Falo de um dos tipos mais perversos de auto-escravidão, que é o que consiste em se sentir diminuído, ou resignado, ante outro indivíduo com mais visibilidade, seja pelo conformismo, seja pelos interesses imediatistas que vertem por diversas veias da vida universitária. Abundam por aí, e na academia é notório, uma aura mofada de intelectuais ocupados estritamente em cultivar imagens perante seus pares, pouco se importando com a finalidade social do conhecimento científico. Separando as figuras sérias - que são cada vez mais escassas e valiosas, tanto nas universidades públicas quanto privadas - o que hegemoniza, infelizmente, ainda é a postura elitista, alienante e superficial no fazer científico. Isso às vezes é escancarado; outras, camuflado e, na maioria, muito sutilmente estruturado. É claro quando disso falo tenho meu foco nas ciências humanas e sociais, de onde emergi. Das ciências da saúde, engenharias ou jurídicas, nem se fala, porque nelas, a natureza elitista vem muito antes da própria academia - está nos filtros sociais que os próprios condicionamentos culturais de um País de formação socialmente segregacionista como o nosso se encarrega de criar. Estes, encaminham os acadêmicos e docentes a um mercado que valoriza o “doutoramento” e despreza, exclui ou, simplesmente, é indiferente a tudo que se relaciona ao compromisso social da universidade. A escravidão intelectual que se constrói ainda nas universidades, no que se convencionou chamar de “Comunidades Acadêmicas” se dá por um tecido de vassalagem, típico do feudalismo. A moeda das bolsas, dos títulos, dos méritos e dos cargos ainda impera e acomoda nesse meio todos os cérebros e corações que apresentam possibilidade de ameaça ao status quo vigente em tais castelos. Volto a dizer, fiz minha formação intelectual, em grande parte, a partir da academia e reconheço que há bons de caráter em tais estruturas, em todo o País. Mas quem me entende e vive em tais ambientes sabe porque, do que e sobre quem me refiro.
"O que ocorre com a universidade no Brasil é mais ou menos o que sucederia com uma vaca se, quando bezerra, ela fosse encerrada numa jaula pequenina. A vaca mesmo está crescendo naturalmente, mas a jaula de ferro aí está, contendo, constringindo. Então o que cresce é um bicho raro, estranho. Este bicho nunca visto é o produto, é o fruto, é a flor acadêmica dessa classe dominante sábia, preclara, admirável que temos, que nos serve e a que servimos patrioticamente contritos. Cremos haver demonstrado até aqui que no campo da educação é que melhor se concretiza a sabedoria das nossas classes dominantes e sua extraordinária astúcia na defesa de seus interesses. De fato, uma minoria tão insignificante e tão claramente voltada contra os interesses da maioria, só pode sobreviver e prosperar contando com enorme sagacidade, enorme sabedoria, que é preciso compreender e proclamar." (Darcy Ribeiro, "Sobre o Óbvio).
"O que ocorre com a universidade no Brasil é mais ou menos o que sucederia com uma vaca se, quando bezerra, ela fosse encerrada numa jaula pequenina. A vaca mesmo está crescendo naturalmente, mas a jaula de ferro aí está, contendo, constringindo. Então o que cresce é um bicho raro, estranho. Este bicho nunca visto é o produto, é o fruto, é a flor acadêmica dessa classe dominante sábia, preclara, admirável que temos, que nos serve e a que servimos patrioticamente contritos. Cremos haver demonstrado até aqui que no campo da educação é que melhor se concretiza a sabedoria das nossas classes dominantes e sua extraordinária astúcia na defesa de seus interesses. De fato, uma minoria tão insignificante e tão claramente voltada contra os interesses da maioria, só pode sobreviver e prosperar contando com enorme sagacidade, enorme sabedoria, que é preciso compreender e proclamar." (Darcy Ribeiro, "Sobre o Óbvio).
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