Sebastião Pinheiro*
Cansado da leitura de “Poison Spring” de E. G. Vallianatos, em busca de notícias liguei a TV. A opção mais sadia aos animadores de ocorrências policiais (Datena e Marcelo Resende) era o “Chaves”. Foi quando, por casualidade, topei com o segundo debate entre os candidatos. Madonna Acheropita: “Briga de Bugio nada, aquilo era contenda de gorilas com cólera.
Nas salas, seguramente as vovós, constrangidas e recatadas, pensaram: “deprimente”; os adultos: “indignante”; os jovens: “ultrajante”; e as crianças, “ingênuas torcedoras”, acolheram um ou outro como o vencedor de sua simpatia.
Nisso fomos transformados todos pelos marqueteiros de um e outro lado, pois é o modelo de debate dos meios de comunicações do império e não disputa eleitoral de representação e exercício de poder.
Sim, é um “Fla-Flu”, “Gre-nal”, “Ba-Vi”, no seio da nação para que os mais humildes não superem a situação de ingenuidade infantil e decidam destino e sociedade com ódio e rancor medieval.
Ficaram de lado os programas, propostas ou até as análises críticas de incompatibilidade entre discurso e ação. A formatação imposta pela mídia é de pergunta de um minuto, resposta de outro e treplica de outro o que impede um debate condizente com o nível de responsabilidade e necessidade facilitando agressões e baixo nível.
A nova Ordem Econômica formatada na Rodada Uruguai legou a OMC e o imperialismo começou a transformar-se em Império.
No império não há impedimentos à: liberdade, religião, ideologia, raça, comportamentos ou outros, pois ele não é disciplinador - como foi o imperialismo, que usava Fome, Ditadura, Segurança (Ideológica) do Estado Nacional, raça e outros como seus instrumentos de desenvolvimento identificados com o modernismo. Por exemplo, não foi permitido eleger Salvador Allende democraticamente em 1971, hoje é trivial eleger Chávez, Morales, Mujica, Bachelet na nova Ordem, pois o império é, apenas, controlador – sem lugar para as ferramentas multilaterais ou das elites nacionais.
Contudo, a mudança de imperialismo para império não é por passe de mágica, logo há circunstancias que precisam de tempo para ser removidas ou superadas, pois o império é pós-moderno, calcado na biopolítica e biopoder o que não é nada fácil entre populações que vivem desde o Século XI até o Século XXI em um mesmo tempo sideral, por exemplo, estudiosos alemães dizem que a justiça brasileira é muito parecida à justiça alemã antes da adoção do direito romano.
No inicio da OMC nós já éramos a 9º economia e tínhamos um IDH de 0,443, para a implantação do império foi determinado através de créditos a adoção de medidas pós-imperialismo de conteúdo social (Bolsas Sociais, Um milhão de cisternas etc.). O assustador é que não se fez uma leitura da proliferação de ONGs (OSCIPs) sustentadas por dinheiro de “benemerência” de um lado diminuindo e enfraquecendo o Estado e de outro “virtualizando” a economia dos países industriais.
Passados vinte anos, somos a 7ª economia do Império, onde mais de um quarto da população sobrevive de “Bolsas Sociais, mas continuamos ocupando a 112ª posição em Saneamento Básico e 79ª em Índice de Desenvolvimento Humano de 0,749, ocupamos o decepcionante 8º lugar na América Latina e Caribe. E para arrematar somos o primeiro consumidor de agrotóxicos do mundo, desde 2004, atrás dos Estados Unidos que possui uma agricultura três vezes maior que a nossa o que é uma execração mundial.
Depois de vinte anos, há um processo racial de eugenia descarado onde morrem mais jovens assassinados que em qualquer guerra declarada. A construção de presídios superou em muito a construção de escolas e hospitais.
Falta muito para chegarmos a “súditos do império”, ainda estamos patinando na realidade do imperialismo, todos como torcedores, acólitos ou “estipendiados” (do latim Stipendium) sem geração intelectual decente, posse e alteridade cidadã.
Envergonhado, assisti a uma farsa e não um debate de postulantes presidenciais, apenas a escolha do “capitão de mato da Casa Grande” em guerra de bugios.
O verdadeiramente importante, reitero, é que o voto sufragado foi resposta linear à medida social determinada pelo império, mantendo o status imperialista, e não em nova biopolítica do império. Caricato é que tanto de um lado como de outro propale a necessidade de “mudança”. Nesse ponto, sinceramente, ambos têm razão.
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*Engenheiro Agrônomo e Florestal, ambientalista e escritor
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