quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CPMF, Mitos e a Feira glamourizada

* Nesse momento, em que cogita-se no meios políticos a possibilidade de reapresentar a CPMF como projeto para supera o déficit na saúde, recomeça o mantra dos neoliberais, que disparam com o desgastado discurso sobre o excesso de impostos. Sou, e sempre fui, favorável a CPMF porque a compreendo com um imposto distributivo e solidário, necessário em um País de profundas desigualdades como o Brasil. Se houve desvios dos recursos dessa contribuição, que é progressiva, para outras finalidades, isso não é motivo para se ter jogado fora a “água da bacia, a bacia e a criança”. Não me surpreende que, desde sempre, têm sido os deputados do DEM os maiores opositores a essa contribuição, que pouco atingiu e atingiria os brasileiros de menor poder aquisitvo. Especialmente pela origem de classe desse partido – dos 43, 28 dos deputados eleitos são milionários, a segunda, entre as maiores bancadas de grandes fortunas na Câmara.

* Enquanto isso, no RS, a Feira do livro tem um lançamento interessante, da obra História regional da infâmia - O destino dos negros e outras iniquidades basileiras (ou como se produzem os imaginários), resultado de um trabalho historiográfico desse jornalista-historiador-colunista, bem na contra-mão do tradicionalismo rançoso que predomina pelo Sul. O endosso e elogios  a esse livro pelo pesquisador Mário Maestri – um experiente pesquisador das questões afro-brasileiras – destaca a qualidade desse trabalho.

* E falando em Feira, infelizmente, novamente, a cultura do glamour parece substituir o que deveriam ser as reais estrelas desse evento o livro, a literatura e a leitura. Estava ontem mesmo comentando com um colega de trabalho que gostaria de estar vivo o dia que a Feira assumisse uma vocação mais social, se libertando dessa cultura concentrada e elitizada em torno de “compartimentos de celebridades”, que costuma marcar os eventos regionais brasileiros. O rio Guaíba, tão escondido, cercado e ignorrado, poderia ser um caminho para isso. Durante o período da Feira, porque não, um ou mais barcos poderiam, carregados de livros e escritores, percorrer as ilhas do entorno do Guaíba, distribuindo o amor a leitura a quem muito precisa os ribeirinhos dessas localidades. As comunidades das vilas mais periféricas de Porto Alegre também poderiam ser contempladas em uma visão mais descentralizadora da cultura, e menos festiva. Mas isso ainda está no meu plano utópico do que é uma Feira do Livro. Quiçá, sobreviva para ver.

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