domingo, 15 de abril de 2012

Separação, um olhar sobre o estranho

Estou longe de ser um cinéfilo expert nessa linguagem, mas tenho meus caprichos. Por causa de um alto nível de exigência na escolha dos filmes que o assisto, tenho fama de chato quando vou em locadoras (na realidade, muito pouco faço isso ultimamente). Explico. Embora viva próximo de uma capital privilegiada em termos de salas e circuitos alternativos de cinema, por indispor de veículo particular e residir na periferia, partilho com a maioria dos brasileiros da enorme miséria cinematográfica que tem nosso País em termos de acesso à produção fílmica estrangeira extra-hollywoodiana. Isto porque, já se sabe, as locadoras brasileiras – salvo raras exceções, são polos de difusão da produção audiovisual estadunidense. Por outro lado, residi em diferentes lugares e tive a sorte, nessas vivências de alimentar-me por experiências acadêmico-culturais, que diversificaram meu gosto fílmico. Graças a isso, e também somado a isso, quando residi em uma minúscula cidade do interior do PR, desenvolvi, modéstia parte, uma singular habilidade de coletar pérolas na escolha das “fitas” que assistia (mesmo quando isso me custava muito tempo). Dito isso, quando vejo fora de casa um filme estrangeiro absolutamente estranho a cultura hollywoodiana, sempre comemoro. Assim foi com Separação, que tive a sorte de  ir ver ontem, com minha companheira. Essa obra do diretor iraniano Asghar Farhadi, que me fez chorar, é uma abordagem profunda e estranha a lógica ocidental de experimentar o amor, a dúvida e a justiça. Com uma produção que se resume a cinco filmes, Farhardi demonstra um talento especial na escolha de seu elenco. A atriz Leila Hatami tem uma participação densa na história. Ela passa intensidade ao telespectador. Incorpora o personagem e transmite isso. Aliás, percebo essa combinação de concentração e interioridade no elenco inteiro. O olhar dos atores iranianos é forte e incisivo. Quanto aos temas que mistura – justiça, relação conjugal, religião e Alzheimer – oportuniza uma interessante introspecção sobre uma cultura ainda muito distante a nós, ocidentais. Um belo filme, que recomendo. Leia uma resenha dessa obra aqui.

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