terça-feira, 10 de julho de 2012

Capoeira, muito mais que uma dança, uma cultura brasileira

Fui envolvido pela capoeira em minha vida em diferentes momentos e, ainda que não tenha sido um praticante, aprendi a admirar e valorizar essa prática, decorrente de uma cultura construída em uma história de resistência e memória de uma etnia. Já pratiquei uma arte marcial na minha adolescência e percebia, naquele período, o quanto a disciplina do corpo tem a ver também com uma dimensão de mente, espírito e, sobretudo, cultura. No caso da capoeira, igualmente. A cultura é central nas vestimentas, nos instrumentos, nos cantos e nos movimentos, que se confundem entre dança e luta. Há uma expressão de liberdade, que emerge nessa arte, que se confunde com a história das nações afro-brasileiras que hoje começam a se reencontrar. E esse reconhecimento cresceu. Aqui e pelo mundo. E cruzando continentes, chegou de volta a origem desses povos. Por outro lado, a cultura da capoeira  também tem sido apropriada por outras culturas. Nada contra a mistura de culturas, que é salutar. Acredito mesmo que ser Negro é, sobretudo, questão de consciência e alma. Mas desviar sua essência de tradição e sabedoria popular considero um crime. Por isso fiquei tão perturbado quando, residindo no interior do PR, soube que o conselho regional de educação física perseguia os mestres, exigindo-lhes diploma. Acho uma estupidez, que se equivale a cobrar diploma de medicina de uma parteira do interior do Pará, ou cobrar um diploma de  um pescador ribeirinho, destes que crescem, se alimentam e se confundem com as águas, do Sul ao Norte desse País. É preciso convencer muita gente que conhecimento popular é apenas diferente do científico, nunca inferior. Mas isso é também uma questão cultural.

"O gingado aparece na areia, perto das ondas do Mar, mas estamos muito distantes da Bahia de todos os santos".



Uma dica bibliográfica sobre o assunto, para quem se interessar, é o artigo Capoeira: de arte negra a esporte branco, de Alejandro Frigerio - Capoeira: de arte negra a esporte branco.

Nenhum comentário: