Um roteiro abrangente, que incluiu questões de saúde de meu pai, impediu-me de alimentar o blog nas primeiras horas do dia. Acompanhei pela manhã, via Mídia Ninja (aliás, de altíssima qualidade a cobertura), o caso da ocupação do prédio da reitoria da Unesp (SP) por cerca de 100 estudantes, que durou cerca de 24h, já que a polícia de choque retirou-lhes pelo início do dia seguinte, levando todos a fichamento policial (Foto).
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Foto: Mídia Ninja |
No caso de SP, diferente da ocupação da Câmara de Porto Alegre, que o próprio oficial de justiça fez a constatação de ter sido preservado o patrimônio público, parece que na reitoria da Unesp houve alguma danificação deste, como pichações e outros danos. É claro que a própria polícia contribuiu para agravar isso, como por exemplo, com a quebra de vidros durante a desocupação. Mas as câmeras hoje são aliadas para registrar isso. Mas uma diferença que me parece substancial com relação às duas ocupações é a natureza dos dois movimentos. Em São Paulo se tratam de universitários de moradias estudantis, que ingressaram a maioria por cotas, como alegam os estudantes. O que torna a mobilização altamente justa, no entanto, alcança um número limitado de adesões, no que se compara à totalidade da comunidade universitária e à própria sociedade paulistana como um todo, que como no resto do País, ainda parece não se identificar com as demandas por uma universidade pública mais inclusiva. No caso de Porto Alegre, diferentemente, além da causa em questão ser mais abrangente - o passe livre - há aqui uma confluência de vários movimentos civis, incluindo os estudantes.
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Foto: Bloco de Lutas (Perfil Face) |
Essa articulação plural, creio, deu mais consistência ao processo. Acrescente-se a isso a participação de grupos familiares - incluindo crianças - o que até foi questionado por jornalistas locais, mas é bem certo que isso foi um fator que colaborou na decisão da juíza pela suspensão da reintegração de posse. E, claro, não dá para desconsiderar a orientação política dos governos de SP (PSDB) e RS (PT), que, independente de controvérsias ideológicas, nota-se distinções no que se refere ao trato com os movimentos sociais. Outro fator a não se desprezar, em distinção nos dois casos, é a articulação realizada com bancadas de vereadores da Câmara, no caso de Porto Alegre, que deram uma consistência legal, política e midiática ao processo daqui, diferente de lá, que nada disso se notou - embora há setores expressivos da politica nacional e regional identificados com a causa da universidade pública. Assim, o que se tira como aprendizado da incidência desse fenômeno político das ocupações de prédios públicos por grupos civis como estratégia de pressão, que não é tão nova estratégia assim, é que qualquer ação envolve fatores múltiplos, externos e internos ao grupo, que precisam ser considerados; que a ocupação nunca se resume no ato em sí, mas envolve considerar o seu processo do durante e a posteriori. Isso se o objetivo é mesmo dar uma amplitude de referência com a manifestação, para além de uma mobilização episódica, transformando-lhe em uma forma de organização e um grito cidadão a ser ouvido por contemplar a maioria da sociedade.
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Como os Estados Unidos espionaram o Brasil
"As fitas grampeadas, 38 fitas, ainda que explosivas,
são apenas parte dessa história. O grampo é motivo e consequência. O grampo é,
a um só tempo, gerador e espelho da degradação e da absoluta desproteção a que
estão entregue os cidadãos. Os enredos que antecedem e se completam com a
fitalhada grampeada, as conexões e personagens remetem aos porões do
Brasil".
Arte do blog de Bob Fernandes, confira também textos das reportagens aqui.
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