- Ronaldo Martins Botelho "No caso da dependência de crack, a trajetória de muitos consumidores que circulam pelo Centro é marcada por privações e dificuldades de diversas ordens. Interferir nesse difícil contexto de vida, com a adoção de políticas de reinserção no mercado de trabalho, de reforço dos vínculos comunitários, de educação formal, de acesso aos cuidados básicos de higiene e saúde, entre outras ações – é parte fundamental de uma política que, de fato, esteja preocupada em cuidar dessas pessoas, não apenas tirá-las de nossas vistas."
- Fernando J. Rubel Caro mestre, preciso me pronunciar...
Me corrija se eu estiver errado mas é que...
Eu juro que não entendo esses tralhas!
Primeiro gritam ao mundo que nada é feito, que é necessário tomar uma atitude, que as coisas não podem continuar como estão; mas aí, quando alguém faz algo, os mesmos tralhas saem gritando ainda mais alto, que não é assim que se faz, onde já se viu, por que fazer isso com as pessoas e blábláblá...
Esses pseudo intelectuais me cansam.
Se eles possuem uma opinião tão forte e tão certa sobre os assuntos e problemas que destroem a sociedade, por que não dizem isso tudo antes?
Por que não levam as suas opiniões aos órgãos competentes, que agora tentam fazer alguma coisa e não os ajudam a criar uma política diferente??
Sério...
Cansei das pessoas que são do contra só pra ser do contra...
Não vejo futuro nesse tipo de atitude... - Ronaldo Martins Botelho É diagnóstico complexo, Fernando J. Rubel, e admiro quem dá atenção sincera a causa. Mas me filio ao entendimento que a solução passa por considerar o indivíduo em relação. Isolar sem ressocializar é como retirar da rua um cachorro ferido e reduzi-lo a vida em coleira. "Zumbis" assustam, mas precisam ser considerados em sua real dimensão: são sintomas do problema, e não o seu centro; como, aliás, o são todos os dependentes de drogas - lícitas ou não.
- Fernando J. Rubel Ah, entendi...
então, enquanto não se acha uma solução para o problema devemos deixar que essas vidas sejam desperdiçadas na rua, deixá-los todos largados, marginalizados...
É. Me parece muito justo mesmo...
Mas eu não estava me posicionando nem a favor nem contra a iniciativa do poder público, mas sim contra o dito "intelectual" que se posicionou contrário apenas AGORA, quando alguém está tentando - de forma errada ou não, isso não importa - tomar uma atitude...
Continuo achando patético o posicionamento tardio do antropólogo, que deveria haver oferecido a sua opinião à sociedade antes das tais medidas.
Veja, em um momento ele diz que "políticas públicas não podem se pautar no alarmismo em torno da ideia de que há uma epidemia de crack".
Alarmismo?
Meu...
Acho que o cidadão não sai do apartamento, ou do seu mundo particular há muito tempo.
Não vejo alarmismos nas cracolândias.
E SIM, há uma epidemia de crack muito grande nesse país...
Mas o que ele fez até agora para mudar a situação?
É muito fácil criticar quando não tomou a frente do problema, ou seja, sem tentar solucioná-lo, sentado em seu apartamento...
Não quero criar polêmica, e nem te fazer mudar de opinião, mas...
Acho que são justamente esses discursos que atrapalham o andamento da coisa toda...
Acho que as pessoas precisam entender que não basta apenas fazer oposição, as vezes é preciso concordar e AJUDAR o poder público a consolidar melhor as suas iniciativas... - Hamilton De Freitas Oliveira Façam o seguinte: levem para as usas casas e lhes alimente o vício. Simples.
- Ronaldo Martins Botelho Depende, daí, como você considera a ideia de marginalização, Fernando J. Rubel. Silenciosamente, nas periferias, milhares padecem nessa situação, mas não incomodam, porque são invisíveis. Por outro lado, em favor da justiça, noto que os discursos nessa praia nunca são isolados de um debate maior. A luta antimanicomial, por exemplo, ensejou um olhar holístico sobre o problema das drogas, que sempre foi combatido por uma visão hospitalocêntrica, também associada a indústria farmacêutica. E o alarmismo que ele se refere, entendo, tem a ver com o agendamento da crack como algoz da violência social, quando é o contrário bem mais provável. Mídia e governos andam comumente de mãos dadas na construção de discursos simplificantes sobre esse problema. E na carona do moralismo, a Igreja inflama mais esse barulho pela “Paz”(?!). Também confio que és lúcido em não cair na armadilha desse maniqueísmo orientado, que pretende por os “teóricos” em oposição aos “práticos”. Senão por outra razão, porque seres vivos são muito mais do que máquinas para remediações via grades e pílulas.
- Fernando J. Rubel não sei Ronaldo...
Entendo os teus argumentos, mas ainda acho que é muito cômodo retaliar as ações do governo.
Não, eu não me "endireitei", apenas acho que tá na hora de a sociedade como um todo passar a pensar na solução dos problemas, e não ficar ape...Veja mais - Ronaldo Martins Botelho Isso seria mesmo confortável para quem não gosta de enxergar o tamanho da questão, Hamilton De Freitas Oliveira. Felizmente, todavia, cresce o discernimento de que pessoas não são lixos para serem compartimentadas em prol da felicidade dos afirmados no...Veja mais
- Ronaldo Martins Botelho Nessa nota, do começo do ano passado, ficou demarcado a distância entre duas visões no tratamento da questão da Cracolândia. http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/pm-quis-se-antecipar-a-acao-da-pf-na-cracolandia
- Fernando J. Rubel As vezes eu chego a acreditar que o "agendamento" do tema, na maioria dos casos, acontece da parte daqueles que se dizem contrários e levantam a bandeira do oposicionismo, colocando o assunto - geralmente com uma visão desinformada e distorcida - em pauta com uma frequência maior do que ele realmente teria...
Trecho de uma matéria da Caros Amigos:
"A Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo alerta, em seu site, que "casos de internação compulsória continuarão a ser exceção e não regra. A política prioritária continua sendo a internação voluntária, através do convencimento do dependente por agentes de saúde, assistentes sociais da prefeitura" e que não haverá participação da Polícia Militar no recolhimento de usuários."
http://carosamigos.terra.com.br/index/index.php/cotidiano/2965-governo-do-estado-inicia-acao-emergencial-na-cracolandia
Sim, é apenas o recorte de um assunto muito amplo...
Mas não deixa de ser uma informação importante...
Vou ler a outra matéria ali, para me inteirar mais sobre o assunto.
E claro, também o seu link, do advivo...http://carosamigos.terra.com.brcarosamigos.terra.com.br/index/ index.php/cotidiano/ 2965-governo-do-estado-inicia-a cao-emergen - Hamilton De Freitas Oliveira Respeito a opinião dos que são contra as ações do governo de São Paulo, mas lhes pergunto: que solução apontam para o problema? criticar e ficar teorizando o problema, ainda mais dessa magnitude, não ajuda em nada. Não desejo ver meus semelhantes serem tratados como bichos, nem tampouco vê-los sendo marginalizados, mas também não desejo deixar que façam o que bem entendem expondo a sua integridade e a de todos. É dever sim do Estado tutelar seus cidadãos vulneráveis, por isso temos leis especiais para assegurar tratamento diferenciado a vários grupos. O pensamento exposto pelo colega antropólogo é demagógico, oportunista, politiqueiro e utópico. Por que até agora, nem ele nem nenhum outro "intelectual" havia se pronunciado sobre a questão? ficam todos à espreita, apenas observando o problema, de longe, para na primeira oportunidade vir manifestar seu ponto de vista. Fácil meu caro Ronaldo Martins Botelho, porém nada edificante. Essa é a minha opinião.
- Ronaldo Martins Botelho Colegas de debate, primeiramente, saliento que também respeito o posicionamento de cada um no assunto. Não é minha intenção aqui convencer ninguém de nada. Como Saramago, acredito que convencer é pretender colonizar autoritariamente o outro. Mas quero me fazer entender realmente como enxergo esse tema. Vamos lá.
1 – Lembro, a priori, que a expressão “Intelectual” mencionada seguidamente, assim, assim como “Ambientalista”, tornou-se um estigma, uma denominação pejorativa usada, sob uma visão política intencional, para contrapor “Pessoas do pensamento” à “Pessoas do Povo” e à “Pessoas da Força”. Como se as formas de se posicionar diante do mundo fossem caixinhas, de cores diferentes e únicas. Isso é puro mito, e também uma forma conveniente de poder. Todos nós somos potenciais cidadãos para estudar e refletir sobre questões da humanidade e do planeta, ainda que alguns o façam sob níveis e enfoques diferentes entre si. E aí vale, inclusive, o conhecimento popular. Logo, todos nós somos intelectuais quando se posicionamos em um assunto de tal magnitude;
2 – Você pede uma “Solução”, Hamilton, mas cobra isso com o dever moral de quem deve saber que não há solução séria e eficaz que surja por decreto; Que só o rigoroso debate, planejamento, trabalho e teoria (teoria, sim, explico abaixo) dão encaminhamento eficaz à problemas sociais. A história da política brasileira já demonstrou o que leva a precocidade nas decisões por lobbies ou pressões. O Brasil, que era um potencial produtor de alimentos orgânicos, bem aceito na Europa, mal concede hoje aos seus cidadãos a segurança no ato de uma compra no Supermercado. O Mercado (na Academia, no Agronegócio ou no Governo) conseguiu uma “solução” para esse caso. Liberou há anos a produção comercial dos Transgênicos. Resultado, hoje a maioria dos brasileiros paga muito caro para comer um alimento seguramente saudável. Na saúde, quando em outras décadas, lobbies semelhantes aos já citados pressionavam por “soluções” rápidas para os problemas desconhecidos pela psiquiatria, novamente se respondeu com os Manicômios. Lamentavelmente, algumas centenas de milhares ou milhões de pessoas (que direta ou indiretamente os que aqui debatem devem ter cruzado) tiveram que ser submetidas às camisas-de-força, aos quartos-fortes - ou "prisões-acolchoadas" – aos choques elétricos, às operações no cérebro, e à outras torturas humanas - para que a comunidade médica percebesse que as pessoas também adoecem mentalmente. (E, diga-se, a dinâmica da sociedade moderna facilita bastante isso). Se houve avanço nesse processo todo, foi porque envolveu, e envolve até hoje, sim, a construção de teorias (que não é oposição à prática – como se teima em rotular - mas o aproveitamento desta por meio do produto entre a experiência e a reflexão sistematizadas, lembremos). Fico nesses dois casos para ilustrar;
3 – Me agride os olhos também a marginalização, como a você, Hamilton. Em Porto Alegre, se multiplicam as pessoas que dormem todas as noites pelas ruas sob marquises. Alguns, mesmo que silenciosamente, se identificam na solução de queimá-las vivas; de retirá-las dos lugares mais visíveis a base de porrada, de exterminá-las à bala, como é comum em periferias do RJ e de SP. É uma situação séria. Mas, diante dessa urgência de solução, eu assumiria uma postura incoerente, para dizer o mínimo, se passasse a defender que os agentes do Estado substituíssem sua violência social, efetivada pela omissão, ou insuficiente cumprimento das garantias humanas e constitucionais a essas pessoas - como moradia, saúde e trabalho - por uma outro tipo de violência, respaldada pelo Judiciário, a Psiquiatria ou a Mídia;
4 – Apoio também, com veemência, que o Governo do São Paulo aja, com atenção e celeridade na questão do Crack. Mas rejeito, com a mesma veemência, a ingenuidade de ignorar as contradições existentes entre o discurso verbal e a amplitude das medidas sociais do governo paulista. Lembremos aqui que há fatores imobiliários, turísticos e eleitorais intrínsecos nessa questão. Senão, vejamos:
a) É injusto considerar que a ação solucionadora para o problema do Crack se dá apenas pela operação do Estado. Um olhar assim ignora a dimensão histórica e política do tema; Que há uma rede diversa de entidades civis, integrada por especialistas e leigos voluntários, que se dedica há décadas à questão. Ao conflitar abertamente com essa rede, como tem feito (http://www.spressosp.com.br/2012/02/sociedade-civil-divulga-carta-manifesto-contra-acao-na-cracolandia/), o governo paulista desperdiça tempo e experiência, porque abandona a possibilidade de aliar com esse segmento para uma solução madura, estrutural, efetiva e eficaz;
b) Se o propósito de Alckmin, como tem afirmado, é agir criteriosamente sobre esse problema - com instâncias adequadas de acolhimento e internação - porque ignorou a rede de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) já existentes na cidade para cumprir esse papel – (http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/arquivos/secretarias/saude/adep/CAPS_enderecos.pdf), e criou uma estrutura com outra nomenclatura - os CRATODs Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Sugestiva semelhança, não)? - Por que aquela é mantida pelo Governo Federal? Se os papeis de ambas tem afinidade, porque isolá-las em uma ação (supostamente) estrutural?
c) Falando nisso, como bem notei no post anterior do Nassif, antecipando os investimentos para o enfrentamento do crack, havia no começo do ano passado um planejamento conjunto, estratégico e meticuloso, para tratar dessa questão, articulado entre a PF e a Polícia de SP. A própria Fiocruz foi prejudicada nessa antecipação seu estudo "cenas do crack", desenvolvido com 12 pesquisadores, precisamente para um diagnóstico das condições e necessidades daqueles usuários (ver link acima). Por que essa operação foi boicotada pelo executivo paulista? Protagonismo? Opinião Pública? O fato de 82% da população paulistana aprovar a ação na cracolândia não me surpreende.
De acordo com pesquisas da época, parte expressiva dessa mesma população apoiou o Massacre do Carandiru, para lembrar, episódio que de extermínio estatal de 111 presos que custou ao País uma severa petição da OEA (http://www.cidh.oas.org/annualrep/99port/Brasil11291.htm).
Quanto as críticas e proposições do antropólogo, pontapé inicial desse debate, confesso que nem sabia quem era o cara, apenas identifiquei lucidez no que diz. E ao averiguar, noto que não é um Zé Mané, tem histórico de atuação no tema da saúde mental e da violência (http://www.neip.info/index.php/content/view/397.html). Mas, insisto, ele apenas é uma das vozes de uma corrente maior, que defende a manutenção e qualificação dessas políticas pública. Lembro, mais uma vez, que a teoria é mais do que parte da solução, ela é essencial. E indivíduo de todas as áreas do saber sabem disso, inclusive os militares. Por fim, agradeço a vocês, Fernando e Hamilton, a oportunidade de estender-me nesse debate, no qual não há certezas, e por isso mesmo, a dúvida e a troca de ideias, respeitosa e plural, deve nortear cada passo. Esse “debate divergente” é parte da construção da solução, de modo que estamos aqui contribuindo, mesmo que teoricamente.
"O HAMAS, que é um grupo palestino muçulmano sunita, tem como intenção, através de ataques, serem ouvidos sobre a situação caótica de seu povo árabe, pois através do diálogo não houve uma resposta satisfatória."
sábado, 26 de janeiro de 2013
Crack o Estado na Questão
Pois não é que o meu post da entrevista com um antropólogo sobre a questão das ações policiais na questão do crack em São Paulo renderam um debate maior? Está em meu perfil. Reproduzo-lhe aqui, para a participação dos visitantes.
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