Capoeira, muito mais que uma dança, uma cultura brasileira
Fui envolvido pela capoeira em minha vida em diferentes momentos e, ainda que não tenha sido um praticante, aprendi a admirar e valorizar essa prática, decorrente de uma cultura construída em uma história de resistência e memória de uma etnia. Já pratiquei uma arte marcial na minha adolescência e percebia, naquele período, o quanto a disciplina do corpo tem a ver também com uma dimensão de mente, espírito e, sobretudo, cultura. No caso da capoeira, igualmente. A cultura é central nas vestimentas, nos instrumentos, nos cantos e nos movimentos, que se confundem entre dança e luta. Há uma expressão de liberdade, que emerge nessa arte, que se confunde com a história das nações afro-brasileiras que hoje começam a se reencontrar. E esse reconhecimento cresceu. Aqui e pelo mundo. E cruzando continentes, chegou de volta a origem desses povos. Por outro lado, a cultura da capoeira também tem sido apropriada por outras culturas. Nada contra a mistura de culturas, que é salutar. Acredito mesmo que ser Negro é, sobretudo, questão de consciência e alma. Mas desviar sua essência de tradição e sabedoria popular considero um crime. Por isso fiquei tão perturbado quando, residindo no interior do PR, soube que o conselho regional de educação física perseguia os mestres, exigindo-lhes diploma. Acho uma estupidez, que se equivale a cobrar diploma de medicina de uma parteira do interior do Pará, ou cobrar um diploma de um pescador ribeirinho, destes que crescem, se alimentam e se confundem com as águas, do Sul ao Norte desse País. É preciso convencer muita gente que conhecimento popular é apenas diferente do científico, nunca inferior. Mas isso é também uma questão cultural.
"O gingado aparece na areia, perto das ondas do Mar, mas estamos muito distantes da Bahia de todos os santos".
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