Surpresas de um dia e algumas dicas
O cenário foi uma das padarias do Mercado Público (?!), Centro de Porto Alegre. Ao entrar na fila com um amigo para tomar um café sou abordado por um, entre tantos, desses indivíduos em situação de rua. Pergunta-me se eu poderia completar o seu café, pois tinha só R$ 2,00. Acenei que sim, e entrei na fila para pagar. Foi nesse meio tempo que o caixa (supostamente o proprietário) bateu violentamente, por dentro do vidro do guichê dizendo que o fulano não podia estar ali, nem pedir. Perplexo, mas ainda no tom baixo, assumi que estava pagando o seu café, e que o mesmo iria poder tomá-lo ali dentro. Ao que o atendente revidou que não, pois, senão, ficaria o dia inteiro nos arredores pedindo. Meu tom mudou imediatamente para dizer que ele não podia fazer isso, pois aquele era um local de acesso público, ainda que de propriedade particular. A resposta do cara foi emblemática: "Tá com pena, leva para casa" (nesses absolutos termos). Notei-lhe que o respeito ao ser humano é um dever de todo cidadão, não necessariamente de um caridoso do nível que ele propunha. Também lembrei-lhe que quem tem um estabelecimento comercial, no mínimo, tem que saber conviver com pessoas diferentes em seu ambiente de trabalho. Meu colega que estava comigo, estrangeiro, também chocado, reforçou a observação. E tanto firme fomos, com a fila crescida, que o cara acabou por aceitar, a contragosto. Convidamos o rapaz que pediu o café para nos acompanhar na mesa - até porque, a hostilidade de olhos sobre ele era visível naquela altura.Tinha menos de 30 anos e era ex-operário de uma metalúrgica, desempregado, com problemas típicos de quem dorme na rua, sabe se lá por quê. Saímos do local, ainda perturbados, com a naturalização da exclusão em um ambiente daquele tipo, no qual circula, diariamente, centenas de pessoas simples, como é a maioria dos brasileiros. Provavelmente, em um local dito elitizado, um indivíduo desses seria considerado uma ameaça, até mesmo na calçada. E assim caminha a desumanidade.
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COMO É TÍPICO DOS TRABALHOS DE S. SALGADO, GENESIS IMPRESSIONA NA FORMA COMO SENSIBILIZA E PROVOCA A REFLEXÃO, POR MEIO DA SIMPLICIDADE, NA ESTÉTICA CRUA DO PRETO E BRANCO. AS OBRAS TAMBÉM ESTÃO NO CAMPUS CENTRAL DA UFRGS. "
A exposição vem pela primeira vez ao estado para participar do sétimo FestFoto POA (Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre)e estará aberta à visitação de 13 de março a 12 de maio deste ano na Usina do Gasômetro."
UFRGS recebe Sebastião Salgado
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Após assistir a palestra "Momento Político, Econômico e a Ausência das Garantias Fundamentais na Venezuela Hoje", proferida na manhã de hoje pela Profa. Dra. Blanca Rosa Marmól de León, no auditório do TCU, pude confirmar algumas impressões já percebidas no pálido noticiário e debate sobre aquele País na imprensa brasileira.
- Ainda que abrangente, considerei um pouco superficial de elementos históricos o cenário apresentado por esta ministra aposentada da suprema corte daquele País e professora de direito da Universidade Central da Venezuela;
- Há um ranço ideológico (visível na plateia) que prejudica qualquer análise política mais lúcida sobre o cenário latino-americano. E atribuo esse extremismo ao vazio de informação e bipolaridade discursiva sobre o tema na imprensa brasileira;
- O totalitarismo é pernicioso à todos, independente do pólo político - direita ou esquerda - por meio do qual se apresente;
- Igualmente, a democratização dos meios de comunicação, para evitar o controle dos conteúdos e garantir a pluralidade dos pontos de vista; precisa ser garantida para a sociedade civil como forma de proteção dos monopólios públicos e privados. E nisso, não tenho dúvidas, só a Regulamentação (hipocritamente rotulada de censura pela imprensa corporativa brasileira) é o caminho;
- A ameaça a soberania nacional, por meio de uma cartilha ideologica externa, não é decidida por um Império militar estrangeiro, mas determinada por uma correlação de forças na qual o governo nacional opta pelo prejuízo interno para a garantia de uma imagem artificialmente positiva.
Mas são impressões, que só seriam melhor esclarecidas com um painel mais contrastante sobre aquele País, o que não ocorreu nesse caso, infelizmente.
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