Reproduzido, com fotos e texto, do Outras Palavras
Publicado em 20 de setembro de 2014 por Redação
Na véspera do Dia Mundial Sem Carros, coletivos que agem pelo Direito à Cidade em SP tentam ocupar Avenida Paulista e abrir suas pistas para seres humanos
Por Carolina Gutierrez
“Será Avenida Paulista, em homenagem aos paulistas”,
declamou Joaquim Eugênio de Lima, engenheiro uruguaio, responsável pela
construção da via, que hoje, diferente do projeto inicial, é um dos principais
centros financeiros da capital.
A avenida, inaugurada em 8 de dezembro de 1891, tinha entre
seus objetivos o aumento da área residencial e a descentralização do
crescimento urbano. A ideia inicial era abrigar paulistas que desejavam ter seu
espaço na cidade. O público para essa nova área era formado principalmente por
barões do café cafeeiros, os quais construíram seus palacetes na primeira via
asfaltada da Pauliceia.
Hoje, Joaquim Eugênio de Lima virou travessa; os casarões,
bancos; o asfalto, pista de corrida; o calçadão, outrora símbolo da cidade,
passagem; o MASP… tentaram fechar o vão do MASP!
Porém, engana-se quem acredita que a Paulista não é mais
aquela. Constantemente o povo de São Paulo recobra o espaço que lhe é de
direito e volta à velha avenida, que anualmente é palco de uma das maiores
paradas gay do planeta. Para muitos, ela é o ponto de encontro (e apoteose) de
manifestações, bicicletadas, feira de antiguidades, festa de ano novo, patins,
skate, vagas vivas… a Paulista de hoje têm até horta e shows do Elvis Presley.
E os paulistanos querem mais.
Ocupação da Paulista
E se? E se a Paulista fosse nossa? Com esse mote, o coletivo
SampaPé propõe a ampliação dessas atividades, em um momento simbólico de debate
e transformação que passa a avenida com o projeto de ciclovia, proposto pela
prefeitura de São Paulo. No próximo domingo, dia 21/09 (véspera do Dia Mundial
sem Carros), diversos coletivos de direito à cidade vão ocupar a Paulista com
atividades, oficinas, shows, rodas de conversa, piqueniques etc. A proposta é
fechar as vias para os carros e abri-las para as pessoas.
Realizado pela primeira vez no dia 22 de setembro de 2013,
este ano o movimento já ensaiou duas ocupações: em 7 e 14 de setembro. Para
Letícia Sabino, idealizadora do SampaPé e uma das organizadoras do movimento, a
ideia é inerente (porém adormecida) a todos paulistanos: “aposto que qualquer
pessoa sonha com isso. Basta ver a recepção das pessoas às ocupações que já
realizamos e às atividades que já acontecem na avenida. Percebemos uma quebra
na correria e no entendimento das ruas somente como lugar de passagem. Existe
um choque… Quem são esses? E quando contamos os planos, elas se encantam,
apoiam e contam experiências que tiveram quando eram crianças e fechava-se
algumas quadras para possibilitar a brincadeira de rua”.
Para Renata Minerbo Strengerowski, idealizadora do coletivo
Acupuntura Urbana, “as pessoas em algum momento esqueceram que a cidade é
delas, que podem fazer muitas coisas, curtir os espaços e equipamentos
públicos, e que isso pode ser legal. Aliás, precisa ser legal, porque se forem
convidadas a participar de algo chato e cansativo, dificilmente conseguiremos
atingir os objetivos”.
Tanto para Letícia quanto para Renata, o fato de a ocupação
acontecer em um dos pontos mais importante e conhecido da cidade trás força
para o movimento. “O que mais inspira as pessoas é o exemplo, não o discurso.
Temos que agir e mostrar na prática como pode ser divertido e como é importante
pensarmos na cidade”, explica Renata.
Arte na Paulista
A fala de Renata ganha concretude a cada domingo. O
movimento cresce e ganha adeptos semanalmente. Pessoas, moradores e coletivos
como o Mobilize Brasil, Acupuntura Urbana, Aromeiazero, Atados, Bela Rua, Bike
Anjo, Boa Praça, Café na Rua, Cidade Ativa, Cidade Democrática, Corrida Amiga,
Conexão Cultural, Rodas de leitura, Imargem, Instituto Saúde e
Sustentabilidade, Instituto Mobilidade Verde, Movimento 90 Graus, Virada
Sustentável, Walking Gallery, dentre outros, já engrossam o coro.
A simpatia e apoio ao movimento pode ser feito também nas
vias digitais. Qualquer um pode querer e exigir que a Paulista seja nossa.
Letícia, com o apoio da plataforma de mobilização aberta e autônoma Minha
Sampa, desenvolveu uma campanha onde qualquer pessoa pode pressionar, via a
ferramenta Panela de Pressão, o prefeito Fernando Haddad e o secretário
municipal de transportes Jilmar Tatto. A ideia é fazer com o poder executivo
municipal atenda ao pedido de fechamento da Paulista aos domingos, das 7 às
16h. É só clicar aqui.
E se as ruas são para dançar, como propõe (e faz!) o
festival Baixo Centro desde 2012, fica a possibilidade: e se… as ruas fossem
(todas) nossas? Elas são!
Programação:
– Tendas para relaxar e cadeiras de praia- Conexão Cultural,
Café na Rua e Acupuntura Urbana
– Rodas de Leitura – Rodas de Leitura
– DJ – Chico Tchello
– Cordas e Bambolês para brincar
– SampaPé! e Minha Sampa
– Bolhas de Sabão Gigante- SampaPé
– Amarelinha na Calçada – Minha Sampa
E se a Paulista fosse nossa?
Data: 21/9 (domingo)
Horário: das 10h às 18h
Ponto de encontro: Na frente do casarão Franco de Melo, na
Av. Paulista, 1919.
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