domingo, 25 de setembro de 2011

Caminhadas, ciclovia e um Dilúvio gritando à beira do caminho


Voltei a caminhar regularmente hoje e, como já esperava, me senti melhor. No trajeto dessa atividade fiquei pensando as inúmeras vantagens que existem em exercitar o corpo uma vez ao dia por via de uma modalidade qualquer – no meu caso, duas, já que também vou de bicicleta ao parque. E nesse entremeio também imaginei quantas dezenas de milhares de brasileiros sofreram e morreram por doenças cardiovasculares e associadas ao sedentarismo, em função, muitas vezes, de ignorância. Sim, porque por mais informações existam hoje sobre os benefícios de uma atividade física, é preciso lembrar que a maioria das pessoas idosas que estão, ou estiveram, situadas nas classes C, D e E cresceram sem a oportunidade de saber disso, nem mesmo por meio de uma escola – já que a educação era bem menos acessível que hoje há algumas décadas, especialmente na vida rural. Então, envelheceram sem cultivar conscientemente hábitos saudáveis, e sem saber dessa possibilidade. Assim, a educação física, mais uma vez, se justifica como uma área da saúde. E, sob essa perspectiva, investir no acesso popular dos indivíduos às atividades físicas é poupar recursos públicos na área da saúde. Por essas e outras, é digno de aplauso a construção da ciclovia em Porto Alegre. Criar a possibilidade de milhares de estudantes se deslocar entre quatro campi (três da Ufrgs e um da Pucrs) sob duas rodas é simplesmente sensacional. Fiquei pensando agora que, considerando que a ciclovia será nas margens do arroio Dilúvio, quantas reflexões e mobilizações isso poderá render em torno da recuperação definitiva desse habitat. Será um oportunidade de se conviver, diariamente, com mau-cheiro, ratões, utensílios domésticos boiando entre outros atrativos da sociedade do consumo. Por outro lado, haverá nesse trajeto também, frequentemente, lindas Garças que, assim como os ratões, curtem sem preconceito o velho Dilúvio, mesmo no seu abandono. Assim, como também o faz as pessoas em situação de rua, outro tipo de ser vivo que integra e sobrevive em meio a essa biodiversidade. É assim que tem que ser, tirar – de modo espontâneo – a geração motorizada de seus confortáveis estofados e colocá-la frente a frente com a realidade do Diluvião, aquela que muito se fala nas aulas de biologia e congêneres, mas pouco ou nada se vive ou faz na prática para modificar (-se). Então, viva mais uma vez a ciclovia e vivemos de uma vez uma vida ativa, nem que seja via breves caminhadas como as minhas. (Foto: Gilberto Simon / Porto Imagem).

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