sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sobre Na Estrada e uma outra opção



Na Estrada conta a história do jovem escritor Sal Paradise (Sam Riley), cuja vida é sacudida e inteiramente transformada pela chegada de Dean Moriarty (Garrett Hedlund), um jovem libertário e contagiante, recém-chegado do Oeste com sua namorada de 16 anos Marylou (Kristen Stewart). Juntos, Sal e Dean cruzam os Estados Unidos em busca da última fronteira americana e à procura deles mesmos. Na viagem, ultrapassam todos os limites conhecidos...Ritmado por sexo, drogas e jazz, o filme é baseado em On the Road, o romance cult de Jack Kerouac que lançou as bases da geração Beat. Na Estrada também narra a história de um bando de jovens extraordinários, Bull (Viggo Mortensen), Camille (Kirsten Dunst), Carlo (Tom Sturridge) e Jane (Amy Adams), que se libertaram do conformismo conservador de sua época para seguir seus próprios caminhos, impactando gerações até os dias de hoje.

Assisti ontem, com alguma relutância, Na Estrada, o badalado filme de Walter Salles sobre a geração Beat – inspirado no romance On the Road, de Jack Kerouac. Digo com relutância porque evito ir a Shopping ver filmes. Sou dos que se identificam com o cinema como um espaço de imersão, um ambiente para a construção crítica e a compreensão do mundo. Consumo, barulho e sofisticação é dispensável e conflitante com essa concepção. De qualquer modo, como só estava em cartaz em Shoppings, lá fui eu, da periferia para o Praia de Belas, disposto a conferir essa história. Além do ingresso naquele clima estranho, esperar 10 minutos assistindo traillers de outros filmes que nada tem a ver com o que gosto, poderia ser outro motivo para a irritção, se eu não tivesse se preparado psicologicamente para isso. Quanto ao filme, nada de especial, nada de singular. Falando francamente, com todo respeito à trajetória de Salles, achei essa adaptação preparada industrialmente para o Oscar: ideologicamente tradicional, politicamente estéril e esteticamente previsível. Podem me dizer que a trilha sonora era boa. E vou concordar, ainda que ela tenha tido tímida expressão no todo. Dá para observar que a fotografia era deslumbrante. E não terei objeção, ainda que já tenha visto obras dessa época e lugares com cenários e enquadramentos muito melhores. Ainda é fácil notar que os atores são todos bons e também não nego. Mas no essencial, enquanto drama, o filme é reducionista. Isola um grupo de playboys em uma história, cujo personagem principal alimenta o sonho de escrever. E, assim, podem se dar ao luxo de sair pelo mundo e, no caso do ator principal, voltar quando quer para o colo quentinho da família. As garotas centrais do enredo, por sua vez, uma delas símbolo da liberalidade feminina da época - que faz sexo com dois homens e coisa e tal - representa o mesmo padrão tradicional da mulher monogâmica, confusa, submissa e, e no fundo, todas querendo um marido que realize sua felicidade. Já o tal Dean Moriarty, que seria o mais transgressor, não passa de um filho da puta, que humilha e explora todos a sua volta, pouco se lixando para qualquer respeito ou consideração de amizade. E ainda posa de rebelde símbolo máximo do “ser alternativo”. Por não ter pai presente, e ter esse se transformado em um mendigo pelas ruas de Nova York, parece querer fazer crer a história que pode se dar ao luxo de ser egoísta e malvado quem não teve um pai biológico ao seu lado. Mais um mito bem cultivadinho na cultura ocidental cristã. No mais, drogas, sexo e muito tabaco parecem apontar para a ideia de que a liberdade deve estar necessariamente associada a dependência psíquica e física. Muito obrigado, se essa a liberdade que a geração Beat representou. Acho pobre e muito pouco salutar para ser propalada como via de libertação, com comumente é difundido pelos que se identificaram com esse movimento. Posso parecer careta – e talvez até seja, dentro de uma certa visão de Moderno. Mas não consigo enxergar qualquer atitude por uma opção de ser livre sem responsabilidade. Salles foi muito mais feliz em Viagens de Motocicleta. Não por uma questão ideológica, sobre o personagem que retratou. Mas pela orientação muito mais independente e com consistente conteúdo que fizeram naquele filme os dois parceiros. Ali vi mais vida e razão de ser em prol de uma real mudança de si e dos outros. Pode se alegar que saiu disso um livro que marcou uma geração. Ok, mas para que direção? - pergunto. Naquela que indica que o ácido, o tabaco e o egoísmo são a salvação o caminho da luz? Alguém poderá contradizer-me com a observação de que Salles apenas retratou uma história. E eu reajo chamando a atenção de que qualquer filme, ficção ou não, é sempre uma adaptação. E Salles tinha condições e espaço para isso. Poderia apresentar a largueza de um México mais diverso e a altura do seu Povo, mesmo expondo suas Mazelas. Mas considero muito "Guerra Fria" reduzir um País de Terceiro Mundo de tal dimensão a apenas um antro de prostiuição, de tráfico e de miséria – como caricaturizou em uma das partes finais, bem ao estilo que Marcelo Camus fez do Brasil em Orfeu Negro. É muita miopia para um brasileiro tão experiente e celebrado quanto Salles. Mas, enfim, essa é minha singela opinião, que não vai – e nem deve  - interferir em nada na visão de quem viu ou vai ver esse filme. Apenas sugiro, procurem não ver em Shopping. E se o for, se isolem dos pipoqueiros, porque assistir um filme com mastigações do lado, é tão nojento quanto  desconcentrante. Para uma outra opção, reproduzo também o trailler de La Source des Femmes, sugestão de uma colega. No Youtube tem completo, só que dublado, o que também acho artificial. Bom fim de semana a todos os cosomonicantes! 


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