Impressionante, nesse turbilhão de produção simbólica sobre felicidade, que encharca os olhos de todos pelas diversas mídias, como o estímulo à organização individual para a morte e à incerteza é tão forte, e talvez, indiretamente superior à abertura para a vida. Nada de novo com relação às opções religiosas, onde isso é mais comum, e uma opção silenciosa e surda, às vezes pela felicidade como penitência e promessa pós-morte – de modo que, nem me causa maiores surpresas o ato de o Papa Bento 16 fechar o convento onde freiras dançavam em cerimônia. Falo da morte propagada, por meio da indústria que ela constitui, direta ou indiretamente. Nisso, a morte abrange diretamente as funerárias, os seguros, os planos de saúde, etc. Mas também, em um outro sentido, envolve a fuga do processo d vida. Daí, entra a indústria da beleza com uma solução rápida e eficaz para o envelhecimento, como se esse fosse o grande mal da existência, em si. A idéia de segurança, o medo de uma suposta escuridão do futuro, leva também ao isolamento, à compartimentação de uma certa “felicidade”, em prédios sofisticamente gradeados e protegidas contra os “estranhos”. Eis aí outra maneira de morrer para a diferença, o que deveria mover o espírito de descoberta dos seres humanos. Temos uma tendência forte, por conveniências sociais, de adorar o belo – e até o feio, maquiado (vide as novelas) – desde que, estejamos protegidos disso pela raiz. Assim, a vida simbólica impera na artificialidade da existência de todos. Enquanto isso, milhares de outras formas de enxergar e explorar essa mesma vida aflora pelos cantos dos nossos olhos.
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