DIFERENTE DE MUITOS PROFETÓLOGOS DOS ANOS 80, J. RIFKIN É UM
ENTUSIASTA CAUTELOSO. E COM RAZÃO. UMA DESSAS CONTRA-FORÇAS A EMANCIPAÇÃO
HUMANA PROSSEGUE SENDO O INDIVIDUALISMO, CREIO EU.
"Não se trata de fé
ingênua no poder da técnica: a ampliação das oportunidades de oferecer bens e
serviços a partir da cooperação direta entre as pessoas (e cada vez menos, do
mercado) depende do fortalecimento da sociedade civil e esbarra na gigantesca
força dos interesses que procuram sempre limitar o alcance dos bens comuns (os
commons, em inglês)".
Surpresa: uma tecnologia contra o capitalismo?
POR RICARDO
ABRAMOVAY
Texto e Imagem reproduzido do Outras Palavras
Multiplicam-se ferramentas que libertam seres humanos das
empresas, ao permitir que produzam em colaboração direta. Quais são? Como
sistema tenta sabotá-las?
Por Ricardo Abramovay | Imagem: Leonardo da Vinci
Resenha de “The Zero Marginal Cost Society- The Internet
Things, the Collaborative Commons, and the Eclipse of Capitalism” ["A
Sociedade de Custo Marginal Zero: a Internet das coisas. os Commons
Colaborativos e o Eclipse do Capitalismo" , de Jeremy Rifkin. Palgrave
MacMillan. 368 págs., US$ 20,97
O livro de Jeremy Rifkin [ver referência acima] é uma
ambiciosa tentativa de formular nova narrativa para a utopia que desabou junto
com o muro de Berlim, em 1989. Sua profecia mais ousada é que o capitalismo entrará
em irreversível declínio ao longo das próximas três décadas. Ele não será
substituído por aquilo que costuma ser considerado seu oposto, ou seja, a
propriedade estatal dos grandes meios de produção e troca, orientada pelo
planejamento central.
Seu declínio não passará tampouco por mãos hostis, por
processos de expropriação ou por eventos épicos como a tomada do Palácio de
Inverno. Na verdade, o eclipse do capitalismo já está desenhado e decorrerá do
avanço simultâneo da 00 e da economia colaborativa.
Não se trata de fé ingênua no poder da técnica: a ampliação
das oportunidades de oferecer bens e serviços a partir da cooperação direta
entre as pessoas (e cada vez menos, do mercado) depende do fortalecimento da
sociedade civil e esbarra na gigantesca força dos interesses que procuram
sempre limitar o alcance dos bens comuns (os commons, em inglês). Mas,
diferentemente de qualquer época precedente, a produção e o uso de bens comuns
conta agora com dispositivos cada vez mais poderosos. É nessa unidade entre a
cooperação social e as mídias digitais que está a base para uma sociedade
moderna, inovadora, colaborativa e descentralizada, funcionamento não se apoia
nem nos mercados, nem na busca individual do lucro.
Jeremy Rifkin é professor de uma das mais prestigiosas
escolas de gestão dos Estados Unidos, a Wharton. Além disso, é consultor de
vários governos europeus e empresas globais. Como tantos outros intelectuais
americanos, adotou postura crítica com relação ao papel das finanças na crise
de 2008, apoiando o Occupy Wall Street. O mais intrigante neste seu último
trabalho está no título: custo marginal zero é uma espécie de quadratura do
círculo para a sabedoria econômica convencional. De fato, as primeiras páginas
dos manuais ensinam que a natureza econômica dos bens e dos serviços deriva de
sua escassez. É por serem escassos que os produtos são alocados por meio dos
preços. A abundância generalizada (como bem o observaram, mesmo que sob
enfoques diferentes, Marx, Stuart Mill e Keynes) conduziria a uma organização
social com mecanismos totalmente diferentes dos que marcam a civilização atual.
140515-RifkinA era digital está abrindo caminho a uma
economia da abundância. Isso não quer dizer, claro, que produzir
matérias-primas minerais e agrícolas não custe nada, que os serviços
ecossistêmicos sejam ilimitados ou que se tenha abolido a lei da entropia. Mas
é cada vez maior o leque de bens e serviços da economia da abundância.
Aquilo que hoje se encontra gratuitamente no YouTube e na
Wikipedia só podia ser oferecido, duas décadas atrás, por uma típica economia
da escassez: o consumidor era obrigado a comprar um disco, pagar pela leitura
do jornal ou adquirir uma enciclopédia para obter utilidades hoje disponíveis
de graça. A própria educação é e será cada vez mais apoiada em mídias digitais,
como já mostram os seis milhões de estudantes, de todo o mundo, inscritos em
cursos abertos, on-line, das melhores universidades americanas.
A grande novidade do século XXI é que essa revolução virtual
já atinge a energia e o mundo material. Passou dos bits aos átomos. E aqui
reside o extraordinário potencial transformador da internet das coisas. Ela é
um tripé, formado pela unidade entre a internet das comunicações, a internet da
energia e a internet da logística.
No campo da energia, a grande novidade não está apenas no
caráter exponencial do crescimento das renováveis – sobretudo, da solar, cuja
capacidade instalada vem dobrando anualmente nos últimos 20 anos. O mais
importante tampouco é o avanço das eólicas, cujas turbinas são hoje mil vezes
mais produtivas que em 1990. O fundamental é que esses avanços são acompanhados
por uma radical descentralização: na Alemanha, 70% da energia renovável se
originam em dispositivos instalados nas residências, nas oficinas ou nas
fazendas. Em matéria de energia, os alemães serão não só, cada vez mais,
consumidores, mas produtores de renováveis, ou, como diz Rifkin,
“prossumidores”. Tanto mais que os próprios bens de consumo (dos
eletrodomésticos aos automóveis) serão também dotados do poder de comunicar-se
de forma inteligente, consumindo energias nos momentos de menor demanda e,
muitas vezes, transmitindo energia para a rede.
O tripé da economia da abundância se completa com
dispositivos como a impressora em três dimensões e as máquinas de corte a laser
que permitem realizar numa escala local, individual, customizada e com imensa
eficiência, aquilo que, até aqui, só era concebível como resultado da grande indústria.
Se o sucedâneo da manufatura é a grande indústria, esta será substituída pelo
que Rifkin batizou de “microinfofatura”. É um conjunto de técnicas e
oportunidades que abrem caminho não só a uma extraordinária economia de
recursos, mas a mudanças fundamentais nas bases sociais da oferta de bens e
serviços.
Rifkin chega a dizer que a produção de massas dará lugar à
produção pelas massas, numa espécie de recuperação dos ideais ghandianos de
autoprodução e independência, mas sob condições técnicas que permitem competir
com o que, até aqui, só era possível em virtude da grande indústria e da
gigantesca concentração de poder que lhe é correlativa. Os prossumidores serão
protagonistas decisivos não só na oferta de informação e de energia, mas também
de bens materiais. É o que forma a infraestrutura de uma sociedade orientada
pela produção e pelo uso de bens comuns.
Rifkin não deixa de mencionar, é claro, o imenso poder hoje
em mãos dos gigantes que dominam a própria revolução digital. Mas a cultura do
acesso aberto a inovações e a velocidade do avanço da tríade em que se apoia a
internet das coisas abrem vias tão novas e promissoras para a cooperação social
direta e para a valorização dos bens comuns que tornam persuasiva a ideia de
que o capitalismo possa estar a caminho de seu eclipse.
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“Inovação não é só fazer algo diferente. Hoje entendemos que inovar é criar algo que traz benefícios para a sociedade como um todo”, afirma Juliana Proserpio, articuladora de aprendizagem a Design Echos School. “Todas as ações nesse sentido, seja no meio empresarial ou nas comunidades, deve considerar o bem-estar dos stakeholders internos e externos.”
Protetores de telas que ajudam cão a encontrar
dono; garrafa feita com lixo retirado do mar; casas para pássaros transformam a
árvore numa obra de arte".
Veja essas encantadoras inovações que melhoram o mundo aqui.
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