quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Micro crônica - O homem que sorria diferente

Era uma cidade estranha, onde, sempre, todos mantinham um sorriso largo, onde quer que estivessem, o que quer que acontecesse. Um dia, porém, um sujeito forasteiro, vestido discretamente, em passos pequenos, entrou em um bar colorido, em intenso barulho, na terra do sorriso. De semblante duro, vários presentes voltaram a atenção àquele sujeito, e em silêncio ficaram. O atendente, mostrando os dentes, perguntou o que desejava, e ele pediu um café amargo, nada típico naquela terra de cerveja e coca-cola, as bebidas alegres. No terceiro gole, enquanto cuidava no canto do olho, o trabalhador do bar, com um sorriso aberto, não se conteve. “De onde vens todos são assim, de cara sombria?". Ante isso, o homem voltou-se ao perguntante e respondeu, com um olhar distante: “Venho de um lugar comum, nem tão feliz, nem tão triste; Lá também sorrimos muito, mas de  outras formas, com olhares, atitudes ou palavras. A cada um cabe o seu entendimento, conforme a sua sensibilidade”. O atendente, sem desmanchar completamente o sorriso, calou-se em um ar de perplexidade. Ainda em silêncio, o viajante terminou beber, pagou e saiu. E o barulho, e os sorrisos, voltaram tudo ao normal. Apesar disso, aquele trabalhador do bar, após atender aquele estranho, nunca mais conseguiu sorrir do mesmo jeito.

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