Apesar de toda a produção cultural a respeito, paira na sociedade brasileira, dita civilizada, um estereótipo de desprezo sobre os povos indígenas. Mas ao lado desse preconceito à diferença, que já é introjetado em nossa formação, há uma alta dose de admiração enrustida. A sociedade de massa distanciou-nos das coisas simples, do modo de vida cooperativo e solidário e, sobretudo, da relação respeitosa com a natureza. Os povos indígenas, a despeito de toda imagem selvagem que o cinema holiwoodyano alimentou – e por aqui as formas de exploração dominadoras reforçam – preservam em sua cultura esses valores. Em que pese, ainda, as práticas ilícitas de indivíduos ou grupos indígenas, é preciso considerar que nenhum coletivo social pode ser considerado purificado de erros e, portanto, sujeito a desvios de conduta não admitidos pela lei. Por outro lado, nesse mês em que o país é sacudido por mobilizações de agricultores sem-terra, povos indígenas que lutam pelo reconhecimento de suas terras e quilombolas que peleiam em prol da garantia legal de sua herança história de vínculos territoriais, conveniente refletirmos sobre a proximidade de anseios existente em culturas tão distintas (ou nem tanto assim). Enquanto costumes e formas de exploração, diferentes; mas com pontos altamente comuns no que refere a perspectiva de um país equanimente justo às suas diferentes culturas, de acordo com as suas necessidades. Assim, os indígenas, que hoje tem seu dia como referência - apenas simbólica, pois todos os dias são de fato e direito desses brasileiros, representam um o modelo mais primitivo e, paradoxalmente, avançado de vida harmônica. São, ao mesmo tempo, a matriz pioneira da formação de nosso povo e a primeira referência de resistência e luta emancipatória de nosso País. Em síntese, o soluço de nossa utopia.
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