Houve um tempo, e bem recente, em que o campi central da Ufrgs, a universidade pública que estudei, tinha um ambiente de mais e melhor e acesso popular. Sem nenhuma nostalgia (que já tive bastante, e também a sinto convenientemente), falo de realidade concreta, de tipo de relações internas que se estabeleceram pelo Campi. Como passo por lá semanalmente, sob um roteiro que de compromisso, e motivo de um encontro acadêmico, que combinei propositadamente com essa direção, posso observar a vida interna. Gostava nos tempos da faculdade, e hoje ainda, de ver murais. Leio tudo que eles tem de interessante, e nas universidades esse é um espaço riquíssimo. Pois bem, o que existe ao lado do Cinema Universitário, percebi, virou inacessível por causa de dois estacionamentos de veículos ali instalados. Intrigante. Será essa uma convivência impossível? Me surpreendeu, por outro lado, no prédio da economia, a estrutura de segurança interna, com um corredor que bloqueia o acesso direto, exigindo que se passe por guardas e recepção com identificação. Segurança é importante, mas para um ambiente que se pretende democrático, é preciso um cuidado especial para que a estrutura e discurso que ela traz consigo não estabeleça inibições, e até proibições impróprias. Pois a universidade pública é de todos. As grandes no entorno da reitoria, a propósito disso, são de um mau gosto tremendo, mas vá lá. A tranqüilidade de todos obriga que seja assim, dirão alguns. E lembrarão o assassinato do universitário no Campi da Usp. Também fiquei chocado com aquilo, mas, sinceramente, vejo outros caminhos, além da obstacularização de acesso. Até mesmo porque, uma certa cultura democrática de segurança, que hoje se desenvolve pelo País, considera a o diálogo entra a diferença como um de seus pilares. Se uma “cidade universitária” é vista como um condomínio fechado, é obvio que vai necessitar que se ajuste a esse modelo de vida e de segurança. Ainda sob minha rota, por estar por volta do meio dia, passei no RU e, mesmo sabendo o controle eletrônico das carteirinhas, experimentei perguntar se, como “não-estudante”, poderia almoçar ali. Outra perplexidade. Um dos atendentes me perguntou só era tolerado isso, eventualmente, a “irmãos”, “pais” ou algum parente de estudante, pois só poderia nessas condições. Como almoço freqüentemente no RU de uma universidade particular, onde não há problema nenhum nesse tipo de acesso, só pude ficar impressionado. A universidade pública, entendo, deveria se perseguir como popular, e para isso, essencial seria superar todo tipo de discriminação e obstacularização ao acesso igualitário da sociedade (há a proposta sobre a progressividade, relacionada ao cobrar mensalidades em correspondência à renda, mas isso é um debate à parte, que também não deixa de ser democratizante). No entanto, em um tempo que se abrem novas oportunidades convenientes de acesso ao ensino superior - como cotas, Pro-Une, Enem, seria adequado desejar que uma melhor mistura das comunidades universitárias dessas instituições públicas com os demais segmentos da sociedade. Tenho certeza que sim. Pela experiência que acumulei em meus tempos de extensão, que isso faria muito bem a todos. E ao atual reitor, em particular.
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