Dizer que as manifestações de rua adquirem contornos violentos a certa altura é diferente de dizer que os movimentos ora em vigência são violentos. O que ocorre nesse fenômeno novo é que, por tratar-se de uma mobilização horizontalizada e heterogênea, são várias pautas. Pautas, inclusive, que surgem na própria dinâmica da manifestação. O risco dessa multiplicidade de agendas é que se perca o foco. Acredito, nesse ponto, que os militantes partidários tem muito a colaborar, na medida em que são vinculados a organizações institucionalizadas e podem mediar esse conflito das ruas para o âmbito de quem tem o poder oficial de decidir.
Uma causa também se transporta na dinâmica de um processo de reivindicação de ampla abrangência? Sim. Mas há também a possibilidade de ela ser antecipadamente organizada a partir de segmentos que visam direcionar uma causa maior em prol de seus objetivos específicos, às vezes perigosamente restritivos de liberdade e de humanidade.
Estamos vivendo uma retomada da mobilização jovem, de maneira mais efetiva, após próximo de uma década de imobilismo. Tenho para mim que o episódio do Mensalão foi um marco desse desencanto, que começou lá atrás, durante a decepção com os governos do tucano F.H.C. Mas ainda nesse período havia uma resistência. Participei de greves contra o desmonte da universidade pública. Todavia, vivemos um momento de avanços inegáveis nas áreas de educação, direitos humanos e moradia, entre outras; a sede da juventude por uma causa de transformação se compreende, mas é preciso identificar a real dimensão disso, para poder se distinguir e entender determinados atos bárbaros e discursos vazios ou contraditórios.
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“Foda-se o Brasil”, gritava o rapaz em SP
Uma causa também se transporta na dinâmica de um processo de reivindicação de ampla abrangência? Sim. Mas há também a possibilidade de ela ser antecipadamente organizada a partir de segmentos que visam direcionar uma causa maior em prol de seus objetivos específicos, às vezes perigosamente restritivos de liberdade e de humanidade.
Estamos vivendo uma retomada da mobilização jovem, de maneira mais efetiva, após próximo de uma década de imobilismo. Tenho para mim que o episódio do Mensalão foi um marco desse desencanto, que começou lá atrás, durante a decepção com os governos do tucano F.H.C. Mas ainda nesse período havia uma resistência. Participei de greves contra o desmonte da universidade pública. Todavia, vivemos um momento de avanços inegáveis nas áreas de educação, direitos humanos e moradia, entre outras; a sede da juventude por uma causa de transformação se compreende, mas é preciso identificar a real dimensão disso, para poder se distinguir e entender determinados atos bárbaros e discursos vazios ou contraditórios.
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Noto que entre as redução de tarifas anunciadas pelo País o
comum é que estas sejam resultantes da desoneração de impostos - que em outras
palavras, é a redução de recursos públicos para investimentos em benefício do
próprio Povo que reivindica. Que tal a pauta dessas reivindicações incorporarem
a redução da lucratividade das empresas de ônibus?
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publicada terça-feira, 18/06/2013 às 22:40 e atualizada
terça-feira, 18/06/2013 às 22:38
Texto e Foto reproduzidos de Viomundo
Por Rodrigo Vianna, no Escrevinhador
No sentido contrário, a massa marchava. Pareciam estudantes
razoavelmente organizados: carregavam faixas de diretórios acadêmicos,
bandeiras da UJS, mas também muitos cartazes desenhados a mão: “O Brasil
acordou”, “Fora FIFA”, entre outros. Um rapaz me informou: ”estamos indo pra
Paulista porque o Haddad nem está mais aí na Prefeitura”. Haddad tinha seguido
ao encontro da presidenta Dilma, para uma reunião no Aeroporto de Congonhas.
Pensei em tomar o rumo da Paulista, mas meu chefe de reportagem avisou pelo
rádio: “acho melhor você ficar por aí, porque um grupo pequeno resolveu ficar
pra atacar a Prefeitura”.
Pouco a pouco me aproximo do prédio. O grupo que ficou não
era tão pequeno assim. E o que vejo e ouço é estranho – pra dizer o mínimo. Há
homens mascarados, muita gente de coturno. E há também jovens que conversam com
a gíria típica da periferia paulistana. Misturados a eles, moleques com jeito
de playboys de classe média. Gritam palavras de ordem de forma desorganizada e
aleatória.
Um menino, a meu lado, grita “Fora, petralhada”, e “Fora,
Dilma”. Puxo papo, e ele conta: “Sou do grupo Mudança Já, que luta por menos
impostos e uma gestão eficiente”. Esse não parece da periferia. Pelo papo e
pelas roupas. De fato, mora no Jabaquara – bairro de classe média. O menino
fala mal do MPL – Movimento Passe Livre, que puxou as manifestações desde o
início. “Esses não me representam, são agitadores e falam com jeito de
comunista”.
Êpa…
De repente, o grupo dos mascarados se exalta e avança sobre
os portões da Prefeitura. Voam pedras, arrancadas do calçamento do centro
antigo. Pedras portuguesas. Jovens mascarados arremetem contra os homens da
Guarda Civil Metropolitana.
Um deles usa camiseta branca justa, bota em estilo militar e
age com a volúpia típica dos provocadores que conhecíamos tão bem nos anos 80 – quando a Democracia ainda
engatinhava. É o rapaz que aparece nas fotos acima…
Alguns picham as paredes da Prefeitura. A turma mais
moderada grita: “sem vandalismo”. Os mascarados devolvem: “sem moralismo”. Um
rapaz passa a meu lado e grita: “vamos quebrar tudo”. E quebram mesmo.* Pedras
voam perigosamente sobre nossas cabeças.
Mas a imagem mais chocante eu veria logo depois. Um grupo
segura uma bandeira brasileira e queima. Um rapaz grita: “foda-se o Brasil,
Nacionalismo é coisa de imbecil”. E aí tenho certeza que há um caldo de cultura
perigoso por aqui.
Um Brasil fraco, um Estado nacional sob ataque, não será
capaz de melhorar a vida do povo. Isso interessa para os conservadores e para
seus aliados nos Estados Unidos.
De repente, chega um grupo novo, mais de cem pessoas. Trazem
uma faixa amarela, com a frase “Chega de Impostos – Mooca”. O bairro da Mooca é
um reduto da classe média – em geral, conservadora. A palavra de ordem é “Fora,
Dilma”.
Um funcionário da Prefeitura meio gordinho aparece na
janela. Ao meu lado, um grupo berra pra ele: “Gordo, filho da puta, você vai
morrer. Você come nossos impostos, filho da puta”.
Penso com meus botões: essa turma foi pra rua pra pedir serviços públicos de
qualidade e, de repente, está pedindo também menos impostos, menos Estado. E
queimando a bandeira do Brasil. O que é isso?
Ah, é o sintoma de uma sociedade que incluiu jovens pelo
consumo, sem politização. Ok. Isso está claro. Desde 2010, dizíamos nos blogs
que essa equação do lulismo poderia não fechar. Despolitização? Ou pior que
isso: um pé no fascismo? O discurso que nega a Política é a melhor forma de
deixar a avenida aberta para uma Política autoritária.
Claro que o povo na rua é muito mais que isso. O recorte que
descrevo acima é bastante específico. Entre os milhares que foram para a
Paulista, na segunda e na terça-feira em São Paulo, havia muita gente
progressista, disposta a mudar o Brasil. Mas ali também imperava o “Fora,
Políticos”. Ora, se todos foram eleitos, o que será que essa turma imagina?
Sovietes no Grajaú e no Morro do Alemão? Nada disso. A idéia de muitos por hora
é botar fogo em tudo. Qual será o fim disso?
A esquerda organizada, hoje tive certeza, precisa disputar
as ruas. Lula precisa reaparecer e botar o bloco na rua.
Outro dia escrevi aqui: quando vemos esse clima de “Fora,
todos os Políticos” podemos imaginar duas saídas possíveis
– a Argentina que
escolheu os Kirchner para se recuperar depois do caos;
– ou a Espanha, que levou jovens “indignados” para as praças
(e lá também bandeiras de partidos eram “proibidas”) mas no fim das contas
elegeu os franquistas do PP.
No Brasil, o jogo está sendo jogado. A massa lulista –
aquela massa forte das periferias das capitais, e do Nordeste – essa massa não
está nas ruas. Isso ficou claro pelo que vi e ouvi nas ruas de São Paulo.
Nas ruas há uma mistura: ultra-esquerda, nova esquerda,
indignados em geral e, infelizmente, também há o velho lúmpen que pode virar –
fácil, fácil – caldo de cultura para uma saída autoritária.
Quem conhece bem a história do Brasil não ficaria
surpreendido se, desse processo todo, nascesse não “uma nova política”. Mas um
governo (mais) conservador, que botasse o Brasil de novo “nos trilhos” da
submissão aos EUA, jogando fora os tênues avanços da Era Lula.
Afinal, “foda-se o Brasil”, não é? Essa cena não vou esquecer: a nossa bandeira
queimada por jovens tresloucados que afirmam querer mudar o país. Foi estranho.
* Ao fim da manifestação, parte dos jovens mascarados
avançou em direção ao carro da TV Record que estava diante da Prefeitura e
tocou fogo no veículo. Tudo que parece – ou é –
símbolo de poder acaba virando alvo. Nenhum jornalista ficou ferido. O
alvo era a empresa.
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DEMOCRACIA, APRENDIZADO QUE SE CONSTRÓI EXERCENDO. Em um
processo de mobilização no nível que vem ocorrendo no País fica cada vez mais
notório que os riscos de limitações das liberdades individuais, politicamente
falando, não raras vezes partem da própria sociedade civil, e não
necessariamente do Estado - sem querer eximir o potencial deste para isso,
enquanto detentor do monopólio legal da Força.
É desnecessário conhecer mais a fundo o tal projeto que aprova a "Cura Gay" no País, aprovado nesta semana aprovada por votação simbólica na Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, para se assustar com o nível medieval que chegou nosso Parlamento.
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A imprensa revela por vezes sua visão política profunda e engajada apenas pela observação das questões que propõe agendar. A enquete de hoje na rádio de maior audiência no RS, por exemplo, algo como: Manifestação x Civilidade, é possível eliminar as laranjas podres do cesto? A ideia de eliminação dos indesejáveis está sempre presente no discurso da imprensa hegemônica, seja explícito, seja nas entrelinhas de determinadas falas.
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Discordo frontalmente do tipo de hostilidade que foi vítima Caco Barcelos no Largo da Batata, em SP. A qualidade de seu trabalho
desmerece esse tipo de situação. Entendo que ele mediu o custo a pagar, mas é
alvo errado; quem conhece seu trabalho sabe disso. É um equívoco criminalizar
todos os programas e profissionais que atuam na Globo por causa da orientação
político-editorial da empresa. Generalizações sempre cometem excessos.
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