O tempo,
de Mário Quintana
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Acho que temos tempo de tudo nessa vida, não digo tempo cotidiano, aquele no qual se fragmentamos diariamente para satisfazer necessidades. Refiro-me ao tempo especial, aquele que é mais propício para uma determinada atividade. Com exceção de amar, que vale para qualquer período da vida, creio que há, sim, uma facilidade maior de fazer certas coisas no tempo que diz respeito a elas. E isso é mais válido para quem dispõe de um nível financeiro de subsistência mediano para baixo. Isso não quer dizer que essas utopias não possam se concretizar, mas sim que elas se tornam progressivamente mais dificultadas pelas circunstâncias criadas pela moral e o mercado. Poderia citar vários exemplos, mas reduzo nas limitações físicas, no que se refere ao limite biológico para tornar possível uma projeto que exija mais do que o corpo possa executar. Por outro lado, falando em termos de tempo enquanto olhar profundo, e de longo alcance, creio que há, entre os diversos tempos que se voltamos, aquele que a nós pertence, e a mais ninguém. È o momento de viver para nós, seja a curto, médio e longo prazo. Sem querer diminuir o valor da família, do amor romântico e até da transcendentalidade (religiões, se quiserem). Há um tempo que a nós cabe para vivermos momentos felizes, de forma intimamente sincera. Lamentavelmente, creio que a maioria das pessoas na sociedade moderna tende a confundir isso com o prazer descartável de consumir – produtos e pessoas. Não, nada disso. Quando falo nesse tempo, me refiro a um mergulho profundo em nós mesmos, no sentido de buscar descobrir o que efetivamente nos faz feliz, o que nos move, o que torna a própria existência algo mais que um tempo biológico entre nascer, crescer e morrer. Pensar nisso é necessário e inevitável em algum momento da vida. E tomar uma atitude frente a conclusão – ou interpretação – resultante, pode levar a um novo nascimento. E, por decorrência, uma multiplicação sensitiva do próprio tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário